Teresa Ferreira: PSD precisa de novos rostos no distrito
Teresa Ferreira é candidata a vice-presidente da distrital de Santarém do PSD, numa lista alternativa à do actual líder João Moura. Sem querer personalizar as críticas, diz que o partido precisa de novos rostos e de novas ideias na região e de ser mais interventivo. Critica os profissionais da política, os aparelhos partidários e considera que o Estado castra a actividade económica.
Tem sido uma militante discreta do PSD de Santarém. Porquê aceitar agora ser candidata a vice-presidente da distrital do partido numa lista liderada por Jorge Gaspar? É verdade, sou militante do PSD, se calhar, há 30 anos. Tenho sido relativamente discreta mas participo naquilo que posso e já fiz parte, embora de forma breve, de uma comissão política concelhia. Mas nunca fui, de facto, muito activa. O Jorge Gaspar lançou-me este desafio e achei que estava na altura.
Porquê? Porque acho que a política em geral e o PSD em particular estão a atravessar um período difícil. Os resultados eleitorais do PSD demonstraram-no nas últimas duas eleições legislativas, a nível nacional e a nível do distrito de Santarém, onde, aliás, em termos percentuais tivemos votações inferiores à votação nacional. O que se pretende é o contrário.
Quer com isso dizer que João Moura não tem feito um bom trabalho como líder distrital do PSD? Não é isso que quero dizer. Há uma série de factores… E esta candidatura do Jorge Gaspar não é contra ninguém, aliás nem sei quem são as outras listas. Imagino que João Moura seja recandidato, embora essa posição ainda não tenha sido anunciada; agora o que noto, e muitas pessoas ligadas ao partido com quem vou falando, é que se tem sentido um distanciamento cada vez maior. As pessoas não se revêem no partido, estão a afastar-se, estão descrentes…
Acha que esta candidatura pode contribuir para mudar esse estado de coisas? O projecto desta candidatura é renovar o partido, que está um bocadinho fechado. O partido está muito focado naquela lógica de aparelho e pouco aberto à sociedade civil. Há pessoas fantásticas no PSD, quadros com provas dadas, vidas profissionais muito bem conseguidas, com muita capacidade de trabalho, que têm estado completamente fora e alheadas, que não se envolvem porque não vão às festas, aos comícios…
Talvez porque há uma imagem dos aparelhos partidários que não é muito favorável, que envolve o caciquismo, os sacos de votos… Exactamente. De certeza absoluta que o Jorge Gaspar não me convidou por causa do saco de votos porque eu não o tenho.
Mas pode ser um trunfo para garantir alguns votos em Santarém. Não sei se sou. O que queremos é ter oportunidade de demonstrar aquilo que pretendemos fazer e levar as pessoas a acreditar que é possível fazer diferente. É uma candidatura dirigida às bases. Tenho muitos amigos no aparelho, e continuarei a ter, mas é preciso chamar outras pessoas, renovar. O PSD sempre foi um partido da classe média, reformador, de apoio à iniciativa privada, e é preciso pessoas que conheçam essa realidade, que vivam esses problemas.
João Moura não tem sido o líder distrital de que o PSD precisa? O PSD é um partido de Governo, um partido de poder, portanto não podemos ficar satisfeitos quando não passamos daqueles 20 e tal por cento. E ainda por cima inferiores à média nacional. Alguma coisa não tem corrido bem mas a responsabilidade é de todos, não é só do João Moura e da sua equipa. Porque todos somos militantes e todos temos a responsabilidade de espalhar a mensagem do partido. Todos temos falhado.
A mobilização partidária já não é o que era… A mobilização partidária falhou. Ponto! E não podemos ficar satisfeitos com os resultados que temos tido. É evidente que alguma mudança é necessário fazer.
Já percebemos que não quer fulanizar o discurso nem dizer mal do líder distrital, mas qual é a apreciação que faz do seu mandato? Os problemas são transversais a nível nacional, mas depois é preciso colocá-los à escala territorial na qual operamos e apresentar medidas e propostas para tentar resolvê-los. Tem sido uma distrital pouco interventiva. Há que ter uma posição mais interventiva a nível nacional e temos que nos focar em ajudar a resolver os problemas do distrito em várias áreas. Há mais trabalho a fazer nessa matéria.
Ao que consta, as concelhias de Santarém, Rio Maior e Ourém, as maiores do distrito, estão com João Moura. Antevê-se uma luta inglória? Não é uma luta inglória. Ninguém se disponibiliza com vontade de perder. Até porque só ganhando conseguimos demonstrar aquilo que conseguimos fazer. O nosso objectivo é ganhar e acho isso perfeitamente possível. Até já vimos em eleições nacionais que cada vez mais é possível o aparelho não dominar os militantes de base.
Acredita nisso? Acredito que isso pode acontecer aqui; que as pessoas neste momento acreditam mais em ideias, em projectos e em rostos. Quero acreditar que vamos acabar de uma vez por todas com os bandos de pessoas que vão encarneiradas votar em quem as mandam votar. Acho que as pessoas estão mais exigentes, mais críticas, que querem novos rostos e um espírito reformista. Há que haver uma renovação.
E acha que Jorge Gaspar pode ser o rosto dessa renovação? Sem dúvida nenhuma.
Jorge Gaspar não é uma pessoa muito conhecida na região. Ele não é, eu não sou… Isto é uma luta de gente que tem capacidade de trabalho. Conheço o Jorge Gaspar há alguns anos, é uma pessoa que admiro muito, culta, inteligente, com grande sentido crítico e muito atenta aquilo que o rodeia. Tem uma experiência profissional ligada quer ao sector público quer ao sector privado, o que obviamente lhe dá uma capacidade de trabalho e uma bagagem importantes. É uma pessoa muito atenta aos problemas das empresas mas também aos problemas sociais e das pessoas. Se tivermos oportunidade de explicar aquilo a que nos propomos vamos conseguir que as pessoas acreditem em nós.
Já está definida a vossa lista? Sim, já está mais ou menos definida e o Jorge Gaspar irá apresentá-la. Mas posso adiantar que temos o presidente da Câmara de Mação, Vasco Estrela, como candidato a uma das vice-presidências. É uma mais valia. Tenho uma grande admiração por ele. É presidente de câmara num território muito difícil, do interior, com todos os problemas que isso implica. Fico muito satisfeita por estar connosco.
Entretanto o PSD mudou de líder nacional. Que expectativas tem em relação ao novo presidente, Luís Montenegro? Revejo-me completamente nesta nova liderança. É um PSD mais próximo das empresas, da iniciativa privada e das pessoas. Gostava de deixar claro que tanto eu como o Jorge Gaspar estivemos com o Luís Montenegro desde a primeira vez que foi candidato à liderança do partido, em 2020. Não nos juntámos ao Luís Montenegro agora.
“Quem vive em gabinetes não sabe o que é a vida real”
Nunca pensou ser autarca? A política autárquica não a seduz? Seduzir-me é uma coisa, pois seduz, pensar ser é outra. São duas questões diferentes. Admiro muito os autarcas porque não há vida para além daquilo…
É por isso que não está disponível? É difícil conciliar essa disponibilidade com o objectivo de ter uma vida familiar e acompanhar as filhas. Quero acompanhar as minhas filhas e tenho uma vida profissional, que pretendo continuar a ter, extra política. Porque só havendo uma vida profissional extra política é que as pessoas se podem dedicar de forma livre e independente à política.
Há muita gente que tem feito o percurso contrário: começa muito cedo na política e só depois arranja uma vida profissional, muitas vezes graças à sua passagem pela política. Acho isso muito mal, por vários motivos. É preciso ter uma experiência profissional no privado para se perceber o que é a burocracia, o que é a falta de reformas do Estado, o que é a carga fiscal, como é que a máquina do Estado nos esmaga. Quem tem uma carreira profissional fora da máquina do Estado tem uma percepção completamente diferente do que é o dia-a-dia e dos problemas que é preciso resolver. Essa bagagem é extremamente importante para um político. Quem vive em gabinetes e rodeado de festas, de comícios e de jornalistas não sabe o que é a vida real. Essa é uma bagagem que temos: conhecemos os problemas do dia-a-dia.
Que outro motivo faltou apontar? A partir do momento em que fazemos da política a nossa carreira, a nossa liberdade desaparece. E esse aparelhismo de que falei atrás tem que existir para assegurar a sua sobrevivência. Com isso deixam de apoiar aquele com quem se identificam mais para apoiar aquele que tem mais hipóteses de lhes garantir algum cargo. Isso rejeito, isso para mim não é política.
Que nome lhe ocorre à cabeça quando se fala no candidato do PSD às autárquicas de 2025 em Santarém tendo em conta que o actual presidente não se pode recandidatar? Ocorre aquele que temos ouvido falar, que é o João Teixeira Leite. Mas veremos, ainda falta muito tempo. Acho que é uma matéria que deve ser muito bem estudada. O candidato do PSD terá o meu apoio, sempre, agora há muitas pessoas bem posicionadas e com capacidade de o fazer. Felizmente temos boas opções e o partido saberá tomar a melhor decisão.
O que pensa da passagem de Moita flores pela Câmara de Santarém e do escrutínio a que está a ser sujeito devido aos processos em tribunal? À justiça o que é da justiça. O tribunal dirá se efectivamente há razões para as suspeições levantadas ou não. Houve muito que ficou por fazer em Santarém e a culpa também é dele. Claro que houve coisas agradáveis, alguma cultura que não tínhamos e que deu vida à cidade, mas esta é uma capital de distrito que continua muito aquém daquilo que tenho como objectivo para a minha cidade.
O que é que tem faltado, na sua opinião? Mais empresas!
Têm sido anunciados e concretizados vários investimentos no concelho nos últimos tempos… Excelente! E é por aí que se deve ir. Uma cidade só tem pessoas se tiver postos de trabalho. Temos que fixar cá os jovens, para não continuarem a ir-se embora depois de acabarem o 12º ano.
O projecto do aeroporto podia ser estruturante nesse domínio. Seria excelente, Deus queira que sim. O que falhou em Santarém foi uma estratégia bem feita de captação de investimento. Isso o dr. Moita Flores não fez, mas cada um tem as suas prioridades.
“Recuso-me a ter uma vida dependente de nomeações políticas”
Foi empresária na área da formação e projectos e actualmente trabalha por contra de outrem. A vida de empresário não é fácil neste país? A vida de empresário é um desafio permanente e às vezes penso que é só para doidos. Regressei para a consultoria e o meu dia-a-dia é reunir com empresas, umas maiores outras mais pequenas, e os desafios que as empresas estão a passar são uma coisa inacreditável. Há problemas de formação de pessoal, há a carga fiscal, há os custos das matérias-primas e da energia e admiro muito os empresários porque têm de se reinventar todos os dias. Porque todos os dias surge um problema novo. E depois há uma carga burocrática inacreditável porque tudo se exige às empresas. Uma empresa espera meses por um parecer de um organismo público. Alguém tem noção do que isso representa?
O Estado é castrador da actividade económica? Sim e é isso que o PSD não pode aceitar. A desburocratização e a reforma do Estado são essenciais para ajudar no dia-a-dia das empresas.
Foi administradora executiva da empresa municipal Águas de Santarém, de onde saiu no final de 2020 para ingressar numa empresa privada. Fartou-se? Não me fartei, foi uma experiência fantástica, tenho muita gratidão a quem confiou em mim e acho que fiz um bom trabalho. Lutei por uma série de objectivos que, mais ou menos, conseguimos atingir. Tive sucessivas renovações de mandato e, sem dar por isso, passaram-se oito anos. E oito anos é muito tempo na minha idade. Preciso de continuar com a minha actividade privada e profissional. Às tantas a pessoa perde o contacto com o mercado de trabalho e fica profissional da política.
Haveria muita gente que se daria satisfeita em ficar nesse lugar o resto da vida. Pois haveria, mas não é o meu caso. Gostei muito de lá estar, correu tudo lindamente, mas recuso-me a ficar sujeita a ter uma vida dependente de nomeações políticas. Foi basicamente isso que motivou a minha saída.
Como é que se explica que as perdas de água em muitos municípios andem pelos 50%? É incrível. É um dos problemas maiores que temos, que agora ainda é mais grave devido à escassez de água. Há muito investimento que tem que ser feito para reduzir as perdas de água. Há as perdas reais que têm a ver com as infra-estruturas físicas, como roturas em ramais ou condutas, e há as perdas comerciais que têm a ver com o não se facturar toda a água que é consumida ou porque os contadores estão parados ou porque não são substituídos ou porque há ilícitos. Já há conhecimento suficiente neste país para se saber como ultrapassar essas questões. As perdas de água neste momento são um crime!
A NERSANT – Associação Empresarial da Região de Santarém – tem trabalhado bem na defesa dos interesses das empresas da região? É uma associação de referência e tenho um grande respeito pelo seu trabalho. Espero que continue no caminho que sempre teve.