Júlia Quadros: a professora de Tomar que levantou a plateia em dueto com Salvador Sobral
A música sempre fez parte da vida de Júlia Quadros, professora de Fisico-Química na Escola Secundária Santa Maria do Olival.
A um ano de se aposentar, a professora subiu ao palco do Cineteatro Paraíso para cantar em dueto com Salvador Sobral , o vencedor do festival Eurovisão.
Júlia Quadros sempre teve música na sua vida. Estudou piano na Figueira da Foz, de onde é natural, e era o pai quem mais insistia na sua formação musical. “Obrigava-me a sentar e a estudar solfejo”, recorda a professora de Fisico-Química que, a 10 de Dezembro, subiu ao palco do Cine-Teatro Paraíso para cantar com Salvador Sobral a canção “Só um Beijo”, com uma prestação que surpreendeu o vencedor da Eurovisão.
Embalada pelo cantar da mãe ao som de Frank Sinatra na rádio, Júlia Quadros desde cedo que sentiu gosto em ser protagonista; “era a cantora residente dos espectáculos do jardim-escola”, conta com orgulho a O MIRANTE. Seguiu um curso superior, “como era suposto”. “Toda a gente tinha curso lá em casa, a minha mãe era farmacêutica”, recorda, acrescentando que a música era uma actividade importante, mas não principal.
Depois do curso da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra deu primeiro aulas em Leiria. Um ano depois, quando concorreu a efectiva, foi colocada em Portalegre. “Na altura já passava por Tomar, ia todos os fins-de-semana à Figueira. Tinha três amigos tropas de Coimbra que também estavam em Portalegre e juntávamo-nos para as viagens, à segunda e à sexta”, recorda Júlia Quadros, que se apaixonou aí pela cidade dos templários, ainda longe de saber que iria dar aulas na Escola Secundária Santa Maria Olival durante mais de quatro décadas.
Amamentava durante os espectáculos
Foi em Tomar que conheceu Joaquim Roberto, Quim Zé para os amigos, músico de jazz que a encorajou a ingressar nas aulas do Hot Clube. “Ia três vezes por semana a Lisboa. À quinta-feira saía de Tomar às 8 horas, tinha às 11 uma aula de meia-hora e regressava. Às três da tarde já estava a dar aulas no liceu” conta. A professora justifica o esforço com a paixão e a vontade de aprender “outra dinâmica.” Foi a partir daí que começou a cantar com regularidade, em dueto com Joaquim Roberto, mas também em bandas e orquestras. “Fiz muitos bailes de finalistas, em Aveiro e Coimbra, por exemplo”, revela.
Admitindo que nos últimos tempos tem abrandado o ritmo da sua vida, Júlia Quadros, recorda um concerto no Teatro da Trindade, onde nos intervalos aproveitava para amamentar nos camarins o seu primeiro filho. “Depois abrandei um bocadinho quando os miúdos começaram a crescer, a dar mais trabalho. Mas tive aí uns anos loucos, sempre a correr”, afirma, com um sorriso.
Uma experiência inesquecível
Sobre a experiência da partilhar o palco com Salvador Sobral, perante uma sala esgotada, diz que foi um acaso; “ele disse que só cantava mais uma se subisse ao palco um membro do público para a cantiga do dueto com a irmã, a Luísa Sobral, que é uma música que costumo cantar com o meu filho António”, conta. O vencedor do festival da Eurovisão ficou “de boca aberta”: “deu-me os parabéns. Escreveu no autógrafo que eu ‘tinha uma voz linda”, sublinha.
Uma professora de vários talentos
Júlia Quadros sempre adorou ensinar e considera o sistema educativo hoje em dia muito diferente do de há uns anos. “Diferente, mas na minha opinião muito melhor. Há uma relação diferente com os alunos, apesar de eu sempre ter tido uma relação próxima com eles”, salienta. A poucos meses da reforma, a professora explica a O MIRANTE que já anda a fazer outras coisas; realizou este ano uma exposição de pintura numa loja desocupada perto de sua casa, numa estreia que foi um sucesso, tendo vendido quase todas as obras. Também fabrica sacos de pano em conjunto com a vizinha do lado e antiga colega, Lurdes Figueiredo.