Entrevista | 07-02-2024 18:00

Não compete à Câmara de Torres Novas financiar a Nersant com a compra de um pavilhão

Não compete à Câmara de Torres Novas financiar a Nersant com a compra de um pavilhão
Luís Silva, vice-presidente da Câmara de Torres Novas e responsável pelo pelouro do Urbanismo desde 2015

O pavilhão de exposições da Nersant, que está ao abandono e poderá servir para tirar a associação empresarial do actual sufoco financeiro, é uma infraestrutura que interessa ao município de Torres Novas, mas para o vice-presidente da câmara pagar dois milhões de euros é impensável.

A vedação da nascente do rio Almonda pela empresa Renova, a investigação da Polícia Judiciária aos serviços de Urbanismo e a Saúde são outros dos temas desta entrevista onde Luís Silva revela estar disponível para ser o candidato socialista à presidência do município.

Com 30 anos de vida autárquica o vice-presidente da Câmara de Torres Novas, Luís Silva, diz-se pronto para entrar no combate político para ser o cabeça-de-lista pelo Partido Socialista ao município nas próximas eleições autárquicas. Caso o PS aposte noutro candidato, o mais provável é reformar-se da política, mas não esconde que gostava de “ir muito mais longe” e que se sentiria confortável a vestir a pele de presidente num município onde conhece “as pessoas, as dinâmicas, os problemas e dificuldades”. Mas, confessa, “preferia não ir a votos contra” o actual vereador independente e ex-presidente do município eleito pelo PS, António Rodrigues. “Não por medo”, ressalva, mas porque foi com ele que, juntamente com o actual presidente, Pedro Ferreira - que já não se pode recandidatar e do qual vai “sentir falta” -, começou o seu percurso autárquico.
Um percurso que conta com vários anos à frente da concelhia do PS, no cargo de presidente da assembleia municipal e, nos últimos oito anos, nas funções de vereador responsável pelo Urbanismo, que é “uma cruz pesada de carregar” e um pelouro que tem motivado um rol de críticas, ora vindas da oposição ora de cidadãos que se queixam da morosidade dos processos. “A oposição aproveita-se [politicamente] quando sabemos que o Urbanismo é difícil em qualquer município porque é o pelouro que interage mais com os munícipes e, na maioria das vezes, os processos nem dependem só do município mas de outras entidades”, diz, acrescentando que além da plataforma electrónica para melhorar o serviço vão ser admitidos mais três fiscais de obra.
Sobre o alegado caso de corrupção nos serviços de Urbanismo do município Luís Silva é peremptório: “Sei que a Polícia Judiciária investigou e detectou situações, agora o circuito de funcionamento do Urbanismo é muito fechado. Uma pessoa só por si não consegue manobrar todo o processo porque passa por várias pessoas até chegar a mim para o despacho final. Não acredito que haja aqui uma situação dessas”, diz, acrescentando que a autarquia não foi chamada a pronunciar-se.
No que o vice-presidente não queria crer, quando veio a público a investigação da PJ com base numa denúncia anónima sobre a manipulação de licenciamentos, foi no seu pedido de demissão exigido pela PSD. “Chamo a isso política de baixo nível, pouco ética, o aproveitar de uma situação onde não sou visto nem achado. Fiquei magoado”, afirma o autarca socialista que nas reuniões públicas do executivo tem sido várias vezes confrontado com reclamações e questões acerca do serviço de Urbanismo.
No começo de um novo ano, e após um 2023 marcado pela crise na habitação, o vice-presidente faz notar que o centro histórico da cidade “tem tido grandes mudanças e grandes processos de reabilitação” com “muitas casas velhas a serem recuperadas como nunca se viu nos últimos anos”. Para isso, acredita, terá contribuído a isenção total de taxas para a reabilitação de casas no centro histórico, medida que entrou em vigor no início do actual mandato presidido por Pedro Ferreira. Luís Silva realça ainda, em resposta à questão sobre perda de dinamismo nessa zona da cidade, que têm sido criados novos espaços como jardins e a requalificação da Central do Caldeirão que também valorizam o centro histórico. “Mas a questão do comércio está muito nas mãos dos particulares. Temos feito os vouchers de Natal que são um grande incentivo mas há outras medidas que têm de se pensar como a redução das rendas”.

“A urgência de Torres Novas só serve para receitar aspirina”
Luís Silva, que recentemente esteve afastado das lides autárquicas durante semanas por motivos de saúde, garante que foi bem tratado no serviço de internamento do hospital da cidade onde, através das dinâmicas internas, diz ter-se apercebido que, lamentavelmente, “a urgência de Torres Novas só serve para receitar aspirina”. Para se ir a uma urgência no Médio Tejo onde se tem acesso a especialidades médicas, acrescenta, “vai-se a Abrantes” porque em Torres Novas “fazem-se umas análises, um raio-X, mas se há um problema mandam para outro lado”.
Na sua opinião “continua a ser objectivamente mau” o Médio Tejo ter os serviços hospitalares distribuídos por três cidades - Abrantes, Tomar e Torres Novas. “Foi um erro e continua a ser um erro a saúde estar distribuída por três hospitais. Os edifícios têm custos elevadíssimos mas não é fácil agora conseguir-se juntar os três num”, refere. Relativamente à falta de médicos de família o vice-presidente considera que o projecto Bata Branca, comparticipado pela autarquia que ajuda a governar, é uma espécie de analgésico que não resolve um problema que é crónico e afecta todo o país. “Oiço falar e criticar muito mas não sei se alguém sabe qual é a solução para a falta de médicos. Não sei se com os médicos a ganhar mais dinheiro se resolve o problema ou se só se vai aumentar os custos da saúde. Os custos do SNS cresceram exponencialmente nos últimos anos e não foi por aumentarem que os problemas ficaram resolvidos”, remata.

A venda do pavilhão da Nersant e o ataque ao presidente Pedro Ferreira

Pagar dois milhões de euros por um pavilhão de exposições votado ao abandono há uma década, que vai encher os bolsos à Nersant, não lhe parece uma deslealdade para com os munícipes?
Nós não estamos para pagar os dois milhões, isso são questões que estão em análise. Reconhecemos a situação financeira delicada mas não nos compete a nós financiar a Nersant. Reconhecemos também a importância estratégica daquele pavilhão, que está numa saída da A23 e merece um outro tipo de utilização que não teve de há uns anos para cá. Mas estar a avançar com números não faz sentido neste momento.
Faz realmente falta ao município uma infraestrutura daquelas?
É uma mais-valia para qualquer município aquele pavilhão. Está bem localizado, tem um bom auditório, permitiria realizar eventos e ter um mercado abastecedor do Médio Tejo, que chegou a ser uma questão que equacionámos em tempos.
Sentiu-se no ataque feito ao presidente Pedro Ferreira com a pintura de uma frase ofensiva no edifício do CRIT com o seu nome?
Claro que senti. O Pedro Ferreira não merecia aquilo. É de uma injustiça tremenda. Ele foi presidente do CRIT dezenas de anos, foi ele que o fundou mas aquele painel não foi iniciativa sua. Foi lá posto depois dele sair e não merecia que lhe fizessem aquilo. Condeno, como condeno todo o acto de vandalismo.
O Centro Tecnológico para a Indústria - parceria da Nersant com a Escola Profissional de Torres Novas e a câmara municipal – vai chegar a ver a luz do dia ou caiu definitivamente por terra?
Era um projecto com uma candidatura associada que não foi aprovada e neste momento está parado. Se voltar a haver candidaturas pode-se equacionar a recandidatura. Era um bom projecto, mais de carácter prático, mas um bom projecto para Torres Novas.
Conhece bem, de outras estruturas, o presidente da Nersant. Esperava mais de António Pedroso Leal ou já estava a contar com esta forma de gestão?
Conheço bem o António Pedroso Leal, mas sem ovos não se fazem omeletes. Está aflito de certeza porque o problema financeiro [da associação empresarial] é extremamente grave. E isso acaba por constranger; ele não tem oportunidade de modificar ou revolucionar.
Será só a parte financeira ou António Pedroso Leal terá ali outro tipo de amarras da anterior gestão?
Não sei. Esses acordos entre eles não os conheço.

Vedação da nascente do Almonda pela Renova é “para proteger”

Que opinião tem sobre a postura que a Renova tem adoptado relativamente à nascente do rio Almonda?
É um assunto do qual tenho dificuldade em falar porque a Renova para Torres Novas é uma mais-valia. É uma marca para este concelho e uma marca nacional com preocupações ambientais acima da média. A nascente é uma polémica que agora se instalou. Aquela vedação tem dezenas de anos e o que a Renova invoca é que retirá-la pode pôr em risco as pessoas.
E partilha dessa opinião?
Aquilo tem uma certa profundidade, há sempre um risco. Se é elevado ou não, não sei avaliar, mas terá os seus perigos. Repare que a Renova alegou que a GNR os multou numa linha de água lá perto por não ter uma vedação...
Está a dizer que a Renova não pôs a vedação como forma de vincar que a nascente é sua propriedade mas para proteger as pessoas, é assim?
Entendo que seja para proteger, se aquilo é deles ou não é outra história. Se amanhã aparecer lá um problema, se alguém cair lá para dentro quem é o culpado se está em terrenos da Renova?
Não o surpreendeu a queixa apresentada contra cidadãos que ali quiseram passar o Dia da Espiga?
Não sei se a Renova está a gerir isto da melhor forma mas também não sei se há outra forma de gerir. Estamos a falar de um grupo pequeno de cidadãos e com isto a Renova acaba por estar a fazer um ruído superior ao número de pessoas que se queixam. Defendo que a nascente deve ser limpa e criado lá um espaço de visitação, que preferia que fosse de livre acesso.
E quanto ao ruído de alguns partidos: traduz-se numa forma de aproveitamento político?
Os partidos da esquerda preocupam-se muito com as empresas. Por exemplo, fizeram um grande alarido quando caiu a chaminé da antiga fábrica [António Alves] durante a construção do supermercado. Ou seja, valorizam muito as empresas fechadas e eu valorizo mais as empresas abertas porque são essas que geram postos de trabalho.
Se a Renova não tivesse tanto peso a nível de impostos e emprego no concelho talvez a postura do município fosse mais autoritária, menos complacente e a vedação já lá não estivesse...
Há sempre uma relação, se dissesse que não havia era hipócrita e tenho o hábito falar verdade. Atribuo a importância à Renova que ela tem, é uma empresa de relevância nacional que tem estado a investir cá ao longo dos anos. Mas se falamos de normas essas são para cumprir, não há excepções. Agora, a Renova merece-nos uma atenção especial enquanto empresa.

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