Entrevista | 21-09-2019 10:00

“Chorei depois de arbitrar um jogo e pedi desculpa pelo erro”

“Chorei depois de arbitrar um jogo e pedi desculpa pelo erro”
DESPORTO

Ana Brites é a nova presidente do Núcleo de Árbitros de Futebol do Ribatejo Norte.

Com 15 anos pegou pela primeira vez nos cartões amarelo e vermelho, apito no bolso e entrou no Campo de Futebol Coronel Mário Cunha, em Riachos, para arbitrar o jogo entre o Clube Atlético Riachense e o Vitória Futebol Clube Mindense nos escalões jovens. Ana Brites, natural de Torres Novas, recorda que logo aí a experiência que iniciava na arbitragem correu menos bem. “Assinalei uma grande penalidade e não sei onde tinha a cabeça, esqueci-me de apitar para dar ordem ao jogador para poder marcar. Até que ouço da bancada um ‘Oh miúda, apita!’”, recorda entre risos.

Actualmente, com 32 anos, optou por deixar os campos embora continue ligada à arbitragem, sendo observadora de árbitros que actuam nos campeonatos distritais e nas competições não profissionais da FPF. E recentemente foi eleita presidente da direcção do Núcleo de Árbitros de Futebol do Ribatejo Norte (NAFRB), sediado em Tomar. Pela primeira vez o núcleo tem uma mulher como líder.

Ana, filha do ex-árbitro Brites Lopes, continua a ir aos estádios, avalia a prestação da equipa de arbitragem, de onde no fim resulta uma nota, que tem um peso significativo para a progressão na carreira. “É um trabalho de muita responsabilidade. Agora estou do lado de fora a avaliar o trabalho de ex-colegas. Um trabalho por onde já passei e sei bem o quão difícil é”, diz.

Ao recordar os tempos de árbitra saltam-lhe à memória diversos episódios caricatos. Desde esquecer-se do apito no balneário, ter de sair debaixo de escolta policial de um estádio, porque a assistência estava furiosa, ou cometer erros como assinalar faltas que não existiram, de tudo um pouco aconteceu à torrejana Ana Brites, entre 2002 a 2011, anos em que exerceu funções de árbitra.

A jovem apitou em campeonatos não profissionais da FPF e distritais. Experiências internacionais também constam no seu currículo, como árbitra assistente num torneio de apuramento para o campeonato europeu de futebol feminino de sub-17 e de um torneio da Liga dos Campeões, na Alemanha.

Os jogadores eram respeitosos e não diziam tantas asneiras

Ana conta que nunca sofreu qualquer tipo de discriminação. Muito pelo contrário. “Comecei numa altura em que ainda era raro haver mulheres a apitar jogos e nunca tive um episódio de discriminação. Claro que há sempre uma ou outra boca, mas nada que ouvidos moucos não deixem passar”, conta.

Durante os jogos, a única diferença que existia ao nível de género era o desgaste físico. “Claro que apitar um jogo masculino é mais desgastante fisicamente. Mas eram muito respeitosos e até tinham algum cuidado para não dizerem tantas asneiras dentro de campo”, diz.

Alternou a carreira de árbitra com os estudos em solicitadoria e actualmente é agente de execução. Antes foi militar da Força Aérea durante sete anos. Ana diz que as 10 árbitras que actualmente integram a Associação de Futebol de Santarém (AFS) têm feito um “excelente trabalho ao desbravar este terreno onde foi difícil dar entrada às mulheres”, as coisas estão já socialmente aceites e são todas respeitadas. Mas faltam mais, tanto mulheres como homens, na arbitragem.

Em Outubro o Conselho de Arbitragem da AFS vai abrir um curso de árbitros de futebol e futsal de nível I, que a observadora espera que seja muito participado. “Um dos objectivos que a direcção do NAFRB tem é promover esta acção de recrutamento dos jovens para a arbitragem e acompanhamento no início de carreira”, afirma.

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