Entrevista | 21-09-2021 16:05

Açude de Abrantes custa 200 mil euros por ano só em manutenção e não resolve o problema

Açude de Abrantes custa 200 mil euros por ano só em manutenção e não resolve o problema
Mário Samora, engenheiro responsável pelo projecto do açude de Abrantes, no Tejo

Os problemas que assombram o açude de Abrantes, no rio Tejo, são explicados a O MIRANTE pelo engenheiro que projectou o equipamento, Mário Samora, especialista em hidráulica e ambiente. As deficiências estão detectadas e são simples. Complicada é uma intervenção de fundo.

Os problemas do açude de Abrantes, com as avarias e as constantes queixas sobre a escada passa-peixe, têm a ver com uma má concepção do sistema de comportas, os avultados montantes necessários para a manutenção do equipamento e uma simplificação do passa-peixes por falta de dinheiro. O projectista do açude, Mário Samora, explica que a empresa japonesa que concebeu as comportas apresentou o preço mais vantajoso para ganhar o concurso e por causa disso baixou o nível de qualidade dos parafusos.

Mário Samora, em conversa com O MIRANTE, elucida que os parafusos que unem as borrachas ao betão “não têm a qualidade suficiente” para aguentarem as vibrações provocadas pelo caudal do rio. Os parafusos desgastam-se rapidamente e partem-se. O problema é que a empresa Bridgestone já não fabrica este tipo de equipamento e as garantias da obra também já caducaram. Actualmente é uma empresa alemã que está a tentar arranjar soluções para esta obra do tempo do Governo de José Sócrates, que custou cerca de dez milhões de euros.

O engenheiro especialista em hidráulica e recursos hídricos, diz que os parafusos têm vindo a ser substituídos à medida que é possível e que para se fazer uma intervenção profunda é preciso colocar as comportas a seco, mas “secar” a zona do açude, no Tejo, custa quase tanto como substituir os parafusos. Mário Samora realça que as comportas para a idade que têm (o açude entrou em funcionamento em 2007) até estão em bom estado. “As reparações vão sendo feitas à medida que vão aparecendo os problemas porque uma intervenção de fundo é muito dispendiosa”, refere o director do Departamento de Hidráulica e Ambiente da TPF.

Mário Samora refere que os japoneses foram para lá das tolerâncias, empurrando um pouco as margens de segurança. Realça ainda que era difícil detectar na altura da construção que a qualidade do aço não era a adequada. As avarias têm-se registado no vão três, mas agora estão a aparecer também no vão dois. O projectista revela que está a ser testada uma solução, proposta pelos alemães, para não haver tanta vibração nas comportas. Até agora as comportas têm estado sempre insufladas e a água passa por cima e a ideia é baixá-las um pouco para se perceber se as vibrações diminuem.

Desinvestimento no passa-peixes

O projectista do açude de Abrantes considera que a escada passa-peixe funciona para a maioria dos peixes, mas não se consegue saber quais e quantos sobem o rio através do sistema. Mário Samora elucida que na altura, por já não haver verbas, a escada teve de ser simplificada e não foi instalado o dispositivo de observação, que permitiria contar os peixes e detectar anomalias.

Mário Samora sublinha que o sistema de observação através de câmaras serviria também para se estudarem adaptações. Uma das queixas de pescadores a montante de Abrantes é de que cada vez há menos lampreias e atribuem as culpas ao açude. O engenheiro refere que não se sabe se esta espécie consegue passar, não sendo possível observar a olho nu porque as lampreias movimentam-se em profundidade.

Manutenções de 200 mil euros só com rentabilização

O açude de Abrantes necessita de manutenções de 200 mil euros anuais, revela Mário Samora. O especialista em hidráulica salienta que o valor estava previsto na altura da concepção do projecto. Um montante que pesa bastante no orçamento da Câmara de Abrantes, que para promover uma manutenção adequada e com poucos ou nenhuns custos só tem uma hipótese: Concessionar o equipamento para uma mini-hídrica de produção de electricidade.

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