Entrevista | 05-11-2021 15:00

“É uma odisseia viver nos centros históricos”

“É uma odisseia viver nos centros históricos”
Sandra Lopes exerce arquitectura há 23 anos e é dinamizadora cultural e membro dos Urban Sketchers do Ribatejo

Entrevista com a arquitecta Sandra Lopes que voltou às origens devido à pandemia mas também às raízes familiares em Santarém. Sandra Lopes ajudou a organizar recentemente na cidade uma iniciativa que veio para ficar. A conversa foi pretexto para falarmos do que é trabalhar e viver nos centros históricos das cidades.

Sandra Lopes, 41 anos, arquitecta de profissão há duas décadas, desenvolve a sua actividade em Cascais. Por razões familiares, e da pandemia, desde há dois anos que mudou a sua residência para Santarém embora continue a trabalhar em Cascais. Sandra Lopes não quer ser só mais uma moradora do centro histórico de Santarém mas também uma dinamizadora cultural; ligada a um grupo de 'sketchers', começou por dinamizar, no dia 11 de Setembro, um workshop que reuniu sketchers de Santarém mas também de outras localidades do país

Fale-me de Santarém como arquitecta. É difícil fazer obras numa cidade com muitas casas em ruínas e com regulamentos muito exigentes até para pintar uma frontaria quanto mais para fazer obras de recuperação?

Exerço arquitetura há 23 anos. Trabalhei em várias zonas do país e isso vai-me dando uma sensibilidade para o que são as necessidades das pessoas e o cumprimento dos regulamentos. O licenciamento das obras urbanísticas é lento em todos os países, mas todos temos a expectativa que se vai resolver em um ou dois meses. Nunca é assim. Mal ou bem, os prazos são muito mais dilatados. As câmaras municipais são entidades com quem temos de trabalhar e por norma fazem-no de uma forma lenta. Fazer a análise de um projecto não é um procedimento rápido e queremos tudo para ontem. Por outro lado, há necessidades, sobretudo nos centros históricos, que não podemos ignorar. Seja pintar uma fachada, mudar uma cobertura, às vezes até fazer obras necessárias para o conforto das pessoas. Se as câmaras não conseguem agilizar os processos, em primeiro lugar perdemos investidores. Um investidor chega a Portugal e ninguém lhe sabe dizer quanto tempo é que precisa de esperar. Podia fazer um plano de investimento a 5 ou 10 anos, mas se ninguém diz quanto tempo demora ele desiste de investir num centro histórico, o que origina a degradação. Por outro lado se permitíssemos que as pessoas fizessem o que querem não tínhamos centros históricos ou estavam descaracterizados. Morar num centro histórico de uma cidade é uma odisseia. É preciso encontrar um ponto de equilíbrio entre o tempo que as coisas levam e o tempo da aprovação. Todo o processo é lento e caro. Portugal não é um país rico, daí as dificuldades serem ainda maiores. A habitação nos centros históricos por norma não é luxuosa. Isto cria problemas acrescidos. Porque é que vou gastar tanto dinheiro a recuperar uma casa se posso comprar fora do centro histórico e fico com o meu problema resolvido em um mês?

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