Entrevista | 18-05-2016 23:50

Um emprego de sonho é aquele onde nos sentimos bem no dia-a-dia

Um emprego de sonho é aquele onde nos sentimos bem no dia-a-dia
IDENTIDADE PROFISSIONAL

Osvaldo Pires é dirigente associativo de Alhandra e um homem de dezenas de ofícios. Nasceu em Luanda mas veio para Portugal com os pais quando tinha cinco anos. É um homem incapaz de estar parado que gosta de viver e experimentar tudo quanto a vida tem para oferecer.

Osvaldo Pires, 45 anos, é um homem sem medo do trabalho que já teve várias profissões e acredita que o emprego de sonho é aquele onde a pessoa se sente melhor. Quando era miúdo queria ser bombeiro, piloto de aviões e motorista de camiões. Ainda não concretizou nenhum desses sonhos mas ganhou outros onde se diz bastante realizado.
“O emprego de sonho é feito dia-a-dia naquilo onde nos sentimos bem. E hoje sinto-me bem onde estou. Quando não estiver bem vou procurar outra coisa porque sei que tenho capacidade para isso. Ainda não experimentei estar numa caixa de supermercado, mas não me caem os parentes na lama por fazer um trabalho que as pessoas consideram menor. São trabalhos honestos e dão dinheiro. Numa empresa fazemos parte de uma equipa e só assim faz sentido. Todos têm de trabalhar para um bem comum. E é a trabalhar pelo bem comum que as coisas têm graça”, conta a O MIRANTE.
Osvaldo Pires é chefe de agrupamento adjunto dos Escuteiros de Alhandra e integra também a direcção dos bombeiros voluntários. Mas já passou pelas associações de estudantes e associações de pais daquela freguesia. “O associativismo não é uma doença, é uma vontade de querer fazer algo de bom pelos outros. Queremos fazer algo pela terra”, conta. Para o dirigente associativo, a honestidade é um valor fundamental no mundo do trabalho e dos negócios.
Natural de Luanda, Angola, veio para Portugal aos cinco anos depois do 25 de Abril, com os pais. Como o país estava mergulhado no caos a família viajou para o Brasil, onde montaram uma estação de serviço com bombas de gasolina mas Osvaldo acabou por regressar a Portugal, novamente com os pais, poucos anos depois. “Considero-me uma pessoa extremamente rica, já estive a morar em três continentes diferentes e falo desde mirandês, ao português do Brasil e ao português do norte de Angola. Sou um bilingue cultural”, diz com um sorriso.
Desde muito novo que nunca foi pessoa de estar parada. Nas férias da escola começou a trabalhar para uma tipografia e fazia recados. Nas férias grandes ainda trabalhou na construção civil, na área dos isolamentos. “A minha praxe foi pendurarem-me num 15º andar, do lado de fora do prédio, a fazer aquilo. Foi giro mas assustador. Aprendi que o medo é controlável e que é ele que muitas vezes nos impede de fazer grandes asneiras. Mas nunca fui homem de grandes medos”, conta.
Trabalhou nos censos de 1991 e ganhou “uma pipa de massa” que gastou parcialmente a acampar. “Já fiz duas voltas a Portugal de mochila às costas, apanhava autocarros em que me ofereciam a viagem. Eram tempos fantásticos”, recorda. Passou pelos fuzileiros, pela Molin como técnico de manutenção de material de desenho e depois mudou para o ramo alimentar, vendendo puré em pó com leite.
“Não tem nada a ver com o que hoje se vende aí em flocos, eu vendia em pó e com leite, tinha um sabor muito semelhante ao caseiro. Vendeu-se bastante e eu representava a marca a nível nacional”, recorda.
No ramo alimentar passou para a Knorr, vendendo também no ramo da restauração colectiva. Quando saiu já liderava 25 contas nacionais e uma facturação em food service superior a um milhão de euros. Dali pulou para a McCain, foi importador de marisco, padeiro, agente imobiliário e mediador de seguros. Hoje está ligado a uma empresa do sector da higiene.
“Gostava de ter tido feito tudo isto até aos 30, assim podia escolher o que realmente queria fazer da vida. Ainda não parei, gostei de tudo o que fiz e acho que toda a gente devia ter a polivalência de ir para mais empregos e não se ficar apenas pelo mesmo trabalho a vida toda. Não me posso fechar no que estudei. Estudei engenharia electrotécnica e agora vendo batatas. E depois? Hoje em dia as pessoas fecham-se, dizem não ter emprego na sua área. As coisas evoluem, não tenho de me fechar naquilo que estudei, devo aproveitar o que estudei para catapultar-me para outra área onde possa ser útil”, conclui.

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