Entrevista | 15-05-2019 20:00

“Gosto mais de abraços do que de beijos porque sentimos sempre se são verdadeiros”

“Gosto mais de abraços do que de beijos porque sentimos sempre se são verdadeiros”
TRÊS DIMENSÕES

Goretty Ribeiro, psicóloga, directora da Gorisaúde Clínicas, em Alverca do Ribatejo.

Foi tirar a licenciatura em psicologia, aos 25 anos, já casada e com um filho. Há quatro meses abriu a sua primeira clínica, em Alverca do Ribatejo, onde trabalham nove profissionais em áreas como a cardiologia, psicologia, enfermagem, oftalmologia, psiquiatria, medicina geral e familiar e medicina desportiva. Goretty Ribeiro já venceu dois cancros e defende que nunca devemos deixar nada por dizer.

A primeira memória que tenho do 25 de Abril é de estar a tentar pôr os rolos que a minha mãe usava no cabelo. Tinha quatro anos. Lembro-me de a seguir olhar para a janela e ver as chaimites e os soldados com os cravos enfiados no cano das espingardas. A minha mãe estava aterrorizada e eu com os rolos no cabelo a querer espreitar pela janela.

Nunca é tarde para retomar os estudos. Estava no décimo primeiro ano quando decidi abandonar a escola. Aos 25 anos estava a entrar para a faculdade para o curso de psicologia. Estava casada e já tinha o meu filho mas achei que precisava de me realizar profissionalmente.

Um simples não nunca foi satisfatório para mim. Sempre tive uma curiosidade enorme sobre os comportamentos humanos. É daí que vem a minha paixão pela psicologia.
A depressão é um monstro horrível dentro das pessoas. Não escolhe idades, etnias, ou estrato social. Nalguns casos finge estar adormecida durante anos, associada a episódios antigos da nossa vida, que na altura não valorizamos. Como é algo que dói mas não se vê, as pessoas demoram a reconhecer-lhe os sintomas e só recorrem à psicologia quando já estão em estados gravíssimos. Inicialmente podem achar que estão apenas tristes ou numa má fase da vida.

Não se cura uma depressão, aprende-se a viver com ela. É uma patologia com tendência para ser reincidente e que precisa, por isso, de um tratamento contínuo. Não se trata sozinha ou apenas com recurso à psicologia. Requer apoio da psiquiatria e de medicação.

A minha irmã é a minha melhor amiga. Temos uma ligação muito forte e desde miúdas que nos apoiamos uma à outra. Quando saíamos à noite e ela queria namoriscar às escondidas do nosso pai eu encobria-a.

O que me dá mais prazer na vida é estar onde quero e com quem quero. Gosto de juntar a família e os amigos em casa numa almoçarada sem horas, nem tabus. Num convívio em que se perde o tempo e se ganha a partilha de estarmos uns com os outros.

Já morei numa barraca, hoje moro num palácio. Vivia em Lisboa com os meus pais e a minha irmã. Da barraca os meus pais conseguiram mudar-se para uma casa, mas como não ganhavam para a renda tivemos de arrendar quartos. Foram tempos em que aprendi que, se lutarmos, podemos conseguir melhores condições de vida.

As redes sociais, quando usadas em exagero fazem as pessoas perder a sua identidade e privacidade. São fonte de doença, onde as pessoas tentam ser aquilo que idealizam ser e não aquilo que realmente são.

Sou uma aficionada sem problemas em admiti-lo. Identifico-me com as tradições taurinas e com as gentes do concelho de Vila Franca de Xira. Também gosto de caminhar de Alhandra a Vila Franca junto ao rio Tejo e de frequentar as esplanadas de Alverca.

Enfrentei dois cancros mas nunca acreditei que era a minha hora de morrer. O primeiro foi aos 28 anos e o segundo o ano passado. Não posso dizer que foram as mais duras batalhas da minha vida. Sempre pensei que tinha ainda muitos sonhos para concretizar.

Nós somos do mundo, não somos de ninguém. Sou apegada à minha família mas não deixo de ser quem sou por causa dela. Luto pelos objectivos que desenho para mim e não deixo que o medo me iniba de os alcançar.
Gosto de viajar, de comer e de ler. O livro da minha vida é “As Palavras que Nunca te Direi” de Nicholas Sparks. Uma história de amor que termina de forma trágica porque a vida nos prega partidas. Aquele livro ensinou-me que não devemos deixar nada por dizer a ninguém.

Não se vai ao psicólogo porque se está maluco. Já se pensou isso mas é uma ideia errada que felizmente tem vindo a decair.

A crise esteve na base do decréscimo da saúde mental dos portugueses. Veio tirar muita qualidade de vida às pessoas e isso mexeu com elas emocionalmente. Foi um despertar de quadros de ansiedade, depressões e episódios de pânico. A sociedade não está saudável, ainda luta com problemas do foro emocional.

Mais vale um não verdadeiro do que um sim falso. Detesto que me mintam. Cativa-me a humildade e a honestidade numa pessoa. Sou honesta comigo mesma acima de tudo. Sou teimosa e não gosto de ser contrariada.

Devemos dizer que amamos alguém sem orgulho nem pudor. Se é o que sentimos tem de ser dito. Se vai durar logo se vê. Despeço-me da minha mãe a dizer amo-te muito e ao meu filho digo-lhe que o amo mais do que a própria vida. Gosto mais de abraços do que de beijos porque sentimos sempre se são verdadeiros.

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