Entrevista | 03-10-2020 18:00

De professor a cineasta premiado em festival mundial

De professor a cineasta premiado em festival mundial
TÃO LONGE E AQUI TÃO PERTO
foto DR

Nunca pensou ser cineasta até iniciar o mestrado em Comunicação e Multimédia. Os primeiros exercícios transformaram-se nos seus primeiros filmes. Nuno Escudeiro, 34 anos, é natural de Tomar e vive em Itália, embora passe algumas temporadas em França e na Irlanda.

Em 2019, com o seu mais recente filme, “The Valley”, venceu na categoria “Realizador Internacional Emergente”, no Festival Hot Docs, no Canadá, o maior festival de cinema documental do mundo. Não pensa voltar a viver em Portugal tão cedo mas sente a falta das cores e dos cheiros da sua terra.

Em criança Nuno Escudeiro sonhava ser cientista mas a sua vida profissional mudou quando começou a frequentar o Mestrado em Comunicação e Multimédia na Universidade de Aveiro. Natural de Tomar, licenciou-se em Ensino de Electrónica e Informática, na mesma universidade. Depois trabalhou cerca de dois anos como professor do ensino profissional até que iniciou o mestrado. Os primeiros exercícios de mestrado transformaram-se nos seus primeiros filmes. “Ainda muito verdes e sem grande qualidade”, admite. A partir daí as coisas começaram a acontecer.

A sua primeira grande experiência na área da realização foi na Academia RTP. Levou anos a aperfeiçoar o seu trabalho e a perceber como se fazem bons filmes no mundo do cinema. O grande salto qualitativo deu-se após ter estudado três anos na Escola de Cinema Zelig, em Bolzano, no norte de Itália, onde se formou em realização. Na adolescência não sabia sequer que se podia estudar cinema, por isso seguiu a via do ensino até descobrir a sua paixão.

Para além de cinema Nuno Escudeiro, de 34 anos, está envolvido em vários projectos artísticos de arte comunitária e intervenção em espaço público e peças de teatro. Com o seu mais recente documentário, intitulado “The Valley”, o cineasta foi considerado o “Realizador Internacional Emergente”, no Festival Hot Docs, no Canadá, o maior festival de cinema documental do mundo.

O documentário retrata a solidariedade dos habitantes do Vale de Roya, em França, que decidem acolher e ajudar os migrantes que tentam atravessar a fronteira franco-italiana. A obra passou em televisões de França e Alemanha e por festivais de todo o mundo. Também foi premiado em Itália e França. Passou na Organização das Nações Unidas e, em breve, será visto no Parlamento Europeu.

Um filme sobre Tomar

Nuno saiu de Portugal em 2012 e considera-se um dos filhos da ‘Geração Troika’. “A crise que vivemos mudou tudo. Ouvi imensos jovens da minha idade dizerem que como não tinham emprego iam arriscar fazer algo que realmente gostam. Nasceram tantos bons artistas durante a crise que Portugal atravessou... Estou certo que é algo que vai marcar para sempre as pessoas da minha idade que trabalham nas artes”, considera.

Fazer um filme que tenha as paisagens de Tomar como pano de fundo está nos planos de Nuno Escudeiro, que é um apaixonado pela sua terra. No entanto, diz que será um projecto para realizar daqui a alguns anos. “Preciso de ter vontade de trabalhar as minhas origens e ainda não é o momento certo”, diz.

Actualmente, vive em Itália mas viaja regularmente para França e Irlanda onde tem vários projectos. Em 2012 fez um estágio através do programa Erasmus e escreveu a sua tese de mestrado em Rovaniemi, no Ártico, no norte da Finlândia. Ficou lá dois anos até se mudar para Itália. Solteiro e sem filhos, não pensa regressar já a Portugal. “Não sei o que neste momento nos podemos oferecer mutuamente. Assim que descobrir algo que possa dar ao país e Portugal a mim regresso”, afirma a O MIRANTE.

Nuno Escudeiro regressa a Portugal uma a duas vezes por ano. Do que sente mais saudades é do vento quente dos dias de Verão. “A terra vermelha da minha região. A presença de um misticismo ancestral que nos liga às nossas raízes. Todos os valores que me mantêm português, ribatejano, tomarense, onde quer que esteja. Onde quer que vá vejo o mundo com um olhar que é só nosso, português. E adoro ter essas sensações sempre que regresso a casa”, conclui.

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