Especiais | 16-11-2023 07:00

Senti a presença da Inteligência Artificial de forma concreta quando o carro que conduzia falou comigo

Senti a presença da Inteligência Artificial de forma concreta quando o carro que conduzia falou comigo
36 ANOS DE O MIRANTE
Sónia Seixas, 53 anos, vicepresidente do Instituto Politécnico de Santarém

Se olharmos para a Constituição da República Portuguesa encontramos 181 referências a direitos e 24 referências a deveres. Não me tinha ainda dado conta dessa tão grande desproporcionalidade.

Os órgãos de comunicação social têm que estar registado e os seus responsáveis identificados. E têm que cumprir leis, nomeadamente a lei de imprensa. Deve continuar assim, ou os jornais devem ter maior liberdade?

Parece-me que os condicionalismos apontados acima são as condições mínimas exigidas a qualquer organização que seja responsável pela divulgação de notícias. Essas condições, a meu ver, não limitam a liberdade de noticiar, mas propiciam as condições para que seja feito com ética, verdade, responsabilidade e rigor.

Há cada vez mais pessoas que optam por ser informadas através do que lhes chega pelas redes sociais. É o seu caso?

Não é o meu caso por dois motivos: nem tenho perfil em redes sociais, nem considero as redes sociais fidedignas para me informar, ainda que muitas vezes veiculem informação fidedigna. Baseio-me
no facto de não lhes ser exigida (como referido acima): o registo, a identificação dos responsáveis ou o cumprimento da lei de imprensa, pelo que uma grande parte da informação veiculada se pode referir a tomadas de posição, juízos de valor, pontos de vista, conteúdos descontextualizados ou mesmo falsos.

A informação devia ser toda gratuita e de acesso livre?

Defendo que o conhecimento deveria ser gratuito e de livre acesso, mas estou ciente que a maior parte da informação nos chega através dos meios de comunicação social e estes são produzidos por entidades e profissionais que necessitam de ser remunerados. Em todo o processo de recolha, tratamento, verificação e apresentação da informação há uma série de gastos envolvidos que não devem ser desconsiderados.

Os hábitos de leitura mudaram e há muitos jornais em dificuldades, alguns dos quais de âmbito nacional e outros que já deixaram de se editar, nomeadamente regionais? É algo que a preocupe?

Sim, preocupa-me bastante. Tenho assistido a uma alteração dos hábitos de leitura, em termos de quantidade mas também de qualidade. Lê-se menos e lêem-se conteúdos com menor qualidade, mais superficiais e menos extensos. Relativamente à imprensa regional penso que desempenha um papel importante no sector. Por um lado, destaca notícias locais, em regra com maior detalhe, e isso potencia o conhecimento regional, por outro lado, são uma fonte de empregabilidade que deve ser mantida.

Consegue imaginar como seria a sua vida, a nível pessoal e profissional, num país não democrático?

Para mim é um cenário inimaginável e irreal, porque nunca o vivenciei, por isso não consigo explicar a minha vida num país não democrático. Como nunca vivi com repressão ou censura, apenas senti os limites à minha liberdade no que decorre da Constituição e da Lei, mas esses parecem-me perfeitamente aceitáveis.

O que foi para si o 25 de Abril de 1974?

Tinha apenas 4 anos no 25 de Abril e a Revolução dos Cravos teve um impacto directo, em mim, residual. Contudo, reconheço a importância para o país. Enumerar aqui todas as profundas mudanças, que são amplamente “revisitadas” anualmente, seria repetitivo, mas não posso deixar de destacar a importância crucial que teve para as mulheres portuguesas e para a alteração do seu estatuto.

A Inteligência Artificial está presente, cada vez mais, na nossa vida. Sente-se confortável com isso?

Sinto-me sobretudo desconfortável com a rapidez com que a tecnologia evolui porque não nos dá tempo para nos habituarmos à mudança, que parece ser, essa sim, a única constante, nem para amadurecer as suas implicações. No que se refere à IA em específico, sinto-me particularmente receosa com a possibilidade de, através dela, se apresentarem como reais e verdadeiros factos e situações absolutamente falsos. Também me sinto expectável com algumas das suas potencialidades e confesso que alguns conteúdos gerados me provocam um certo divertimento. Há semanas senti a presença da Inteligência Artificial de forma muito concreta quando o carro que conduzia, inesperadamente, falou comigo e me provocou uma gargalhada.

As alterações climáticas são uma realidade ou há muito exagero no que é apresentado? Alterou alguns comportamentos?

As alterações climáticas são, sem dúvida, uma realidade, mas nem sempre é fácil identificarmos as fontes fidedignas de muita da informação que recebemos a este respeito. O que alterei? No meu caso, comecei a ter mais cuidados com o gasto de água, aumentei a leitura de documentação em formato digital, evitando a impressão em papel, diminuí os consumos de electricidade através da colocação de painéis solares e acautelo uma série de materiais de desperdício através da reciclagem.

O que é que não lhe perguntamos que gostava de responder?

Gostaria que me tivessem perguntado como é que as famílias, em particular as famílias com filhos (onde me incluo), conseguem gerir o ritmo de vida alucinante que lhes impomos actualmente e, em simultâneo, como fazem a gestão da recolha e debate com os seus filhos da informação/notícias reais, que não sejam alvo de manipulação. Mas isso, por si só, daria um tema de outra entrevista...

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