Especiais | 16-11-2023 19:00

Falta seriedade e sentido de Estado a uma parte significativa da nossa classe política

Falta seriedade e sentido de Estado a uma parte significativa da nossa classe política
36 ANOS DE O MIRANTE
Filipe Santana Dias, 44 anos, presidente da Câmara Municipal de Rio Maior

A preponderância das redes sociais vai crescer e por isso é muito importante que sejam aplicadas regras a estas plataformas para que os princípios democráticos sejam cumpridos.

Os meios de comunicação que encaram o jornalismo de forma séria e com a liberdade que lhes é conferida na Lei de Imprensa não temem ser escrutinados. No lado oposto, aqueles que fazem um trabalho menos responsável e profissional devem ser alvo de um maior escrutínio para que os cidadãos tenham acesso a informação isenta e de qualidade e não sejam confrontados com desinformação e preconceito, algo que prejudica em muito a nossa democracia.

As redes sociais são de fácil acesso, apelativas, intuitivas e práticas e eu recebo a maioria da informação através delas. São notícias, publicidade, informação geral ou mais e tenho sempre a preocupação de verificar as fontes que foram usadas. O futuro creio que será de ainda maior preponderância das redes sociais. Por isso é muito importante que sejam aplicadas regras a estas plataformas para que os princípios democráticos sejam cumpridos.

Toda a informação de qualidade deve estar à disposição de todos. A publicidade, que é a receita principal dos mais variados meios de comunicação, está hoje acessível online, a custos muitíssimo reduzidos e muito mais direccionada. Sendo assim, para permitir a continuidade da existência dos órgãos de comunicação de qualidade, o Estado poderia prever um apoio ao sector ficando, no entanto, impossibilitado de exercer qualquer tipo de controlo sobre o mesmo.

Continuamos a ter uma faixa etária mais envelhecida ainda distante dos ecrãs para acesso à internet. É importante promover maior literacia digital. Por exemplo, a Biblioteca Municipal de Rio Maior tem vindo a promover, com bons resultados, algumas acções nesse sentido, junto da população sénior, por forma a aproximar os cidadãos mais velhos das tecnologias.

Num Portugal sem democracia a minha vida seria 100% diferente. Logo por não poder ser eleito em eleições livres para o cargo que ocupo. Tive a sorte de nascer já em democracia e não consigo conceber a minha vida de outro modo, mas conhecendo-me a mim, conhecendo os riomaiorenses, conhecendo o passado de Rio Maior e o sangue que nos corre nas veias, creio que seríamos um concelho que trataria de manter a luta acesa e que daria muitos problemas a quem nos quisesse subjugar. A título pessoal estou certo de que me meteria em problemas…

O 25 de Abril de 1974 feito pelos que sonharam um Portugal livre e permitiu inúmeras alterações. Numa resposta curta, seria impossível abordar todas as conquistas de Abril pelo que me cingirei ao Poder Local democrático. Foram as autarquias e os autarcas que, a partir de Abril, mudaram este país, que deram aos seus concidadãos as condições para uma melhoria significativa nas suas oportunidades e qualidade de vida. A partir de Abril, e com uma ínfima parte do orçamento de Estado, o Poder Local democrático construiu o Portugal que hoje temos. Escolas, estradas, saneamento, cultura, apoio social, quase tudo nasceu pela mão das autarquias portuguesas.

A presença da IA é já uma constante nas nossas vidas, sem nos apercebermos, muitas vezes. A vertiginosa evolução da tecnologia impossibilita um acompanhamento integral de tudo o que se está a passar neste momento. Este “descontrolado controlo” pode fazer com que este desenvolvimento seja demasiado abrupto para muitas pessoas e isso não me deixa nada confortável. A evolução tem de ser acompanhada de literacia para que todos possamos tirar o melhor partido possível do que temos pela frente sem comprometer os valores da Humanidade.

As alterações climáticas são uma realidade inegável. Estamos a falar de factos e não de algo que seja passível de opinião. Vale muito a pena alterarmos comportamentos, a começar por coisas básicas como a reciclagem de resíduos, a poupança de água ou práticas profissionais mais “verdes”. No meu dia-a-dia profissional tenho várias vezes a oportunidade (e o dever) de fazer escolhas do ponto de vista ambiental. Uma correcta gestão do arvoredo, uma maior fiscalização às fontes de poluição, o procurar de acções que potenciem a utilização de uma energia mais verde ou a desmaterialização de processos administrativos, são alguns exemplos do que temos vindo a fazer em Rio Maior.

Reconheço à actual classe política a excelência da preparação, do ponto de vista técnico e académico. Exactamente na mesma medida em que lhe reconheço a medíocre preparação política e de sentido de Estado. Infelizmente, é cada vez mais frequente parecer que se faz em vez de fazer realmente alguma coisa. O desencanto dos cidadãos com a política, e o consequente crescimento de movimentos populistas, tem na sua base a falta de seriedade e sentido de Estado de parte significativa da nossa classe política. A ligeireza com que se tomam decisões vitais para o nosso país é algo que me preocupa enquanto cidadão.

Leio semanalmente a edição impressa de O MIRANTE e sigo o jornal nas redes sociais. Por esse motivo é frequente consumir notícias ou artigos de opinião ali publicados. Acho ainda muito divertido quando me calha a mim constar, por exemplo, na secção “Cavaleiro Andante”.

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