Entrevista | 12-02-2020 15:00

“Maioria dos moradores do Forte da Casa não conhece o presidente da junta”

“Maioria dos moradores do Forte da Casa não conhece o presidente da junta”

Raul Sanches é um rosto conhecido do Forte da Casa e foi o seu primeiro presidente de junta. Pelo seu trabalho em prol da comunidade foi agraciado em 2019 com a medalha de mérito municipal.

O actual presidente da União de Freguesias da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa, Jorge Ribeiro (PS), não tem falado o suficiente com as gentes da sua terra e há gente no Forte da Casa que nem sequer o conhece. A ideia é defendida por Raul Sanches, nome conhecido da localidade, que foi um dos primeiros moradores do Forte da Casa – quando esta ainda era uma urbanização – e que acabou por ser o primeiro presidente de junta quando o Forte da Casa foi elevado a freguesia.

“No meu executivo atendíamos a população todas as quintas-feiras à noite. Estávamos disponíveis para as pessoas falarem connosco. Isso hoje não acontece na junta de freguesia. Só atendem as pessoas em horário de expediente, o que é muito mau. É um erro do Jorge Ribeiro não lidar e não falar com as pessoas. As pessoas encontram-me a mim e ao António José Inácio nas ruas. O Jorge Ribeiro não conhecem. Esse é o problema”, lamenta.

Raul Sanches, social-democrata, 68 anos, nasceu em Lisboa mas foi morar para o Forte da Casa logo que acabou a comissão militar onde serviu. Foi bancário e esteve envolvido na primeira comissão para a construção de uma nova igreja no Forte da Casa, além de um envolvimento muito forte na política autárquica.

“Hoje não teria aceite o desafio para ser presidente de junta. Naquele tempo os problemas eram colocados frente-a-frente e hoje isso não está a acontecer. Toda a gente critica nas redes sociais e mesmo que alguém desminta a informação ninguém lê. Não me via ser presidente de uma junta, como é o Jorge Ribeiro, a ter de assistir a críticas e ataques pessoais e não poder responder”, analisa.

Eu é que sou o presidente da junta

Raul Sanches foi eleito em 1985, numa coligação PSD/PS, como primeiro presidente de junta da então recém-criada freguesia do Forte da Casa. A localidade acabara de separar-se de Vialonga, para duas décadas depois passar a ficar agregada à vizinha freguesia de Póvoa de Santa Iria. Nesta que é a sua primeira entrevista, Raul Sanches recordou a O MIRANTE os primeiros dias de trabalho na nova freguesia. “O Forte da Casa era uma urbanização e a câmara empurrava os assuntos que precisavam de resolução para o urbanizador. Não tínhamos estrutura nem instalações, trabalhadores, máquinas ou equipamentos”, lembra. Foram muitas noites de sono perdidas, recorda, para conseguir todos os dias melhorar pequenas coisas na vida da comunidade, como o aumento da quantidade de horários nos transportes públicos rodoviários, especialmente à noite.

“Temos de ser realistas. Estou convencido que se o Forte não pertencesse a Vialonga e estivesse já unido com a Póvoa, nunca teria sido uma freguesia isolada de pleno direito. Só fez sentido separar-se de Vialonga porque a distância entre uma e outra era grande”, nota.

Naquela altura não foi apenas o Forte da Casa a querer ser uma freguesia independente. Houve a ideia do Bom Sucesso ser separado de Alverca e a Quinta da Piedade sair da Póvoa. “Não tinha lógica. Globalmente a criação da união de freguesias foi um processo errado, muito por culpa do PS na assembleia municipal, que podia ter discutido as coisas de outra maneira”, critica. Apesar do crescente aumento de população da vila, ainda há infra-estruturas em falta que tardam em surgir, considera. A começar pelos parques infantis.

A adaptação da Estrada Nacional 10 em avenida urbana, com a criação de mais zonas pedonais e ciclovias, merece o elogio de Raul Sanches, dizendo que podem ser úteis, mas há pormenores do projecto com que não concorda. “As ciclovias dentro da Póvoa foram uma asneira muito grande. O projecto que estão a executar tem imensos erros. Mas a grande aberração é obrigar quem sai do viaduto de acesso à estação da Póvoa ter de ir à rotunda dos caniços. É uma ideia que está a empatar o trânsito e a gerar filas imensas. As pessoas do Forte têm uma relação de amor/ódio ao projecto. As coisas não foram bem pensadas”, lamenta.

Um autarca que passou por três freguesias

O percurso autárquico de Raul Sanches, incluindo como eleito de três assembleias de freguesia (Vialonga, Forte da Casa e Póvoa de Santa Iria), bem como na assembleia municipal, valeu-lhe em 2019 a distinção com a medalha de mérito municipal pela Câmara de Vila Franca de Xira.

Quando o PSD teve pelouros no executivo municipal, Raul Sanches foi adjunto dos vereadores Rui Rei e João de Carvalho. Elogia ambos mas não revela com quem gostou mais de trabalhar. Diz não acreditar que a culpa do PSD ainda não ter vencido a câmara assente na liderança de Rui Rei mas sim em razões sociológicas: “Éramos um concelho maioritariamente comunista e hoje é socialista. Provavelmente continuará assim. As pessoas não votam nos nomes porque não os conhecem, votam nos partidos”.

Para Raul Sanches um bom candidato do PSD às próximas eleições será Helena Pereira de Jesus, actual vereadora do executivo. “Será uma boa candidata e não vejo outro nome a perfilar-se”, sugere. Casado, com duas filhas e três netos, Raul é benfiquista e tem como viagens de sonho uma ida ao Japão e à Índia. Confessa que não é pessoa fácil de irritar. Formou-se em História e nas horas vagas deu aulas à noite a adultos num colégio da Portela. É também professor de Informática na Universidade da Terceira Idade. “A reforma cansa se não se tiver nada para fazer”, ironiza.

Vítimas de legionella nunca perdoarão a ADP

Quando aconteceu o surto de legionella no concelho de Vila Franca de Xira Raul Sanches estava, como habitualmente, na sua casa no centro da vila. Não foi atingido mas conhece bastantes amigos que apanharam a bactéria, alguns deles perdendo familiares. “Fico indignado com isto, por nunca se ter conseguido provar nada, é a justiça que temos. Quem sofreu com a legionella nunca perdoará a empresa que esteve na origem do surto. Os outros moradores não querem saber, só se lembram disso quando sai uma notícia no jornal”, lamenta.

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