Sociedade | 18-05-2023 10:00

É obrigação do advogado ser vivo, caloroso e sanguíneo

É obrigação do advogado ser vivo, caloroso e sanguíneo
João de Castro Baptista diz que saber comunicar em tribunal é nuclear no exercício da profissão de advogado

João de Castro Baptista é advogado há 25 anos. Transmontano, divide a paixão pela advocacia com o amor pela vida no campo sendo agricultor por herança familiar.

É advogado por vocação e agricultor por herança familiar mas a sua paixão pelo campo não está espelhada nesta entrevista. As razões são evidentes: o que motivou esta conversa é a sua actividade como advogado. Embora actualmente a residir em Coimbra, João de Castro Baptista tem escritório em Lisboa, mas considera-se um advogado do Porto, onde viveu até à idade adulta e se formou profissionalmente. A conversa com O MIRANTE demorou mais de duas horas e decorreu recentemente numa manhã de segunda-feira, já que à tarde tinha trabalho para fazer no Tribunal de Santarém. Fica aqui apenas uma pequena parte da conversa e um registo de interesses que importa esclarecer: João de Castro Baptista é advogado da empresa editora de O MIRANTE e dos seus jornalistas, e em dois processos, dos vários que já defendeu, conseguiu fazer história e jurisprudência, nomeadamente junto do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Caso para dizer que esta entrevista um dia vai ter uma segunda ou terceira parte; veremos quando e que razões nos motivarão a voltar a partilhar a conversa com os leitores.

Tem memória de algum julgamento em que tenha sentido que foi abaixo, que não conseguiu levar o seu trabalho até ao fim, que podia ter feito melhor?
Tinha um amigo e advogado que dizia que as nossas vitórias se esquecem ao fim de uma semana, mas as derrotas acompanham-nos a vida toda. Acredito que não sejam exclusivos desta profissão, mas nesta é seguramente. Posso dizer que nunca me aconteceu deixar o meu trabalho a meio. Já me aconteceu perder, e achar que a solução jurídica podia ter sido melhor, mas nunca achei que fiz má figura ou que fui descuidado a estudar e a lutar por uma causa.
Os advogados de hoje são tão combativos como os da sua geração? Ainda há advogados que perdem o sono a preparem julgamentos?
Quando um advogado ganha…há outro que perde. Nunca na minha vida rejeitei um assunto por achar que estava condenado ao fracasso. Há casos em que estamos do lado de quem não tem razão, e muitas vezes a grande dificuldade do advogado é convencer o seu cliente dessa realidade, porque essa postura pode ser confundida com fraqueza, falta de empenho, falta de vivacidade, falta de ímpeto, etc etc. Já vi colegas vencerem acções com trabalhos medíocres, e já vi outros saírem perdedores com trabalhos absolutamente fantásticos. Obviamente, acho que é obrigação do advogado ser vivo e caloroso, e até muitas vezes sanguíneo no sentido bom da palavra, na defesa dos interesses que lhe estão confiados.
Mas não respondeu à minha pergunta; os advogados hoje estão tão bem preparados como há 25 anos?
A advocacia hoje é diferente da que era há 25 anos. Na minha altura tínhamos verdadeiras referências da advocacia. No Porto, e também em Lisboa, identificávamos determinados colegas como exemplos, como linhas orientadoras daquilo que é o exercício da advocacia.
Hoje há verdadeira iliteracia em muitas profissões, incluindo na da advocacia?
Hoje as pessoas não sabem escrever, e saber escrever é uma coisa absolutamente nuclear no exercício da profissão de advogado; e quando digo saber escrever já não estou só a falar da redacção, da pontuação; as pessoas lêem pouco e mal. Isso tem um reflexo importante na profissão, é importante saber escrever e articular, ser muito resumido nas ideias, muito económico nas palavras, ir directo aos assuntos. O meu patrono pedia para termos cuidado com a utilização dos gerúndios, quando se descrevem factos não se utiliza o gerúndio.
Mudámos muito repentinamente de um mundo sem Internet para um mundo onde tudo parece muito simples se aprendermos a googlar ..
Na minha geração tínhamos que ler se queríamos ter referências. Os livros eram a única ferramenta que existia para a nossa formação, nomeadamente na questão do uso da língua. Ainda hoje é assim, mas está criada a ilusão de que não é. As pessoas escrevem mal e lêem mal.
Vivemos mesmo outros tempos...
Vivemos. Mas sou uma pessoa optimista, tenho uma visão optimista da sociedade e conheço jovens advogados com grandes capacidades. A especialização também veio ajudar: Temos advogados a preparar processos e advogados a ir à barra do tribunal. A forma como um advogado faz a sua exposição, a dicção, o tom de voz, o vigor como se transmite uma ideia, tudo isso é importante porque o juiz é uma pessoa que recebe a informação e que a trata melhor ou pior dependendo da forma como o advogado a dá.

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