Vialonga tem uma escola que é uma vergonha
Sara Amaral é presidente da Associação de Pais da Escola Básica dos 2º e 3º ciclos de Vialonga, uma das escolas mais degradadas do país que tem obra prometida há vinte anos mas que tarda em sair do papel. A dirigente fez da luta por uma escola nova a sua missão.
Não é compreensível nem aceitável que uma escola desenhada para 600 alunos tenha hoje mais de um milhar e esteja num estado de degradação deplorável com promessas de obra que duram há duas décadas. A opinião é de Sara Amaral, presidente da Associação de Pais da Escola Básica dos 2º e 3º ciclos de Vialonga, que diz que nos próximos dois anos os pais não se calarão na reivindicação por obras no espaço.
Sara Amaral, 50 anos, presidente da associação há dois anos, é de Vialonga e trabalha como assistente dentária. Tem duas filhas, uma já formada no ensino superior e outra ainda a frequentar a escola de Vialonga. Fez da luta por uma escola nova a sua missão. “Não é aceitável ter uma escola naquele estado deplorável e sempre que questionamos os poderes públicos ninguém nos diz quando, efectivamente, é que a obra é feita. Não avança por falta de dinheiro certamente. Será uma questão política? Nunca nos conseguiram explicar”, lamenta a O MIRANTE.
Para a dirigente, o estado actual da escola é culpa de todos: pais, professores e políticos. “A escola só vai funcionando porque tem professores e auxiliares muito dedicados. Quem lá está faz milagres todos os dias com as dificuldades que encontra”, refere. Os pais, garante, estão muito preocupados com o estado da escola mas o passar dos anos vai desmoralizando quem acredita que uma solução está a chegar. “Vialonga tem sido esquecida no concelho. A Câmara de Vila Franca de Xira poderia fazer mais pressão, algo mais, para não esperarmos pelas obras do ministério. Ainda faz sentido lutar e reivindicar uma escola nova. Tenho pena que muitos pais não lutem nem reclamem mais. Vivemos ali uma situação grave”, lamenta.
“Ministério da Educação abandonou Vialonga”
Segundo a dirigente, a maioria dos alunos não vai às casas-de-banho na escola e opta por ir aos cafés da vizinhança ou a casa, devido ao avançado estado de degradação do edifício. “Ninguém usa as casas-de-banho por não sentir segurança. As portas não fecham, não há papel higiénico, às vezes nem torneira para lavar as mãos”, critica.
É verdade que muitos equipamentos são vandalizados mas Sara Amaral acredita que isso é fruto de uma escola que não tem o mínimo de condições e onde chove no interior. “Não é resposta dizerem que os miúdos são vândalos. Temos de trabalhar na sensibilização. As crianças não são uns selvagens, elas próprias querem uma escola digna”, explica.
O facto de ser uma escola inserida num território socialmente desfavorecido pode gerar um estigma cruel pelo que a presidente da associação de pais diz que a urgência é integrar e motivar as crianças que ali estudam, para mostrar que não estão marginalizadas. O que não é fácil com uma escola a cair aos bocados. “O Ministério da Educação abandonou Vialonga. Já houve professores a cair das cadeiras porque estão partidas. Os professores ainda têm medo de verbalizar o seu desagrado, senão já tinham feito uma pressão maior”, critica.
Para a dirigente a situação envergonha o concelho e o país e diz duvidar que se fosse uma escola em Cascais ou numa zona VIP estivesse naquele estado. “Isto revolta-me muito. Que me interessa uma piscina e um jardim bonito em Vialonga, se sei que os jovens estão todos os dias numa escola naquele estado? Estamos na era das novas tecnologias e nem Internet têm para todos”, lamenta.
Sara Amaral tem ido a várias reuniões de câmara questionar o presidente do município sobre o assunto mas considera que as respostas do autarca são uma mão cheia de nada. “O presidente diz que sabemos e temos conhecimento do ponto de situação mas eu não sei. A associação ainda nem sequer viu o projecto, nem sabemos se o projecto existe ou não. Não sabemos de nada”, lamenta. A associação de pais já pediu ao executivo municipal para visitar a escola em conjunto para verificar da realidade do edifício, visita que está em agendamento.
Para a presidente da associação de pais, só a conjugação de esforços e boa vontade poderá ajudar a resolver o problema e garante que os pais vão reforçar a luta e o protesto para meter o problema da escola no mapa nacional. “Os próximos dois anos vão ser de luta doa a quem doer, a escola atingiu o seu limite e Vialonga não pode adormecer sobre este problema”, promete.