Entrevista | 05-06-2024 10:00

Filomena Rodrigues: a dama de ferro que ganhou sangue frio nos tribunais

Filomena Rodrigues: a dama de ferro que ganhou sangue frio nos tribunais
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
Filomena Rodrigues é eleita pelo CDS-PP na Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira

Com uma carreira como oficial de justiça, Filomena Rodrigues está há três décadas ligada ao CDS-PP. É presidente da concelhia de Vila Franca de Xira e conhecida por ser de pulso firme. Nos tribunais ganhou sangue frio, o mesmo que teve quando votou contra a desagregação de freguesias ou quando não se levantou numa sessão solene do 25 de Abril. Ajuda os sem-abrigo desde 1994 na Comunidade Vida e Paz e é uma mulher de fé.

Filomena Rodrigues é militante do CDS-PP há mais de 30 anos e desde há quatro anos que tem a chave do Palácio Caldas, a sede lisboeta dos centristas. Membro do conselho nacional do partido, eleita em congresso, a antiga oficial de justiça começou a militância em Castelo Branco, logo após o 25 de Abril de 1974, pela mão de um falecido advogado. No concelho de Vila Franca de Xira é conhecida por ser o rosto do CDS-PP, estando à frente da concelhia até ao final do ano, com intenção de renovar a candidatura.
Enquanto eleita única na Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira votou “em consciência” contra a desagregação das uniões de freguesias de Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa, de Alverca do Ribatejo e Sobralinho e de Castanheira do Ribatejo e Cachoeiras, em Dezembro de 2022. Na altura o Partido Socialista votou contra as propostas que acabaram por ser chumbadas com a ajuda do voto único do CDS-PP. “Não sabia que o meu voto ia ter peso porque não tinha falado com as outras bancadas. As freguesias estão como estão porque foi uma exigência da troika e deviam era ter começado pelas câmaras municipais”, afirma.
Para Filomena Rodrigues, cai por terra o argumento de que a gestão das freguesias piorou com a agregação, até porque só assim se consegue garantir partilha de recursos entre juntas. A centrista recorda a O MIRANTE que em 12 de Junho de 2012 a CDU e o PS recusaram apresentar ao Governo uma proposta alternativa de agregação de freguesias o que levou a que o desenho actual tivesse sido feito a eito.

Coligação com o Chega posta de parte
Ainda é cedo para falar das eleições autárquicas, uma vez que o assunto ainda não foi discutido a nível nacional, mas está já assente que o CDS em Vila Franca de Xira não se coligará com o Chega para a câmara. Na assembleia municipal e nas assembleias de freguesia o CDS está a fazer sozinho o mandato, apesar de se ter candidatado coligado com o PSD nas autárquicas em 2021. “Fizemos um acordo de coligação e houve um incumprimento por parte do PSD. A lei dita que quando a coligação não ganha os partidos dividem-se, foi o caso”, explica.
O concelho de Vila Franca de Xira devia ser servido pelo ensino superior, quanto mais não seja ter um politécnico na Quinta da Marinha. Mais oferta hoteleira, um grande parque de estacionamento e mais habitação municipal são algumas das obras defendidas por Filomena Rodrigues.
O CDS-PP é a favor do progresso, afirma, e por isso a linha ferroviária de alta velocidade tem de avançar, mesmo que implique uma duplicação da ferrovia em Vila Franca de Xira e Alhandra. “Podem haver outras soluções mas se entenderam que é mais barato assim… com o novo aeroporto não sabemos como será mas na Europa querem que a ferrovia se concretize até 2030. O país tem de avançar”, declara.
Considera também que a projecção online das reuniões da Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira não fazem sentido. As sessões decorrem muitas vezes em locais com fraca Internet, além de que por causa da imagem as bancadas da oposição estão todas muito juntas o que “tem causado fricção”.

Sangue frio nos tribunais e ajuda aos sem abrigo
Com uma vida passada nos tribunais, Filomena Rodrigues aprendeu desde logo a não vergar. Firme e determinada, garante que nunca teve medo e sempre se pautou pelo rigor profissional e isenção. Nunca se sentiu discriminada por ser mulher ou por ser militante do CDS-PP. Trabalhou muitos fins-de-semana e fora de horas. Passaram por si processos mediáticos como o caso das FP-25, o caso dos hemofílicos, o de Pedro Caldeira (corrector), caso indesp, o caso do GNR que decapitou um suspeito no posto de Sacavém, entre outros. Trabalhou ao lado daqueles que considera terem sidos os melhores: a magistrada Maria José Morgado, Francisca Van Dunem, Lucília Gago, Joana Vidal Pinto Monteiro.
Apesar da sua aparente rigidez, Filomena Rodrigues é reconhecida pelo humanismo e causas sociais. Desde 1994 que presta apoio aos sem abrigo, enquanto voluntária da Comunidade Vida e Paz, e faz parte de uma das 56 equipas que de quinze em quinze dias estão na rua. “Abalou-me ver a primeira pessoa morta quando cheguei ao local e há cerca de quatro anos tive de ajudar os agentes da autoridade a meter o corpo de uma senhora de 20 anos num saco. Um dos agentes estava a choramingar e eu disse: vamos ter calma que eu ajudo a pôr a senhora no saco. Já no tribunal tinha sangue frio”, diz.
Talvez tenha sido o mesmo sangue frio que teve, quando numa sessão solene da assembleia municipal em 2014, que assinalava o 25 de Abril, tenha sido a única a ficar sentada quando se cantou o Grândola Vila Morena. “O que encerra uma sessão solene é o hino nacional. Sei a Grândola e posso cantá-la noutro contexto, não em assembleia. Sou membro da Associação Salgueiro Maia e quem deu a senha para os militares saírem foi o Depois do Adeus do Paulo de Carvalho”, conclui.

Propostas aprovadas mas algumas sem concretização

Há cerca de quatro meses o CDS-PP conseguiu formar a Juventude Popular no concelho de Vila Franca de Xira. Já em sede de assembleia municipal Filomena Rodrigues viu ser aprovada por unanimidade a criação da Carta Municipal de Habitação, onde defende rendas apoiadas e/ou acessíveis e incentivo às cooperativas de habitação. Também viu ser aprovada uma proposta para incentivar a fixação de médicos no concelho com apoio ao pagamento das rendas ou criar uma casa transitória para os clínicos. Na gaveta ficou a reabertura do apeadeiro da Quintas das Torres, que serviria para a população apanhar o comboio naquele local. Uma proposta aprovada mas sem efeito prático.

Uma católica praticante que faz voluntariado

Filomena Rodrigues tem 71 anos e está casada há 49 anos com Mário da Costa, membro da Assembleia de Freguesia de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz, também eleito pelo CDS-PP. Tem dois filhos e dois netos com os quais divide o tempo com o trabalho que faz no CDS-PP.
Reformou-se da carreira de oficial de justiça com 57 anos e é membro do Clube Rotário de Vila Franca de Xira. É voluntária na Comunidade Vida e Paz e pratica natação no SL Benfica. Mulher de fé, assume-se católica praticante e frequenta a missa.

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