Vamos mostrar o que o Ribatejo vale para captarmos investimentos turísticos
José Manuel Santos tem sido um operacional enquanto quadro superior, sem poder de decisão, que tem dinamizado os potenciais do Turismo do Alentejo e da Lezíria do Tejo e que agora quer ter voto na matéria para implementar as suas ideias candidatando-se à presidência da Entidade de Turismo do Alentejo e Ribatejo.
Lidera a única lista até agora apresentada e não é expectável que apareça outra. Obcecado por metas, meticuloso e que quer que o seu trabalho seja avaliado por auditorias externas, o secretário-geral da entidade tem uma experiência de 25 anos a trabalhar em projectos, primeiro na Região de Turismo de Évora e depois no Turismo do Alentejo e Ribatejo. Coordenou o processo que levou a que o Cante Alentejano fosse elevado pela Unesco a Património Mundial. Considera que a Lezíria ganhou mais do que perdeu com a agregação ao Alentejo e quer autonomizar o marketing estratégico para esta região e abrir uma delegação na Casa do Campino, em Santarém, afirmando-se como um dirigente de proximidade. Vai lutar pelo crescimento da oferta hoteleira, promete ser agressivo na captação de investimentos e uma das missões em que vai pensar todos os dias é em mostrar o que vale um território que tem muito por onde crescer turisticamente.
O que é que aconteceu para a entidade de turismo estar hibernada? Não partilho dessa leitura. O trabalho da entidade nos últimos anos tem sido orientado pelo enquadramento da política nacional de turismo, pelos planos plurianuais dos municípios e com isso temos de chegar a um território que é do tamanho da Bélgica, muito diferenciado, com um conjunto de desafios diversos.
Referia-me à questão da visibilidade da entidade… Temos passado por um período conturbado. Vivemos, por causa da pandemia, limitações e restrições. Coincide também com um período de adaptação relacionado com a saída de Ceia da Silva e a substituição por Vítor Silva. Poderá, no limite, ter originado algumas percepções e leituras por parte dos agentes do território, mas sobre isso não me vou pronunciar. Nos últimos dois anos tem-se conseguido solidificar algumas linhas de trabalho que vinham do anterior presidente e aprofundar algumas linhas de acção e dinamizar outras.
Com a nova NUT II, que junta a Lezíria ao Médio Tejo e ao Oeste, vai trabalhar na perspectiva de que a Lezíria vai continuar em termos turísticos agregada ao Alentejo ou vai começar a preparar a mudança? Enquanto não for alterado o ordenamento regional do turismo teremos de continuar a olhar para a Lezíria do Tejo da mesma forma que olhamos para as outras sub-regiões da entidade. O nosso plano de candidatura passa por um aprofundamento do que queremos para esta zona com a autonomização do marketing estratégico para o Ribatejo; instalação do escritório em Santarém, na Casa do Campino; contratação de um técnico superior que só pense o Ribatejo e reforçar a nossa articulação com os municípios e com a comunidade intermunicipal. Precisamos de trazer densidade e presença institucional da entidade para o território.
Em termos práticos o que é que a Lezíria tem ganho por estar agregada ao Turismo do Alentejo? É uma pergunta interessante para um dia colocarmos aos agentes de turismo e aos municípios. A Lezíria do Tejo em 2015 tinha 145 mil dormidas e em 2022 teve 232 mil. Creio que ganhou centralidade estratégica porque conseguimos criar projectos novos de desenvolvimento turístico e desenvolver dinâmicas que levaram a que empresários consigam hoje fazer melhor a sua promoção. O Alentejo é mais permeável ao Ribatejo, no bom sentido, à estratégia e anseios dos agentes. A Lezíria ganhou mais do que perdeu e pode ganhar mais e é esse o nosso ângulo.
E a região está preparada, tem condições para uma maior procura? Entre 2014 e 2019 as dormidas cresceram nos 11 concelhos da Lezíria, menos do que os hóspedes. O que significa que a região não conseguiu aumentar muito a sua estadia média, mas subiu em proveitos globais. Precisamos de mais alojamento nesta zona. É a única sub-região da entidade em que a proporção entre número de camas de hotelaria é a mesma do que as de turismo rural e alojamento local. As dormidas nesta zona são 0,3% do país, pelo que há muito por onde crescer. Temos concelhos em que o turismo vale 30 mil euros. Precisamos de atrair capacidade de alojamento hoteleiro, o que não é fácil, mas é possível.
Já há muitos anos que se fala em falta de alojamento. Qual é o papel da entidade regional? Na Bolsa de Turismo foram anunciados dois novos investimentos hoteleiros para Santarém. Temos uma proposta clara, que é criar roteiros de investimento concelhio. O trabalho dos municípios está feito em termos de qualidade de vida. Temos que ir agora buscar os investimentos, temos de ser agressivos… Há presidentes de câmara que estão a fazê-lo activamente. Temos de mostrar aos grandes grupos hoteleiros o que é este território e o que ele vale.
E relativamente aos produtos turísticos? Temos de ter duas ou três rotas que possam ser vendidas pelos operadores turísticos e que possam ser apresentadas nos certames no estrangeiro. Não precisam de ser muitas, precisam é de ser vendáveis. O que mais temos em Portugal são rotas guardadas em gavetas, isso não queremos. E falta fazer um livro para os postos de turismo, livrarias e online com toda a oferta turística estruturada.
Parece um contra-senso atrair turistas e não ter onde dormirem? Uma coisa leva à outra. Um investidor quando decide avançar com um negócio fá-lo mediante números. Quer saber qual é a procura no território, o nível de concorrência, qual é a estratégia da região, se há um plano para o turismo… Se não disser que há uma estratégia estou a dificultar o interesse dos investidores no turismo.
Além do alojamento quais são os outros constrangimentos? Temos de mostrar, de uma forma mais afirmativa, que esta região tem um potencial e uma estratégia turística. É uma questão de afirmação institucional deste território, com uma economia forte, mas também um território de lazer; de eventos, onde o turismo equestre pode ser a Feira da Golegã, mas pode ser muito mais ao longo do ano.
Quais são as ideias para potenciar o turismo desta zona do Ribatejo? Esta região é muito propícia a criar experiências turísticas e essa é uma das minhas propostas. Outra é criar uma agenda de empreendedorismo na área do turismo. É importante o papel da academia e em Santarém há o ISLA. Precisamos de micro-negócios na área da animação turística. O enoturismo, por exemplo, é muito importante e precisa de estar integrado nesta cadeia turística.
E como é que vai ser a ligação a outras regiões, por exemplo, para aproveitar os turistas que passam pela Lezíria para irem a Fátima? Temos que criar uma estratégia integrada de acolhimento dos turistas. Há muitos fluxos de visitação que a cidade e a região ainda não conseguem internalizar e integrar. A região está a aproveitar mais o turismo religioso e a cidade de Santarém está a trabalhar nesse sentido. As estratégias integradas de acolhimento não são fáceis de fazer, demoram tempo, dão muito trabalho, é preciso ser-se focado, meticuloso, trabalhar por metas, ser chato e resiliente, mas são a forma de atingir resultados.
O investimento em classificações como Património Imaterial da Humanidade dos Bordados da Glória do Ribatejo e do Fandango valem a pena em termos de rentabilização turística? Os Bordados da Glória do Ribatejo já estão registados no Inventário Nacional e estamos a trabalhar com a Câmara de Benavente para registar os campinos. Os actuais turistas gostam da identidade, da comunidade. Temos de transformar isto em argumentos de venda de turismo. Não é necessário ir ao patamar da Unesco, a classificação no inventário nacional é muito relevante, tem é que ser divulgada e nisso as câmaras precisam de ajuda, estamos prontos para as ajudar. Vamos meter consultoria especializada ao serviço das câmaras. Santarém tem condições para ser cidade criativa da Unesco no âmbito da gastronomia, que dá uma oportunidade de comunicação internacional.
Da Chamusca a Vila Franca de Xira o Tejo é um potencial desaproveitado. Há dois ou três bons produtos turísticos de operadores privados que fazem bem o seu trabalho, mas há muito a fazer. Valorizar o Tejo turisticamente é uma tarefa muito complexa. Sou muito cauteloso e antes de fazer afirmações definitivas, se for eleito, gostaria de discutir com os autarcas e a comunidade intermunicipal esse tema. Tenho uma proposta que é estar nos primeiros 15 minutos das reuniões das comunidades intermunicipais para debatermos projectos e optimizar recursos.
Aos seis anos ia ver os aviões no aeroporto de Faro
José Manuel Santos é algarvio, onde é normal ter alguém na família ligado ao turismo. Com seis anos ia ver os aviões no aeroporto de Faro. “O turismo está dentro de mim”. Quando foi para o Alentejo, para a Universidade de Évora, estudar, e depois trabalhar, encaminhou-se para o turismo. Tirou o curso de Sociologia porque a mãe gostava que fosse trabalhar na área do desenvolvimento comunitário. O pai fez carreira na Segurança Social, área onde José Manuel Santos chegou a trabalhar, no Ministério da Solidariedade e Segurança Social, no departamento de estatística. A mãe hoje diz-lhe: “pensava que ias trabalhar com os pobres e foste trabalhar com os ricos”. Mas, o secretário-geral do Turismo do Alentejo e Ribatejo ressalva que no turismo nem todos são ricos.
Nunca foi nomeado politicamente para um cargo e todos os que exerceu entrou por concurso público. Concorreu para técnico superior da antiga Região de Turismo de Évora, em 1996, onde não conhecia ninguém, sendo quadro do Ministério da Economia desde essa altura. Esteve na comissão instaladora provisória da entidade regional de turismo, onde seguiu como secretário-geral, hoje como director de departamento. Não vai tantas vezes ao Algarve como desejaria porque o trabalho é muito absorvente.
Em criança queria ser jogador de futebol do Olhanense e do Benfica, mas sempre foi uma pessoa muito focada nas leituras, nos livros, na geografia, na história. Acabou por participar só em torneios na escola e ainda teve uns treinos marcados no Olhanense mas não apareceu. “Tive medo de não estar à altura”. Teve um período de rebeldia, como costuma dizer, quando criou uma banda de rock aos 17 anos de idade, onde foi vocalista. Chegaram a fazer a primeira parte de um concerto dos Delfins. A banda existiu entre 1988 e 1995 e tinha um nome curioso: “Feliz sexta-feira 13”. “Foi o meu momento de afirmação enquanto jovem e fui para vocalista porque fazia as letras e não sabia tocar nem guitarra nem bateria”.
Natural de Olhão, José Manuel Santos instalou-se em Évora há três décadas. Na universidade onde estudou lecciona numa Pós-Graduação em Turismo. Tem uma pós-graduação em Administração Pública. Trabalha na área do Turismo há cerca de 25 anos. Também tem tido um papel importante como dirigente associativo tendo sido vice-presidente da Associação Alentejo de Excelência. Fundou em 2016 o Movimento Évora Unida contra a reactivação do Ramal de Estremoz para comboios de mercadorias e o isolamento de bairros urbanos da cidade. Na política foi mandatário concelhio de Marcelo Rebelo de Sousa na primeira eleição para a Presidência da República.
“O meu adversário sou eu próprio”
Porque é que se candidata? Para mudar. Há desafios novos pela frente. Tenho uma experiência de trabalho no turismo com mais de 25 anos. O nosso papel é de integrador, de sincronizador de todas as estratégias públicas e privadas existentes. Creio que pela minha experiência, forma de ler a sociedade e de interpretar as dinâmicas, tenho perfil para gerir o novo contexto que vivemos. Vou trabalhar mais de perto com as comunidades intermunicipais, com estratégias, com metas avaliadas por auditorias externas.
Enquanto secretário-geral da entidade não conseguiu mudar nada? Não tenho funções directivas. Tenho muito orgulho do meu trabalho. Não é por acaso que chego a esta eleição e tenho o apoio esmagador de todos os empresários, desde a associação dos resorts do litoral alentejano ao pequeno hoteleiro. Não tenho delegação de competências para autorizar um cêntimo de despesa. Sou um operacional tendo alguma capacidade de influenciar.
Quem é o seu principal adversário? Sou eu próprio. Fazer todos os dias melhor, perceber diariamente se a meta que defini está concluída. Sou obcecado por metas.
Qual é a meta para 2027 quando terminar o mandato? Uma questão fundamental é a coesão do território. Aumentar a expressão do turismo no Alto e no Baixo Alentejo e na Lezíria do Tejo. O Alentejo Litoral e o distrito de Évora valem 65% das dormidas e gostaria de promover um maior equilíbrio. Outra meta é que o Alentejo e Ribatejo, que vale 4,2% das dormidas do turismo nacional, passe para 5,7%, e que a procura externa aumente. A região que mais cresceu em 2022 em proveitos de turismo foi o Alentejo, com 27%, e quero continuar esse crescimento. Temos de fazer a transição para a digitalização e para um destino mais ligado ao ambiente em que temos muito potencial, mas que ainda pouco se traduz em proveitos.
Pedro Beato a vice-presidente
José Manuel Santos reúne um conjunto de apoios, entre agentes turísticos e autarcas, e preparou a sua candidatura, até ao momento a única, rodeando-se das pessoas que acha que são trabalhadoras e têm visão. O seu número dois é Pedro Beato, nascido em Santarém, onde viveu até aos 20 anos, até os estudos o terem levado para o Alentejo e o amor levado a instalar-se no litoral alentejano. Vai ser em quem o presidente vai apostar para desenvolver estratégias para a Lezíria do Tejo e vai ser o responsável pela delegação em Santarém. Segundo José Manuel Santos as razões da escolha prendem-se com o facto de Pedro Beato ter um grande conhecimento da entidade de turismo como dirigente da área da qualificação da oferta e ser uma pessoa trabalhadora, responsável e com características de liderança.