Entrevista | 26-07-2023 18:00

Associações não podem ser geridas a contar com o apoio do Estado quando as coisas correm mal

Associações não podem ser geridas a contar com o apoio do Estado quando as coisas correm mal
Fernando Rosa está a concretizar o sonho do CASBA de ter um novo lar para dar resposta à comunidade

Fernando Rosa está há duas décadas à frente dos destinos do Centro de Apoio Social do Bom Sucesso e Arcena. A instituição é um exemplo de boa gestão e construiu um novo lar de idosos, de dois milhões de euros, sem pedir um cêntimo aos bancos e ao Estado.

As associações, em particular as que operam no sector social, não podem ser geridas sem cuidado na expectativa de que o Estado as vá salvar quando estiverem em dificuldades. A convicção é de Fernando Rosa, que há duas décadas é presidente do Centro de Apoio Social do Bom Sucesso e Arcena (CASBA) e é um rosto conhecido do associativismo do concelho de Vila Franca de Xira.
“Não concordo com o amadorismo e voluntariado que ainda existe nestas casas. Esse voluntariado acaba por ter um custo elevado. As pessoas têm de ser responsabilizadas pela sua gestão e é por isso que há 20 anos a profissionalizámos”, explica o dirigente, que é também trabalhador da instituição. Só dessa forma, explica, é possível que a associação mantenha um rumo financeiro estável e uma oferta à comunidade que dê resposta às necessidades.
“Não sou presidente, estou presidente. Um dirigente que chega aqui à noite e vem certificar o que foi feito por um funcionário durante o dia não serve. Esse modelo está errado, é preciso alguém que esteja em permanência nestas instituições”, defende. Para Fernando Rosa muitos dos problemas financeiros que afectam as instituições particulares de solidariedade social são culpa de um acumular de anos de más decisões de gestão e de despesas superiores às receitas. “Se tenho uma valência que custa 10 e eu cobro nove sei que estou a gerar défice e serei acusado de má gestão”, nota.

Um novo lar em Alverca
O CASBA prepara-se para abrir ao público, entre o final deste ano e o próximo, uma nova Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI) com centro de dia que era há muito uma ambição da comunidade e do presidente da instituição. Para isso a associação investiu dois milhões de euros no edifício sem pedir um cêntimo emprestado à banca ou ao Estado. A obra está concluída e em fase de certificação. Vai dar resposta à comunidade disponibilizando 30 camas para residência permanente e vai gerar 20 novos empregos. Tem salas de farmácia, gabinete médico de enfermagem, cabeleireiro, cafetaria, piscina, jacuzzi, sauna e sala de fisioterapia. A parte da piscina, sauna e fisioterapia será aberta para toda a comunidade a poder usar.
O presidente do CASBA diz que não está fechada a porta a uma negociação com a Segurança Social para financiar a ocupação de algumas camas, mas como a procura é elevada o dirigente não exclui nenhum cenário. “Não lhe quero chamar um lar privado, porque não é, mas é evidente que não será um lar para pensões de 300 euros. Não conheço no concelho nenhum lar abaixo dos mil euros”, refere, lembrando que o equipamento terá de se pagar a ele próprio.
“A área dos idosos é a que mais me preocupa. Há uma grande carência de equipamentos no país e nós estamos a querer ajudar e ao mesmo tempo lutar para deixar um futuro para o CASBA. Mas o modelo que temos incrementado em termos de centro de dia e apoio domiciliário no país tem de ser alterado”, defende. Diz o dirigente que não é com as actuais verbas transferidas por utente pela Segurança Social que a instituição consegue funcionar. “Não faz sentido termos aqui 20 utentes em apoio domiciliário em que vamos lá levar a comida a casa, estamos um bocadinho com a pessoa e vamos embora. Esse modelo é uma pobreza. O idoso precisa que percebam como ele está, em termos de saúde, em termos mentais. Isto tem de ser repensado”, defende. O CASBA tem hoje 70 funcionários e dá apoio a três centenas de utentes, incluindo crianças e idosos.

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