Regras que a comunicação social cumpre distinguem-na de um qualquer curioso atrás de uma página de internet
A Inteligência Artificial oferece muitas potencialidades mas tem perigos que devem inspirar algum receio, especialmente para alguém que, como eu, é fã de histórias de ficção científica que um destes dias poderão não ser assim tão ficção.
A informação devia ser toda gratuita e de acesso livre? Como acha que isso poderia ser feito?
Talvez não toda (por exemplo, reportagens de áreas e temas muito específicos poderão talvez ter associado um custo para o leitor), mas o essencial da informação deveria ser gratuito independentemente da plataforma em que se desenrole. A solução não é fácil porque passaria por subsidiação pública, o que pode criar dependências. Mas a dependência de alguns grupos económicos é seguramente pior porque é mais difícil de escrutinar.
Há jornais em dificuldade e alguns já deixaram de se editar, nomeadamente regionais? É algo que o preocupa?
Sim é preocupante, não há liberdade sem informação livre, séria, responsável e a erosão da imprensa é consequência e igualmente facilitador para aumento da preponderância das redes sociais e da sua pouca fiabilidade.
Os meios de comunicação social têm que estar registados e os seus responsáveis identificados. E têm que cumprir leis, nomeadamente a Lei de Imprensa. Deve continuar assim ou os jornais devem ter maior liberdade?
Com maior poder, maior responsabilidade, e a comunicação social tem um enorme poder, por isso deve ter regras. E todos numa sociedade devem estar sujeitos ao escrutínio, a imprensa não deve ser excepção. As regras existentes, creio, não limitam a acção da imprensa e são, também, uma forma de distinguir a comunicação social séria de um qualquer “curioso” atrás de uma página de internet.
Há cada vez mais pessoas que optam por ser informadas através do que lhes chega pelas redes sociais. É o seu caso?
No meu caso pouco. Partilho quanto baste nas redes sociais, essencialmente assuntos relacionados com o município ou a comunidade de Tomar, mas “navego” pouquíssimo e por isso não creio que seja influenciado pelas redes. Espero que não seja esse o futuro para a maioria, por muito que a actualidade pareça encaminhar-se para aí.
Consegue explicar, com um ou dois exemplos, como acha que seria a sua vida, a nível pessoal e profissional, num país não democrático?
Felizmente nasci já depois do 25 de Abril que em Portugal trouxe liberdade, mas é muito fácil, olhando para outros locais do mundo onde ela não existe. Pessoal como profissionalmente seria seguramente uma existência bem mais cinzenta. Por exemplo, eu que sou agora autarca, ou era de uma classe privilegiada ou estaria impedido de desempenhar estas funções.
Portugal vai celebrar os 50 anos do 25 de Abril? Com base na sua experiência qual a importância da chamada Revolução dos Cravos para o país?
Nunca sabemos como seria a história se os acontecimentos tivessem sido diferentes, mas o facto é que foi esse dia “inteiro e limpo” que nos trouxe liberdade com tudo o que isso implicou nas alterações sociais, familiares, empresariais, políticas, assim como na qualidade de vida em questões tão díspares como nos acessos aos cuidados de saúde, à educação, aos apoios sociais; mas também no lugar e afirmação do país na Europa e no mundo.
A Inteligência Artificial está presente, cada vez mais, na nossa vida? Sente isso? Está confortável com o que se está a passar?
Basta ver como algumas aplicações no telemóvel nos oferecem produtos baseados nas pesquisas ou mesmo nas conversas que temos para perceber como essa artificialidade está já entranhada em cada um de nós. A IA oferece muitas potencialidades mas também é verdade que muitos perigos que devem inspirar algum receio, especialmente para alguém que, como eu, é fã de histórias de ficção científica que um destes dias poderão não ser assim tão ficção.
As alterações climáticas são uma realidade ou há muito exagero no que é apresentado? Vale a pena alterarmos alguns comportamentos?
Uma evidente realidade. Todos vamos ser forçados a alterar comportamentos mesmo que não o queiramos. Claro que era melhor ser por via preventiva e não pela reactiva.
Há muito que tenho comportamentos que estão ao alcance individual como tentar produzir o mínimo de resíduos e não descurar a reciclagem, fugir às tentações consumistas, poupar muito na energia e na água, por exemplo.
Na Constituição da República estão inscritos os direitos e os deveres dos cidadãos. É capaz de indicar dois ou três dos nossos deveres constitucionais?
O dever de cumprir a escolaridade obrigatória, o dever de votar ou de pagar impostos, por exemplo.
Qual foi o último texto que leu em O MIRANTE de que gostou?
“Enfermeiros do Médio Tejo anunciam acordo e desconvocam greve de dois dias”
Se tivesse que classificar a classe política que vai festejar os 50 anos do 25 de Abril na Assembleia da República que pontuação lhe dava de 1 a 10?
Pela média, talvez um sete.