Entrevista | 13-07-2021 15:00

Paulo Lopes é um barqueiro dos tempos modernos

Paulo Lopes é um barqueiro dos tempos modernos
SOCIEDADE
Paulo Lopes trocou a vida de gestor de empresas para ser barqueiro no Tejo e quer devolver o rio à população

Ser barqueiro no Tejo é um orgulho para Paulo Lopes que, há quatro anos, trocou uma vida de gestor de empresas para se dedicar à exploração das águas que o viram nascer.

Natural do Arripiado, nunca esqueceu a importância que o rio teve para os seus antepassados. Poder revitalizar um pouco do importante trabalho que os barqueiros tiveram no desenvolvimento da região e devolver o rio à vida das pessoas são os grandes objectivos deste contador de histórias.

É meio da manhã e em Tancos, junto ao rio Tejo, a repórter de O MIRANTE vê aproximar-se um dos últimos barqueiros que continua a fazer travessias entre as margens do rio, auxiliando a população que não tem outra forma de se deslocar e também proporcionando passeios turísticos. Paulo Lopes, um dos responsáveis pela empresa Tritejo, vem ao leme da pequena embarcação, movida a energia solar. Uma alternativa ecológica que para este “barqueiro dos tempos modernos” é o seu contributo para tratar bem um rio que tem sido tão mal tratado.

Falar sobre o rio Tejo, o Castelo de Almourol, as terras ali próximas e toda a história que os envolve é uma das maiores paixões de Paulo Lopes, que há cerca de quatro anos deixou a vida que tinha como gestor de empresas e decidiu dedicar-se ao rio que o viu nascer.

Natural do Arripiado, concelho da Chamusca, sempre teve fortes ligações familiares àquela zona e à água que por ali corre. Hoje, aos 50 anos, sabe que deixou uma vida monetariamente confortável para ter uma vida com mais qualidade e tranquilidade.

Há muitos anos os barqueiros eram figuras de proa na vida das povoações ribeirinhas ribatejanas. Eram estes homens que movimentavam as mercadorias e transportavam gente entre as duas margens ou rio abaixo rio acima. Eram bem vistos na comunidade e tinham um trabalho considerado essencial.

Numa zona em que as cheias eram normais no Inverno, não se pode esquecer também o espírito solidário que estes homens tinham ao transportarem todos aqueles que precisavam de ir trabalhar ou de regressar às suas casas. Com as ruas alagadas os barcos eram a única forma de conseguirem chegar onde precisavam.

O panorama mudou por completo com a chegada da linha férrea e com o desenvolvimento da rede viária e da vulgarização do transporte automóvel. Os barqueiros foram desaparecendo de forma quase natural. Ainda assim, algumas pessoas continuam a depender dos barcos para fazerem a sua travessia diária, tal como acontece em Arripiado e Tancos ou em Constância, com a travessia que também continua a existir na vila.

“Não são muitas pessoas que nos procuram apenas para atravessar de uma margem para a outra. São cerca de cinco pessoas de manhã e outras cinco ao final do dia. Mas por muito poucas que sejam vale a pena prestarmos esse serviço por sabermos que tanta falta lhes faz”, conta Paulo Lopes.
É por isso que todos os dias às 07h15 da manhã e às 17h45, durante todo o ano, uma embarcação da Tritejo espera nas margens em Tancos e no Arripiado aqueles que precisam de ir trabalhar ou que regressam a casa. A passagem tem o valor de 50 cêntimos, mas Paulo sabe que não é esse valor que faz o seu dia e, por isso, assume que algumas pessoas nem pagam nada pela viagem.

Quem o vê por ali, a navegar nas águas do Tejo, trata-o por barqueiro, denominação que garante orgulhá-lo, apesar de saber que nunca mais será possível revitalizar o serviço que esses homens faziam uma vez que já não tem o mesmo peso na sociedade.

Homem claramente feliz com a vida que leva, Paulo Lopes confessa entristecê-lo o facto de as pessoas já não sentirem carinho pelo Tejo. Por isso, um dos seus objectivos é devolver o rio à vida das pessoas. “É difícil, mas temos de acreditar”. Garante que o seu trabalho não é nada solitário e que é capaz de ser um autêntico “camaleão” adaptando-se a cada situação e cada pessoa que entra no seu barco.

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