Entrevista | 06-08-2019 15:00

Os pedreiros são tão escassos que já ganham mais que muitos engenheiros

Os pedreiros são tão escassos que já ganham mais que muitos engenheiros
IDENTIDADE PROFISSIONAL

Luís Sanches é proprietário da empresa de construção Luís M.R. Sanches na Póvoa de Santa Iria.

Começou a trabalhar aos nove anos numa oficina de mecânica e com 16 já era encarregado na construção civil. Luís Sanches é natural de Moscavide mas foi no concelho de Vila Franca de Xira, onde reside há quatro décadas, que estabeleceu a sua empresa de construção quando tinha apenas 18 anos.

O sector da construção civil sofre com a falta de mão-de-obra e excesso de burocracia. A perspectiva é de Luís Sanches, 58 anos, proprietário da empresa de construção Luís M. R. Sanches, na Póvoa de Santa Iria. Natural de Moscavide, mudou-se há 40 anos para o Forte da Casa, concelho de Vila Franca de Xira, onde cumpriu o sonho de fundar a sua própria empresa na área da construção.

A escassez de mão-de-obra que queira trabalhar nas obras começou a sentir-se no início da década de 90 e tem vindo a intensificar-se desde então. “Queremos um pedreiro e não existe. Já não há quem queira aprender estas profissões ou porque acham que é trabalho duro ou porque os próprios pais os desincentivam”, refere.

Já engenheiros não faltam. Aceita que quem tem possibilidade deve prosseguir os estudos mas lamenta que em Portugal quem sabe fazer cálculos não agarre num balde de massa nem calce as botas. E assegura: “Actualmente os pedreiros, por exemplo, são tão escassos que já ganham mais que muitos engenheiros”.

Em momento algum se arrependeu da vida que escolheu e das decisões que tomou a nível profissional. Queixa-se é da burocracia associada ao ramo. “Chega a demorar mais conseguir um projecto aprovado do que a realização da obra. São milhares de euros que vão para o lixo sempre que o projecto vem para trás, porque há uma vírgula fora do sítio”, lamenta, vincando que esta profissão é um desafio constante.

Começar a trabalhar aos nove anos

Luís Sanches começou a trabalhar assim que largou os livros aos nove anos. Trabalhava numa oficina de mecânica e ajudava o pai na horta, contrariado, enquanto pensava nas brincadeiras que não tinha tempo de pôr em prática com os da sua idade. “De tantas vezes que fui obrigado a pegar na enxada ganhei trauma a hortas. Hoje tenho uma no quintal, mas recuso-me a cuidar dela”, confessa.

Já em tenra idade almejava trabalhar na construção civil. Embora consciente da dureza da profissão, associava-a a um ofício livre, longe dos escritórios onde ainda hoje se sente enclausurado, sempre que entra num. Retomou os estudos mais tarde e concluiu um curso profissional ligado à construção. Sem possibilidade de prosseguir os estudos foi trabalhar para a Abrantina, uma empresa de construção de Abrantes. “Foi aí que aprendi tudo. Aos 16 anos já era encarregado de meia centena de homens mais velhos e responsável por uma obra de 714 fogos”, lembra o empresário.

Casou com 18 anos, numa prova de amor que acabou por livrá-lo de cumprir o serviço militar. “Safei-me de boa. As fardas não são para mim”, atira. Casado de fresco, dormia num colchão que assentava diretamente no chão do quarto até haver dinheiro para comprar uma cama. “Quem não tem nada ou se acomoda ou aspira a ter algo mais, que foi o meu caso. Venho de uma família com parcos recursos económicos e por isso orgulho-me ainda mais de tudo o que construí”, diz.

“Não abandono nem viro as costas ao trabalho”

O despertador toca antes das 06h00 e daí a meia hora já está no local da obra, ao lado dos seus trabalhadores. “Não abandono nem viro as costas ao trabalho. Estou lá, como os outros, a meter a mão na massa”, afirma, acreditando que este é o motivo da sua ascensão no ramo. A crise que passou por cá teve grande impacto na construção mas já está ultrapassada, garante.

Agora, o problema é outro. Para além da falta de mãos para trabalhar, “a procura de casa nos arredores de Lisboa é tanta que nos últimos dois anos, no concelho de Vila Franca de Xira, os terrenos sofreram inflação de 400 por cento. Um terreno que valia 100 mil euros hoje compra-se por 400 mil o que faz, por sua vez, com que um apartamento de 80 mil ultrapasse os 200 mil euros”. Situação que no seu entender poderá voltar a originar uma crise. “As pessoas estão a comprar sem ter recursos para tal”, defende.

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