Entrevista | 28-02-2023 10:00

Aeroporto em Santarém tem uma base de apoio que vai das margens do Tejo às margens do Mondego

Aeroporto em Santarém tem uma base de apoio que vai das margens do Tejo às margens do Mondego
Carlos Brazão é o accionista principal da empresa Magellan 500 que pretende construir um aeroporto no concelho de Santarém

Carlos Brazão é o rosto mais conhecido do Magellan 500 que pretende construir no concelho de Santarém um aeroporto complementar ao da Portela.

O MIRANTE foi à conversa com ele depois de grande parte dos segredos do futuro aeroporto em Santarém já estarem estampados na comunicação social. A procissão para a escolha do projecto ainda vai dar pano para mangas, mas a verdade é que Santarém é cada vez mais uma escolha que agrada a muita gente, não só pela localização como por ser um investimento que vai custar zero euros ao erário público. A questão ambiental também não deve ser esquecida se compararmos todos os projectos em avaliação. Nesta entrevista ficamos a saber como é que o projecto nasceu e quem é Carlos Brazão.

Depois de todos os interesses multimilionários à volta da construção do novo aeroporto, dos grupos envolvidos que dominam uma boa parte da economia e do poder político em Portugal ainda acha que um projecto tão fora da caixa como o seu consegue vencer os interesses instalados? De verdade, também temos um grande grupo económico a apoiar-nos que nos dá credibilidade e solidez. Não podemos pensar nesses termos. A prova de que não estamos assim tão fora da caixa foi o convite para apresentarmos e candidatarmos o projecto. O que nos disseram é que o nosso projecto tem um potencial que nunca poderia ficar de fora de uma avaliação competente sobre a decisão do futuro aeroporto.
Mas a verdade é que o senhor não tem um Paulo Portas, um Durão Barroso, um José Luís Arnaut, essa figuras que sabemos que mandam na economia e exercem lóbis e fazem toda a diferença na hora das decisões políticas. O projecto, se vencer, é pelas suas qualidades, não é por ter figuras públicas a defendê-lo. De verdade, estamos a ganhar apoiantes todas as semanas à medida que vão conhecendo os méritos.
O ex-ministro Pedro Nuno Santos anunciou o novo aeroporto no Montijo, no dia seguinte foi desautorizado pelo primeiro-ministro. Mesmo assim ficou no Governo depois de pedir desculpa. Não acha que este é o maior sinal de que o aeroporto não vai cair nas mãos de um grupo fora dos interesses instalados, como é o vosso caso? Não devemos entrar em considerações sobre o que aconteceu antes. Os poderes só ganharam consciência da importância do nosso projecto uns meses antes de ser apresentado. Tudo isso que falou é antes da sua apresentação. Há um antes e um depois da apresentação do Magellan 500.
Num país em que já houve um José Sócrates, um caso BES, Banif, um caso Rendeiro, um negócio de submarinos, uma Caixa Geral de Depósitos ao serviço dos interesses políticos, um Zeinal Bava, uma PT, etc, etc…, ainda acredita em bruxas? Se não acreditasse não estava aqui. Isso é uma garantia que lhe posso dar sem precisar de olhar para os meus parceiros e companheiros de jornada.
Quando diz que a ANA pode ser sócia maioritária está a pedir batatinhas ou está a dizer a quem tem o poder em Portugal que o vosso projecto não é um assalto aos interesses instalados? Já dissemos o suficiente sobre isso; o projecto é aberto a todos. Como é um projecto de empresas privadas é claro que temos que contar com as empresas para chegarmos onde queremos.
Todos os promotores, e a grande maioria dos autarcas mais importantes do Porto e de Lisboa, desvalorizam o projecto em Santarém. Não acha estranho Rui Moreira ter dito que em Santarém só por cima do seu cadáver e ter defendido o Montijo com unhas e dentes solidarizando-se com Pedro Nuno Santos? Rui Moreira tem o direito a ter as suas opiniões. O que sei é que a análise do projecto não será feita por ele, mas por uma comissão técnica independente.
Não o assusta a opinião dessas pessoas, incluindo a posição do presidente da Câmara de Lisboa, que diz que não toma posição mas depois abana a cabeça quando ouve dizer que no Montijo é que é? Não acho que o autarca de Lisboa, Carlos Moedas, tenha a mesma opinião do autarca do Porto, Rui Moreira. Têm que ser pelo menos diferentes em muitos casos.
Já se reuniu com ele? Sim, foi das primeiras reuniões que tivemos para apresentar o projecto.
Carlos Moedas estava na sala onde Rui Moreira falou abertamente a favor do aeroporto no Montijo, contra Santarém, acenando a cabeça em sinal de concordância... Não acredito que o tivesse feito com intenção. Algumas coisas importantes que ele disse nessa conferência disse-nos a nós. Não toma posição e acredita no trabalho das entidades responsáveis pelas avaliações. Confiamos que assim seja.
Como é que está a relação com os autarcas da região do Oeste, do Ribatejo e do Centro? Essa é uma das perguntas que mais me agrada responder. Já reunimos com a grande maioria dos autarcas, e das associações que os representam, e tivemos uma grande, grande recepção. Este projecto tem uma muito boa base de apoio, desde as margens do Tejo às margens do Mondego.
Na região já falou com a Nersant ou sabe o que é a Nersant? Conhece alguém da direcção da associação que representa uma parte importante das empresas do Ribatejo? Confesso que não conheço, mas estamos completamente disponíveis para trabalhar com os empresários e as suas associações. Talvez seja culpa nossa ainda não termos chegado à fala, mas a frente de trabalho tem sido muito grande e ainda não conseguimos ir a todo o lado.
Mas já se reuniram com a CIP? Sim, e correu muito bem. Aliás, o Armindo Monteiro esteve na apresentação do projecto, embora na altura da apresentação tivéssemos falado com o anterior presidente que, entretanto, saiu.
Não está a subestimar o papel dos empresários deixando-os para último? Não, nada disso; Este projecto vai aumentar o tamanho do mercado e os empresários, a seguir aos autarcas, são os maiores interessados. Por isso queremos conversar com eles e com os seus representantes o mais rápido possível.
Notou alguma desconfiança dos políticos locais que não são do partido do Poder? Não. A prova é a relação com o executivo da Câmara de Santarém liderado por Ricardo Gonçalves, que é do PSD. Temos esse cuidado de não partidarizar; o mesmo com os partidos políticos representados na Assembleia da República.
Quantas pessoas estão por trás deste projecto? Muitas. Bastante mais do que se pensa. Foram três anos de muito trabalho de algumas dezenas de pessoas, trabalho que entretanto vai continuar, como é sabido.
É fácil manter essas pessoas na rectaguarda do projecto? Sem problema. A grande maioria são pessoas como eu, que vêm do mundo empresarial. Todos sabem que quando vier o reconhecimento não serão esquecidos. Agora o que eles querem mesmo é ficar na sombra a fazer a parte que lhes compete.
Apesar da vontade e da grande oportunidade do projecto não acha que é uma luta de David contra Golias? A coisa mais difícil de matar é uma boa ideia. Como o nosso projecto é excepcional não nos sentimos de maneira nenhuma um David.
Montijo sempre foi o aeroporto dos administradores da ANA, do ministro Pedro Nuno Santos e, aparentemente, de todos os lobistas sempre à volta do mesmo bife em que toda a gente acha que um dia vai meter o garfo e a faca? Já houve um tempo de um aeroporto para Rio Frio, que depois deu lugar à Ota, que depois foi ultrapassado por Alcochete que entretanto foi ultrapassado pelo Montijo. A nossa esperança é que agora seja Santarém e não haja mais possibilidades de voltarmos atrás nas decisões.
É verdade que este projecto para Santarém nasceu de uma reunião de trabalho em Coimbra onde discutiam um projecto para um aeroporto regional? Não é bem assim. Soube que havia um grupo de pessoas a estudar um aeroporto regional para Coimbra; e um dia em que me encontrei com dois deles no Porto, numa reunião mais alargada, tive oportunidade de os abordar e de lhes fazer este desafio de apostarmos num projecto que faltava ainda discutir para que a Portela tivesse uma alternativa a sério, como ainda ninguém tinha apresentado. Foi a 18 de Setembro de 2019. Lembro-me que a reacção deles foi; achas mesmo? Esta é a história.
O que é que o leva a afirmar que o futuro aeroporto em Santarém não terá custos para o Governo? Os aeroportos são estruturas extremamente rentáveis, sobretudo na Europa. A aviação vai continuar a crescer. Cada construção de um novo aeroporto na Europa é uma saga. A capacidade aeroportuária é muito importante para o desenvolvimento do país. Basta olhar para os números para perceber isso; há muitos interesses à volta destes investimentos e muitas empresas a quererem rentabilizar os seus activos. Por causa dessa dimensão é que o nosso projecto é totalmente de iniciativa privada.
Se houver uma grande movimentação na região e o Magellan 500 perder para Alcochete ou Montijo há condições para avançar para um aeroporto regional? Essa decisão depende dos resultados que a Comissão Técnica anunciar. No dia seguinte, seja qual for a decisão, sentamo-nos e falamos do futuro com ou sem a responsabilidade de sermos os promotores do novo aeroporto para Portugal.
Quem é que paga o seu vencimento? Não tenho vencimento. Trabalhei 34 anos em empresas internacionais, tive juízo ao longo dos anos, nunca comprei rolexes nem maserattis, a maior fraqueza que tenho é a minha biblioteca, de resto sou uma pessoa poupada com alguma solidez financeira. Não sou rico mas tenho o suficiente para me meter num projecto destes.
Não estou a falar só com um engenheiro com 35 anos de trabalho mas agora com um empresário que nos últimos anos resolveu mudar de vida? É sabido que sou o accionista principal da empresa veículo Magellan 500 mas obviamente um dia, com o desenvolvimento do projecto, tudo vai mudar.
Quem olhar para si e falar consigo acha que é só o relações públicas e um dos engenheiros do projecto, mas é muito mais que isso. Sou o fundador mas sou só isso. Podia dizer já o nome de sete pessoas que foram tão importantes como eu para chegarmos aqui. Este projecto definitivamente não é o trabalho de um homem só. Para não falarmos do nosso parceiro que é o Grupo Barraqueiro; sem eles nada disto teria sido possível.

Futuro aeroporto internacional em Santarém surpreendeu tudo e todos

Os aeroportos estão entre os investimentos mais rentáveis em todo o mundo e que mais transformam uma região devido ao conjunto de infraestruturas e serviços construídos à sua volta.
O projecto para um aeroporto complementar ao da Portela em Lisboa, anunciado para o concelho de Santarém, surpreendeu tudo e todos e as razões estão à vista. O Magellan 500 está a cerca de meia hora de Lisboa, nas freguesias de Casével e São Vicente do Paul, próximo de cinco vias rápidas que ligam o país sem a necessidade da construção de estradas e têm condições ambientais e de financiamento que fazem dele um projecto verdadeiramente diferenciador.
Os promotores já visitaram o local com a imprensa, já falaram do trabalho que tiveram até chegar a esta solução, falaram abertamente do facto de estarem fora da concessão da ANA, mas também da abertura para integrarem a empresa num consórcio alargado, entre outras questões que estão a fazer do Magellan 500 um alvo a abater pelos que querem um aeroporto ao lado da Portela e um núcleo de apoiantes que vêem neste projecto a possibilidade de Portugal começar a ser um país com futuro para além da grande Lisboa e Porto.
Carlos Brazão é até agora o rosto deste projecto que embora possa chegar a uma dimensão de grande aeroporto internacional quer começar como infraestrutura regional de forma a que a Portela se mantenha e Santarém seja a opção a médio e longo prazo. Carlos Brazão diz mesmo que depois de escolhido o território parece que foi desenhado para ter ali um aeroporto. E as razões já foram referidas; a grande proximidade com todas as estradas que ligam o país do litoral ao interior.
Na defesa do seu projecto Carlos Brazão já disse que “um aeroporto é um negócio de mobilidade aérea, mas também de mobilidade terrestre. Por isso defende a sua construção fora do grande centro da área metropolitana de Lisboa. Para cimentar os estudos que duraram cerca de três anos os promotores procuraram o Grupo Barraqueiro, o maior operador de mobilidade terrestre em Portugal, respondendo também aos investidores estrangeiros que queriam uma candidatura apoiada logo de início em investidores nacionais com projectos estratégicos nesta área. O investimento no Magellan 500 pode chegar aos mil milhões de euros, só com capitais privados, e na área ambiental não há nada a apontar.

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