Entrevista | 20-07-2021 15:00

Dificuldade em perdoar faz aumentar divórcios

Dificuldade em perdoar faz aumentar divórcios
SOCIEDADE
Algum tempo depois do fim de um namoro Bruno Filipe foi para o Seminário de Santarém e, aos 28 anos, vai ser ordenado padre em breve

Estudou música na universidade, teve namorada e foi professor de música na Filarmónica Gualdim Pais, de Tomar. Aos 22 anos decidiu mudar de rumo e entrar para o seminário. Bruno Filipe tem 28 anos e vai ser ordenado padre a 18 de Julho.

Bruno Filipe deixou a catequese na adolescência, não era muito ligado à vida cristã e questionava a existência de Deus. Aos 20 anos estudava Música na Universidade de Aveiro quando um tio, de quem era muito próximo, faleceu. Foram as palavras do padre nas cerimónias fúnebres do tio que começaram a mudar a sua vida. “Ele disse: ‘Vejam como este homem era bom, a quantidade de gente que aqui vem agradecer-lhe a vida’. Comecei a pensar se eu também era bom e se a minha vida estava a ir pelo caminho certo”, explica o jovem, de 28 anos, que vai ser ordenado padre no domingo, 18 de Julho.

Bruno Filipe nasceu em Castelo Branco mas vive em Tomar desde os quatro anos. Aos oito anos seguiu os passos da irmã mais velha e já frequentava a Sociedade Filarmónica Gualdim Pais, onde tocava instrumentos de percussão. Teve a sua primeira namorada aos 18 anos quando já frequentava a universidade. Foi ela quem o incentivou a regressar à catequese. Passou a frequentar a missa com regularidade, fez o crisma e sentia-se cada vez melhor na igreja.

A sua mãe incentivava-o. Fez parte de grupos da Pastoral Juvenil. Foi durante um desses encontros que um jovem lhe perguntou se ele já tinha pensado ser padre. Bruno Filipe não respondeu logo mas começou a pensar no assunto. A relação com a namorada já tinha terminado quando começou a questionar-se sobre o sentido da vida. “A vida tem um propósito e comecei a perceber que aquele poderia ser o propósito da minha vida”, explica a O MIRANTE.

Até entrar no Seminário de Santarém demorou algum tempo. Era professor de música na Gualdim Pais e só depois de terminar o curso de Música é que se tornou seminarista. Tinha 22 anos. Os amigos da música ficaram perplexos enquanto os dos encontros cristãos ficaram felizes. A mãe aceitou muito bem a sua decisão mas o pai já se mostrou mais relutante. “Ao início a ideia não lhe agradou porque eu já tinha um percurso de vida começado na música e os pais vão sonhando com o futuro dos filhos. Hoje já aceita e apoia a minha decisão com entusiasmo”, conta.

O fim do celibato não adiantaria nada

Nesta sua caminhada teve dúvidas mas garante que elas fazem parte do caminho. Nesses momentos diz que não há nada melhor que a oração para sentir que está no caminho certo. Bruno Filipe considera que ser padre implica algumas renúncias, mesmo que seja por amor a Deus.

Na sua opinião, mesmo que a hierarquia da Igreja Católica permitisse, o fim do celibato não iria ajudar a haver mais padres. “É preciso disponibilidade e se os padres fossem casados não conseguiriam dar atenção e estar comprometidos com a sua família, com a igreja e a comunidade cristã”, diz.

O jovem considera que existem cada vez mais divórcios porque as pessoas têm dificuldade em perdoar, que é algo que ajuda a crescer. “O perdão solidifica uma relação e em muitos casais há dificuldade em perdoar. Há também o problema das pessoas não saberem estar sozinhas e por isso sujeitam-se a relações onde não são felizes”, lamenta, acrescentando que a vida é construída a dois e implica cedências, o que não é fácil.

O facto de as pessoas procurarem cada vez menos a igreja deve-se, na sua opinião, ao facto de estarem muito agarradas aos bens materiais e terem uma vida cada vez mais atarefada. “A igreja leva a que pessoas pensem e, por vezes, pensar na vida custa e o caminho mais fácil é não ir à igreja”, afirma.

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