Rui Rocha: um político que diz gostar dos bastidores
Rui Rocha, 61 anos, é conhecido no PSD de Vila Franca de Xira como “o pacificador”. Foi presidente da concelhia durante três mandatos e ajudou a unir o partido numa altura em que o partido estava profundamente dividido entre as facções de Rui Rei e Pedro Moutinho. Hoje é vice-presidente da concelhia e diz não ter aspirações de ser vereador por gostar de trabalhar nos bastidores. Aponta a mobilidade como um dos grandes problemas do concelho e acredita que o PSD vai ser poder no concelho porque a população precisa de projectos diferentes.
O PSD de VFX vive o seu melhor momento da última década? Avancei na altura para a presidência da concelhia para tentar pacificar e unir o partido porque uma coisa é ter opiniões diferentes, outra coisa era transformar isso numa guerra fratricida e as coisas estavam a ficar agressivas. Queremos ser poder e aplicar as nossas ideias na gestão camarária e para isso precisamos de todos a rumar no mesmo sentido. Hoje esses quadros desavindos estão todos unidos a colaborar e isso foi muito importante para o lançamento da Nova Geração. O PSD está mais unido hoje do que alguma vez esteve.
Tem ambição de ser vereador? Nunca encarei isso nem me considero suficientemente preparado para agarrar esse objectivo. Sempre preferi trabalhar nos bastidores e na organização. Não tenho anticorpos na concelhia mas o Rui Rei, pela forma expressiva como se manifesta, é natural que os tenha. Isso é uma factura que quem adopta um modelo de combate político impulsivo tem de pagar por uma luta que é de todos nós.
Conseguiu na sua liderança da concelhia o melhor resultado de sempre para o partido... Conquistámos três vereadores com o João de Carvalho e depois a Helena de Jesus também fez um trabalho muito importante na área social. O João de Carvalho foi vereador quando houve uma ruptura com a Maria da Luz Rosinha e um braço-de-ferro que fizemos pela não aprovação de um empreendimento na Póvoa de Santa Iria que era completamente desajustado. Não nos arrependemos. Se não lutamos pelo que acreditamos não estamos aqui a fazer nada. Há derrotas que só nos enobrecem e trazem valor.
O João de Carvalho devia ter continuado a ser o vosso candidato? Do ponto de vista humano é uma pessoa fantástica e por quem temos um enorme respeito. Mas faltava-lhe a parte política e de decisão. Tentámos vestir-lhe um papel para o qual não estava preparado. Foi uma aposta e experiência positiva. Temos de seguir em frente.
Algum dia o PSD será poder em VFX? Tenho a certeza que isso irá acontecer porque não conseguimos resultados diferentes com políticas iguais. Somos a única alternativa ao PS. A CDU está a perder protagonismo e a implodir. Estão a sofrer com a posição vergonhosa que assumiram sobre a guerra da Ucrânia e o Chega não é de todo um rival porque revelam muito desconhecimento. Enquanto o Chega não pensar no que é realmente importante e continuar a colocar-se na política como uma extensão da CMTV não vai a lado nenhum. Estão a capitalizar os casos e dramas de faca e alguidar. A política não é isso. Mais tarde ou mais cedo as pessoas vão aperceber-se que não têm substância e acabam abandonados.
O David Pato Ferreira está a ser uma surpresa para muitos moradores... Aprecio a inteligência dele e a estratégia que define. Ele tem um sentido de responsabilidade ímpar. Quem nunca ouviu o David numa reunião devia fazê-lo. Temos tido um feedback brutal. Foi um risco lançar um candidato tão novo, a CDU fez o mesmo mas não funcionou. Admito que o eleitorado tenha olhado com desconfiança para um jovem mas acreditem que ele pensa melhor o futuro do concelho do que os quadros que têm povoado o destino político do concelho.
Filomena Rodrigues do CDS nunca mais? Para mim, numa opinião que não vincula a comissão política, a Filomena Rodrigues tem um grande empenho nas causas sociais e conquistou o meu respeito, mas do ponto de vista político nunca mais. É extraordinariamente instável.
A quadruplicação da Linha do Norte vai custar a câmara ao PS? Acho que o Fernando Paulo Ferreira, por quem tenho grande simpatia, está a cometer um erro de análise. Está prometido com a quadruplicação da linha e um aumento dos comboios suburbanos que vão servir sobretudo a zona sul do concelho. Acho que ele está a fazer cálculo eleitoral que pode ser perigoso. Ainda que as pessoas do sul venham a beneficiar dessa melhoria, há todo um mexer em tradições culturais muito fortes e nesta vivência com o rio que lhe pode custar caro. Ele devia envolver-se mais no projecto. É uma pessoa bastante inteligente, um democrata e um animal político. Devia ter sido mais exigente com o Governo para acompanhar o desenvolvimento deste traçado. Acho que ficou excessivamente deslumbrado quando foi feita a apresentação do plano e não teve o golpe de asa necessário para ver a reacção extremamente elevada que houve da parte da comunidade. Não me lembro de nenhum tema, desde o 25 de Abril, que movimente tanto associações e cidadãos como este. É uma reacção notável.
E o que pensa da solução proposta? Tenho muitas reservas. Não nos dão prova cabal se foram ou não feitos estudos alternativos, qual o custo das soluções. Foi um estudo feito no estirador, de forma fria, sem perceber que vão criar uma cicatriz profunda no nosso concelho em cima de cicatrizes que já temos e que têm condicionado o nosso desenvolvimento. Isto pode ser uma machadada muito dura. Se não houver a capacidade de alterar o projecto no que é mais prejudicial à cidade temos de ser pragmáticos e ter uma posição musculada exigindo compensações: o nó dos Caniços e Sobralinho, a saída na A1, junto da marinha, e desviar as portagens para norte do concelho. Não podemos ser vítimas de decisões que não são nossas.
O que é preciso ser melhorado no concelho? Gostava de ver o tecido empresarial de comércio e serviços mais desenvolvido porque está claramente a definhar, em particular na cidade de VFX. Que houvesse mais protecção aos comerciantes com a dinamização e requalificação dos mercados municipais. Promover melhor a vertente cultural, que as pessoas não fossem tão críticas e aderissem, usufruíssem mais do rio e dessem mais vida às cidades. E melhor mobilidade. O concelho tem problemas gravíssimos de mobilidade. Percorrer o concelho da Castanheira do Ribatejo à Póvoa de Santa Iria é uma tortura e isso destrói a vida dentro das cidades.
A mobilidade deve ser a prioridade? Sem dúvida. Se não nos for dada a possibilidade de alterar o essencial temos de ser exigentes. O concelho não pode estar atado. Fico revoltado quando vejo outros concelhos vizinhos crescerem e modernizarem-se mais que o nosso. É um problema de raiz que vem desde a gestão comunista e foi prolongada pelo PS. Aceitámos que aqui a aposta é apenas na logística. Isso é injusto como é injusto nunca terem dado ao PSD a chance de gerir. Queremos evoluir. Cavaco Silva já ganhou Legislativas em Vila Franca de Xira, significa que o eleitorado existe, só que muitas vezes não vem votar e assim deixa a decisão para os outros.
Na sua óptica onde está a falhar a gestão PS? Na parte cultural porque não há informação sistematizada e homogénea pelo concelho. Estão a falhar na falta de preservação do Palácio da Subserra e do Sobralinho. Não está a ser dado este património tão rico à fruição dos munícipes. Na gestão falta dinamizar o tecido económico e inverter a aposta excessiva na logística. Falta criar incentivos para trazer massa critica, apostar na habitação para jovens a custos controlados e melhorar a dinamização desportiva.
“FC Alverca teve postura ditatorial”
O vice-presidente da concelhia do PSD de Vila Franca de Xira não deixa de ficar surpreso com a decisão do Futebol Clube de Alverca e do seu presidente, Fernando Orge, de proibir O MIRANTE de realizar reportagens com as secções e os atletas do clube. Uma postura que classifica de ditatorial. “O papel de O MIRANTE é extremamente importante. Está a ser instrumento fundamental para levar as pessoas a participar na vida autárquica. O FC Alverca ter proibido o jornal de fazer reportagens com as secções deve ser alvo de crítica. Se não estão satisfeitos com alguma abordagem é sempre mau castrar a possibilidade de haver transparência. E o jornalismo, mal ou bem, representa um veículo fundamental para aumentar essa transparência, promover a discussão pública e permitir que toda a gente esteja bem informada. Proibir a informação nunca é o caminho. É uma postura ditatorial”, critica.
Questionado se é justo um clube como o FC Alverca receber anualmente mais de 50 mil euros de apoios municipais quando há associações de apoio a crianças e idosos que recebem pouco mais de 500 euros, Rui Rocha é pragmático: “Qual é o impacto que o FC Alverca tem? Se o benefício se projecta num universo alargado de atletas acaba por ser justificado. Mas essa informação tem de ser pública porque só com transparência se podem tomar decisões equilibradas”.
Sem sonhos por realizar
Rui Rocha tem 61 anos e vive em São João dos Montes. Fez carreira como coordenador administrativo na Teixeira Duarte e quando houve reconversões internas na empresa fez um acordo e saiu. Hoje trabalha no gabinete de apoio aos vereadores da Nova Geração. Durante seis anos foi presidente da concelhia do PSD e é actualmente o vice-presidente de Rui Rei, que lidera a concelhia. A falta de rigor no estudo dos problemas tira-o do sério. Devora séries televisivas, adora praia e animais. Não tem um sonho por realizar e espera apenas ter paz, estabilidade e partilhar a vida com a família e amigos.