Entrevista | 28-06-2023 07:00

“Com boas ofertas culturais em Vila Franca de Xira não é preciso ir para Lisboa”

“Com boas ofertas culturais em Vila Franca de Xira não é preciso ir para Lisboa”
Ricardo Cabaça mudou-se para a Calhandriz e colabora com companhias de teatro de todo o país e Brasil

A escrita para teatro de Ricardo Cabaça começou na faculdade e continua através de projectos e parcerias com várias companhias e actores. Aos 46 anos o dramaturgo vive na Calhandriz e apaixonou-se pelo concelho de Vila Franca de Xira. Defende um teatro municipal que sirva a comunidade e que poderia nascer no lugar do degradado Salvador Marques, em Alhandra.

No dinâmico mundo do teatro, onde as histórias ganham vida nos palcos, o dramaturgo Ricardo Cabaça tem-se destacado pela colaboração com diversas companhias a nível nacional e no Brasil. Natural de Lisboa, viveu grande parte da vida no concelho de Loures, e licenciou-se em Estudos Portugueses. Mais tarde tirou o mestrado em Estudos de Teatro na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Ricardo Cabaça vive na Calhandriz há três anos com a esposa, que é actriz, e com o filho de seis anos. Não tinha ligação nenhuma ao concelho de Vila Franca de Xira excepto ao grupo de teatro Inestética, do Sobralinho, com quem trabalha regularmente. Confessa que se apaixonou pelo concelho e por isso quer participar activamente na comunidade. Colaborou com o extinto grupo de teatro Casulo, associado ao Grémio Dramático Povoense, e em 2021 escreveu e filmou a série para a RTP2 “Regresso a Ítaca” baseada na odisseia de Homero mas actualizada no espaço, tempo e narrativa, e que foi filmada integralmente em Vila Franca de Xira.
Trabalha com o Cegada, grupo de teatro de Alverca do Ribatejo, e no ano passado levou a cena “um país inventado” no Museu do Neorealismo. Para o dramaturgo existe no concelho potencial para se fazer mais e diferente para não estar apenas conotado com a tauromaquia. As estruturas de teatro não podem depender só da câmara municipal, reitera, mas sim ser um trabalho conjunto. Ainda assim é muito difícil uma companhia sobreviver sem apoios públicos, diz mesmo que é impossível. “Apresentar um espectáculo sem apoio é viver na precaridade. Ser pago à bilheteira é francamente insuficiente para custear um projecto. Fala-se tanto dos subsídio-dependentes mas sem apoio não podíamos ter teatro a 10 euros”.
Apesar de já escrever poesia desde os 14 anos, a ligação ao teatro só surgiu na Universidade Nova quando começou a colaborar como assistente no teatro da faculdade. Actor nunca quis ser, mas o teatro entranhou-se na sua alma. O teatro é um organismo vivo, dinâmico, comunitário e uma construção em tempo real o que o fascinou. “O teatro para mim é uma arte total, do presente e do futuro. Quando escrevemos sabemos que a peça vai ser encenada e lida no futuro enquanto a escrevemos no presente. Enquanto dramaturgo é um privilégio poder reflectir sobre o nosso tempo e contribuir para uma reflexão que possa mudar o mundo”, conta a O MIRANTE.

Teatro para todos
O futuro passa por todas as formas de produção teatral onde cabe um grupo como o Inestética, mais alternativo, e um grupo mais popular. O segredo, diz, é apresentar um trabalho regular para fidelizar o público. Deve haver uma descentralização dos apoios da Direcção Geral das Artes, que acabam sempre por ficar retidos em Lisboa. A deslocalização das próprias estruturas para outras zonas do país, incentivadas pela tutela, garantiam que todos tinham acesso ao teatro.
Actualmente Ricardo Cabaça trabalha em vários prismas da dramaturgia. Escreve para encenar, escreve por encomenda (Brasil e Portugal), escreve para publicar, e desenvolve projectos de escrita em conjunto com outros dramaturgos.
Para o concelho de Vila Franca de Xira defende uma grande sala de espectáculos que pudesse abarcar um teatro municipal, como, por exemplo, o degradado Teatro Salvador Marques, em Alhandra. “Não temos um teatro municipal e por isso o Salvador Marques podia servir esse fim e ser uma sala multiusos. Não pode ser só responsabilidade da câmara municipal mas envolver a Direcção Geral do Património Cultural e fundos europeus. Salvávamos o passado, por ser um teatro marcante, e o futuro”.
Quanto à quadruplicação da linha ferroviária em Vila Franca de Xira e Alhandra o dramaturgo considera que não se pode sacrificar a vida das pessoas em nome do progresso mas que se deve encarar as mudanças como oportunidades. Nesse sentido, ter um maior fluxo de pessoas a circular devia fazer aumentar a oferta cultural. Assume-se contra o conceito pejorativo de dormitório a tudo o que circunda a capital do país e afirma que com boas ofertas culturais em Vila Franca não é preciso ir para Lisboa.

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