Entrevista | 05-04-2017 16:23

A autarca com voz de fadista e o cantor retro vintage que foi mister MarkTing em Macau

Conversa entre Inês Barroso, vereadora da câmara de Santarém e Marco António dos Lucky Duckies.

O vocalista dos The Lucky Duckies, Marco António, ou está a cantar ou está a promover a banda que fundou há trinta anos. Quando chegou a O MIRANTE já trazia na mão para oferecer o último CD e DVD que se chama”Patinhos Sortudos - Na língua de Camões”. A vereadora do desporto da Câmara Municipal de Santarém, Inês Barroso, falou do seu tempo de basquetebolista e no final da conversa aceitou o desafio de cantar o fado “Nem às paredes confesso”, ‘a capella’ e em dueto com o seu companheiro dos “duetos improvisados”.

É praticamente impossível conseguir que Marco António páre de falar dos The Lucky Duckies, a banda retro vintage que fundou há trinta anos. Por vezes parece que isso vai acontecer mas é falso alarme. Mesmo quando fala do tempo em que cumpriu o serviço militar, por exemplo, ou do seu percurso académico, ele consegue encontrar um desvio para os The Lucky Duckies, os tais (Patinhos Sortudos - Na Língua de Camões).
“Eu sou um empresário selfmade man. Quando fui a Macau até adoptei o nome Ting. Eu dizia: My name is Ting. MarkTing!”, conta, como entrada para uma história que vai acabar...já se sabe onde. “Conheci lá um empresário que fabricava pianos digitais de cauda de marca branca, parecidos com os Baby Grand da Yamaha, que custavam 6.500 euros. Ele vendia-os a mil euros e eu comprei-lhe um contentor com dez que mandei vir para Portugal”.
Marco António meteu os pianos num armazém e começou a ver o que fazer com eles. E o seu lado de Mister MarkTing arranjou solução. “Propunha um preço para um concerto e dizia que no final oferecíamos o piano que estávamos a utilizar. Em Santarém, por exemplo, fizemos dois concertos em poucos meses, porque o presidente da câmara de então ofereceu o primeiro piano ao Conservatório e queria mais um para disponibilizar a artistas que vinham actuar à cidade e que pediam um piano”, conta.

“Em criança eu cantava no coro da Igreja Evangélica que a minha mãe frequentava mas fui ‘excomungado’ aos 14 anos porque só queria andar atrás das miúdas e a minha mãe dizia que era um comportamento pouco recomendável” Marco António

Inês Barroso sempre gostou de desporto. Em pequena, quando morava em Ponte de Sôr, jogava futebol com os rapazes porque não havia equipas femininas. Quando se mudou com a família para o Entroncamento, onde fez o 10º, 11º e 12º anos, começou a jogar basquetebol. Primeiro no Desporto Escolar e a seguir como atleta federada, na Chamusca e em Santarém.
“Em Ponte de Sôr andava sempre toda esfolada. Na rua chamavam-me Necas. Eu usava cabelo curto, calções, ténis. Andava de bicicleta e participava em tudo o que fosse para rapazes”, explica.
Foi com naturalidade que foi tirar um curso de desporto no Instituto Superior de Educação Física que agora é a Faculdade de Motricidade Humana. E manteve a ligação ao basquetebol, apenas com o intervalo de um ano em que, por influência do colega de turma Paulo Frischknecht, que na altura era treinador de Pólo Aquático no Sport Algés e Dafundo, experimentou aquela modalidade. Não gostou e voltou ao basquetebol e tirou todos os níveis de treinadora, mantendo a ligação à modalidade até ir para a Câmara de Santarém.

“Quando aceitei ser autarca já sabia que a minha vida pessoal iria ser afectada e que, em qualquer sítio onde fosse, o meu comportamento seria comentado. Mas isso não são problemas. Problemas têm-no as pessoas com falta de saúde ou sem comida para pôr na mesa. Isso sim, são problemas. O resto são situações para resolver” Inês Barroso

Realça as condições em que os jovens como ela se ligavam às coisas pelas quais tinham paixão. “A União de Santarém ia ter seniores masculinas e convidaram-me. Estava ainda na faculdade e tinha uma vida muito ocupada. Vinha de comboio para dar treino às iniciadas às seis e meia da tarde. Depois era o meu treino das oito às dez horas. Apanhava um comboio às dez e vinte e três para Lisboa e depois ia de autocarro para Algés e de Algés para Linda-a-Velha. Chegava a casa à uma da manhã. Hoje se um filho meu me dissesse que ia fazer a mesma coisa eu ficaria preocupada”, desabafa.
Marco António frequentava o terceiro ano do curso de Direito quando o destino lhe trocou as voltas. “Eu já tinha a banda e apareceu-me uma proposta de uma companhia de um armador grego para fazermos a temporada dos cruzeiros no Mediterrâneo. Aquilo era muito bem pago e eu não hesitei”, explica. Perdeu-se um advogado e ganhou-se um artista. A aposta foi arriscada mas ganha.
“Deus tem-me ajudado. Deu-me algum juízo e ajudou-me a manter uma banda com as características dos Lucky Duckies durante 30 anos e com ela sustentar a minha família”, refere, antes de explicar que a esposa Cláudia Faria faz a contabilidade e ajuda-o em todos os momentos.
“Infelizmente ela não pode ter filhos e então acaba por tratar de mim (risos). Uma altura alguém escreveu que o nosso casamento estava em crise porque me tinha ouvido chamar-lhe chata num café. Ela respondeu-lhe dizendo que eu me zangara porque estava em dieta e ela me estava a dizer para não comer mais bolos. E acrescentou que esperava que eu lhe continuasse a chamar chata durante muitos anos”.
No final da conversa, de improviso, aproveitando o facto dos Lucky Duckies terem gravado uma versão bilingue da canção “Nem às paredes confesso” e de Inês Barroso ter dito que costumava cantar o fado e de ter revelado ser prima da fadista Teresa Tapadas, os dois cantaram ‘a capella’. O resultado está na edição online do jornal, em www.omirante.pt, na zona dos vídeos.

Cantar o “My Way” do Sinatra no funeral do amigo Alberto da Ponte

O vocalista e fundador dos Lucky Duckies conta que era amigo do empresário Alberto da Ponte, falecido em Janeiro deste ano e que, em certas alturas em que estavam juntos, costumavam tocar e cantar a canção “My Way”, imortalizada por Frank Sinatra.
“Ele gostava muito da canção, que é um original do francês Claude François, para o qual o cantor Paul Anka escreveu a letra que Sinatra cantava, e dizia-me que queria que eu a cantasse na altura da sua ‘festa final’. Eu desviava a conversa mas ele acabava por insistir”, explica Marco António.
Foi com moderada surpresa que, depois do falecimento do ex-presidente executivo da Central de Cervejas e Bebidas e ex-presidente da RTP, Marco António recebeu um telefonema de um sobrinho do mesmo a pedir-lhe para cantar o “My Way” na cerimónia fúnebre do tio.
“Ele disse-me que o tio quando estava no hospital tinha feito o pedido três vezes e que, apesar de saber que o seu fim estava próximo, tinha ironizado e dito que se calhar até era capaz de, mesmo morto, se levantar para cantar comigo”, pormenoriza.
“Descarreguei uma versão karaoke no telemóvel, comprei na FNAC uma coluna com Bluetooth em formato de Bíblia e na cerimónia mandei o som para a coluna e cantei. Cantei sem microfone, porque a igreja de S. João de Deus, na Praça de Londres, tem boa acústica. Algumas pessoas choravam e eu também ia chorando mas cantei. Foi a vez que cantei aquela canção que fala de um homem que se despede do mundo dizendo que teve uma vida completa e que fez tudo à sua maneira, com mais sentimento”.

Um ingénuo estratagema para fintar a proibição de jogar basquetebol

Aos 16 anos Inês Barroso vivia com a família no Entroncamento, estudava na Escola Secundária e jogava basquetebol na Chamusca. Apesar de ser boa aluna houve uma altura em que teve uma negativa a Matemática, que até era a sua disciplina preferida a seguir a Desporto. O desaire escolar foi castigado por iniciativa da mãe, com a proibição de jogar basquetebol.
“Fartei-me de chorar e falei com o treinador da equipa, o José Monteiro, que era muito conivente com as minhas ideias. Eu disse-lhe que mandava o saco com o equipamento pela janela do meu quarto para a rua, dizia à minha mãe que ia dar uma volta com as amigas e ia jogar. E assim foi. Fiz isso dois fins de semana”, conta a actual vereadora do desporto da Câmara de Santarém.
O entusiasmo juvenil da jogadora impediu-a de raciocinar direito. Afinal o pai, que era bancário, trabalhava na Chamusca e acabaria por saber que a filha continuava a jogar basquetebol porque as pessoas que iam aos jogos comentavam com ele o comportamento da filha nos jogos.
“Depois do segundo jogo, o meu pai chamou-me e perguntou-me onde é que eu tinha andado naquela tarde. Ele nunca me bateu mas eu tinha-lhe um grande respeito e nem sequer pensei em mentir-lhe. Disse-lhe logo que tinha ido jogar, que pedia muita desculpa e que não voltava a acontecer. Ele largou-se a rir e comunicou-me que podia voltar a jogar sem ser às escondidas mas que qualquer outro deslize escolar significaria o adeus definitivo ao basquetebol”, conta Inês Barroso, acrescentando que a partir daquela altura ainda se aplicou mais nos estudos, não voltando a ter nenhuma negativa.

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