Entrevista | 26-08-2020 07:00

Gustavo Pato vive um sonho sobre rodas

Gustavo Pato vive um sonho sobre rodas
REPORTAGEM COMPLETA

Nascido em Samora Correia há 19 anos calçou os primeiros patins aos três e soma já vários títulos nacionais e internacionais.

Entre uma época no Sport Lisboa e Benfica e uma pandemia muito mudou na vida de Gustavo Pato. Perdeu o pai, mudou de clube, trocou de faculdade e está a dias de deixar Samora Correia, cidade onde vive desde sempre. O que não mudou foi a vontade de continuar a trabalhar com o objectivo de se tornar um nome de referência do hóquei patins em Portugal.

Numa conversa que aconteceu no campo do Esteveiro, em Samora Correia, na presença da mãe e da namorada, o hoquista que, com 19 anos, já foi campeão europeu nos escalões jovens em 2017, campeão nacional pelo Sporting e distrital pelo Benfica e conquistou um terceiro lugar no mundial em 2019, fala da família, do percurso e dos objectivos que acarretam sempre sacrifícios. Para Gustavo Pato, o maior de todos é “ficar longe da família”. Mas para pôr os patins em andamento, “cada sacrifício vale a pena porque no fim, se houver trabalho há sempre a recompensa”, afirma.

Em campo o sangue ferve-lhe nas veias. “É o querer conquistar, vencer tudo o que há para vencer enquanto hoquista sénior”, diz. Depois, entre risos e de olhos postos na mãe, admite que em casa é tudo o que não é em campo: “Preguiçoso”. Para a vida tem um lema, que lhe foi repetido pelo pai vezes sem conta. “Querer é poder. Mas querer por si só não basta é preciso fazer acontecer”, diz, acrescentando que tenta segui-lo à risca.

“O meu pai era o meu maior crítico e aquilo a que se chama treinador de bancada. Não era como os outros pais que olham para os filhos como estrelas. Isso fez-me crescer e ajudou-me a manter os pés assentes na terra”, diz o jovem, recordando as horas que passavam a ver as gravações dos seus jogos, captadas pela mãe.

Patins vão rodar a norte na próxima época

Não há dúvidas que os pés vão continuar assentes nos patins, mas a terra em que vão rodar vai ser outra. O Riba d’Ave Hóquei Clube, de Riba de Ave, concelho de Famalicão, foi entre meia dúzia de propostas a escolhida para iniciar a sua jornada enquanto hoquista sénior, depois de uma passagem de um ano pelo Benfica. “Sabia que não podia ficar. É raro um jogador começar esta etapa num grande clube e o Riba d’Ave vai ser bom para eu crescer”, diz.

Enquanto fala vai trocando olhares com a namorada que vai continuar a viver em Coruche, a mais de 300 quilómetros de distância daquela que vai ser a nova morada de Gustavo. “Vou ganhar 400 euros e 200 vão para a renda da casa. Não é bem um salário”, diz, consciente de que “no desporto há uma divisão financeira muito mal feita” e que “para se ganhar milhões tem de se ir para o futebol”.

Chegou a tentar esse caminho. Tinha seis anos e “dois pés esquerdos” quando o inscreveram no Grupo Desportivo de Samora Correia. Chutou a bola durante um mês até trocar as chuteiras por patins. Rumou à cidade vizinha de Vila Franca de Xira para jogar hóquei no Vilafranquense, mas não passou da patinagem. “No ano seguinte já não tinham equipa”, conta.

Na creche de patins em linha e 10 anos de Sporting

Teve a sorte, diz, de os pais não desistirem dele. Foram aliás, eles que o fizeram descobrir o gosto pela modalidade, quando aos três anos lhe ofereceram uns patins em linha que levava na mochila para a creche. A brincar aprendeu a manter o equilíbrio que soube demonstrar no primeiro dia que pisou o rinque do Sporting, “o clube do coração”, onde jogou dez anos e onde pôs o seu percurso em linha. “Era isto que queria, não era o futebol, nem mais desporto nenhum”, diz.

As conquistas e o empenho com que treina para apurar a técnica levam-no a acreditar que pode ir mais longe. Em território nacional aponta os três grandes (SCP, SLB e FCP) como preferências e Barcelona, em Espanha, como o sonho maior. Continuar a vestir a camisola das quinas e a sentir “a emoção de representar o país” é outro desejo na lista.

A nova época começou a 17 de Agosto, com a camisola do Riba d’Ave, clube que joga na 1ª divisão nacional. Em simultâneo vai continuar a estudar solicitadoria, profissão da mãe que escolheu para “plano B”, caso o hóquei não lhe garanta um emprego para a vida. “Mas prefiro não pensar nisso. Os meus olhos vão estar sempre postos no hóquei”, remata.

O sonho de levar o hóquei para Samora

Entrou para a escola primária quase ao mesmo tempo que entrou para o Sporting. Aprendeu a escrever na cidade ribatejana e a usar o stick na capital, entre viagens demoradas para que pudesse seguir o sonho que não tinha lugar no sítio onde nasceu. Tem, por isso, a vontade de um dia fundar um clube de hóquei patins em Samora Correia, para que outras crianças e jovens não tenham de sair da sua terra para praticar a modalidade. “Penso nisso para um futuro que ainda é distante. Samora era o melhor sítio para terminar uma carreira de sonho que espero vir a ter”, diz.

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