Nesta família ninguém teve nada de mão beijada e sempre aprendi a respeitar os outros
Gonçalo Eloy é sócio-gerente da AgroRibatejo, uma empresa familiar de sucesso, que celebra este mês setenta anos de sucesso.
Qual foi o principal marco da AgroRibatejo ao longo dos seus 70 anos de história? O maior marco foi a sua criação, em 1954, graças ao empreendedorismo do meu avô, José Virgílio Eloy Godinho, que identificou uma lacuna no mercado nacional na área de comercialização de peças para tractores agrícolas e industriais. Começou a vendê-las a preço mais baixos do que aqueles o mercado oferecia na altura e marcas como a Nardi, Case, Hanomag e Berco confiaram na estrutura da AgroRibatejo.
Como foi o crescimentos nos primeiros anos? A Agro Ribatejo cresce ao perpetuar o projecto da empresa. Quando se ganha, poupa-se. Investe-se em Stocks em instalações e recursos humanos. O chamado conservadorismo financeiro poderá ter sido um grande factor de sucesso. Não desperdiçamos recursos ganhando desta forma flexibilidade de decisão em momentos chaves em que necessitamos de investir sem recorrer ou depender de terceiros.
O facto de ser uma empresa de cariz familiar também contribuiu para o sucesso? Sendo uma empresa de cariz familiar tem uma cultura muito vincada e muito própria que assenta naturalmente nas ideias do seu fundador. Esforço, rigor, sacrifício, empenho e dedicação foram as principais armas. O meu pai, José Julio Eloy, conhecia bem os métodos e as exigências do meu avô e começou a trabalhar aos 18 anos na AgroRibatejo, semanas depois de esta ter aberto ao público. E tomou conta da casa, quando o meu avô saiu para Lisboa para assegurar a abertura de outros negócios ligados à nossa área de actividade, na altura com o meu tio José Virgílio Eloy .
Clientes e fornecedores também são essenciais para o sucesso. De que forma se relacionam com eles? Ao longo de todos estes anos mantivemos grande proximidade com os nossos clientes que confiam nos nossos conhecimentos e nos produtos por nós comercializados. E nunca falhámos um pagamento a um fornecedor. A nível nacional e internacional todos nos conhecem como homens de palavra. E essencial tem sido também o empenho dos trabalhadores e o facto de contribuirmos ao longo de sete décadas para o desenvolvimento da nossa região. Não só com os produtos comercializados mas por todos os postos de trabalho criados.
Tem sido fácil encontrar as pessoas certas? Temos conseguido fazê-lo e todos os colaboradores que têm trabalhado connosco têm sido também a grande alavanca do nosso crescimento. O talento das pessoas e a forma como lideramos a empresa assegura a nossa adaptabilidade ao meio em que actuamos.
Quais foram os piores momentos que a empresa viveu? A empresa, naturalmente, tem passado por altos e baixos. Todas as crises mundiais afectam a produção da nossa indústria. A escassez de matéria-prima, os transportes, os custos energéticos sempre balancearam as nossas tabelas de preços. Arriscamos muito nas compras que fazemos diariamente e nos tempos actuais a incerteza é ainda maior pois a volatilidade do mercado é uma constante.
As guerras e a pandemia, influenciam de que forma a vossa actividade? Os recentes ataques a navios, no Mar Vermelho, por exemplo, tornaram os transportes cinco vezes mais caros, já para não falar na época da Covid-19 em que os registos percentuais foram incríveis ficando as mercadorias nos nossos armazéns com um custo final assustador. Como se não bastasse, sem sabermos o porquê, as tabelas das nossas representadas baixam drasticamente e ficamos em casa com um stock pesadíssimo a nível de custo o que nos causa muitas dificuldades na venda.
Sempre disse ao meu pai que queria seguir os seus passos
Qual foi o seu percurso na AgroRibatejo? Nas férias escolares de Natal e de Verão, como queria ganhar uns trocos para estar mais independente, pedia sempre ao meu pai para me arranjar umas horas na casa de bicicletas do meu tio António Eloy Godinho onde ajudava na contagem dos pipos, câmaras de ar e afins. Era o meu pai que me pagava do bolso dele, mas para mim era um serviço que estava a prestar e estava a ter o meu retorno.
Não começou logo na AgroRibatejo? Mais tarde comecei a fazer alguns trabalhos na AgroRibatejo, nomeadamente inventários de peças, limpeza de armazéns e prateleiras. E aos 16 anos, depois das aulas, ia sempre que podia treinar com o empilhador. O sr. Rafael Ferreira e o sr. Luís Coelho ficavam em pânico, pois eu dizia sempre para não contarem nada ao meu pai porque sabia que ele não me iria autorizar. Carreguei e descarreguei centenas de paletes até que um dia o nosso vizinho na zona industrial, o meu querido amigo Fernando Lucas, liga ao meu pai e expõe a situação avisando que poderia haver algum acidente. A partir desse dia ninguém tinha ordem para me deixar mexer no empilhador.
E nunca mais mexeu nele? Mais tarde. Num fim-de-semana um cliente falou com o meu pai para carregar algum material. Fui com ele e com alguma timidez pediu-me para carregar com muito cuidado o carro ao cliente. Acho que nessa noite nem dormi. Estava mesmo orgulhoso do meu feito e principalmente pelo voto de confiança dado pelo meu querido pai.
E continuou a trabalhar na empresa? Iniciei a minha licenciatura no ISLA em Santarém em 1993. Nos primeiros anos trabalhava no balcão de peças da parte da manhã e nos últimos anos, até 1998, fazia o horário completo e estudava à noite. Quando terminei o curso vesti o meu fato de “gala”, entrei no gabinete do meu pai (ainda na Rua Dr. Teixeira Guedes) e perguntei onde é que me sentava. Ele olhou para mim com um ar muito sério e disse que o melhor era tirar a gravatinha e voltar para o balcão onde os meus colegas estariam à minha espera para ajudar no atendimento. Mais uma aprendizagem que nunca irei esquecer.
Conseguiu o seu lugar sem o benefício de ser filho do patrão? O facto de ser sócio desta casa desde Julho de 2007 e, por deliberação, em Abril de 2008 passar a sócio-gerente, demonstra um acreditar por parte dos restantes sócios no trabalho desenvolvido até então. Nesta família ninguém teve nada de mão beijada e há muito eu sabia que se não trabalhasse com muito afinco jamais seguiria o que tanto ambicionava.
Onde é que a AgroRibatejo quer estar nos próximos 10 anos? Queremos continuar a representar as melhores marcas, continuar estáveis a nível financeiro, ser o parceiro certo para os nossos clientes, fidelizar novos clientes e, porque não, a nível pessoal conseguir incutir no meu filho Salvador e na minha filha Mariana o interesse por um mundo super competitivo que não nos dá um minuto de descanso mas que nos torna dia-a-dia mais fortes e realizados.
Que produtos e marcas quer destacar nestes 70 anos? O fabricante número 1 de material de rasto BERCO, marca que representamos em Portugal desde 1958; as Gadanheiras Gribaldi Salvia; o material de desgaste Metalurgica Valchiese; os depósitos de combustível transportáveis e fixos da marca AMA; correntes em corracha, peças para motores e material para mini escavadoras da marca ITR; kits com rastos em ferro ou borracha para ceifeiras da marca Poluzzi, não esquecendo as alfaias NARDI que foi uma marca importantíssima no início da nossa empresa bem como os tractores Hanomag e Case que nos obrigaram a expandir o negócio para Lisboa e para o Porto.
No aniversário esteve Luca Bellintani, BERCO. Foi um reconhecimento do vosso trabalho? O Luca estuda o desempenho dos materiais nos diferentes tipos de ambientes e terrenos. E também esteve Francesca Carnevale responsável máxima pelo Marketing que se fez acompanhar por uma equipa de produção/filmagem composta por Andrea Carpentieri e Luca Fortini. Escolheram o nosso país e a AgroRibatejo como seu distribuidor histórico para fazer um filme que irá ser lançado brevemente sobre manutenção de medições dos diversos sistemas rodantes do material de rasto. Dedicámos um dia a ambiente de floresta e outro dia em ambiente de pedreira. Agradecemos desde já todos os esforços dos nossos clientes + VLO e Rafaeis Mármores S.A. que disponibilizaram uma máquina e um operador para que as filmagens fossem realizadas.