Entrevista | 17-07-2024 12:00

Manuel Nunes sai dos Bombeiros de Samora Correia decepcionado com a Câmara de Benavente

Manuel Nunes sai dos Bombeiros de Samora Correia decepcionado com a Câmara de Benavente
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
Manuel Nunes esteve 33 anos na direcção dos bombeiros de Samora Correia

Manuel Nunes esteve mais de três décadas ao serviço da Associação Humanitária dos Bombeiros de Samora Correia e deixou este ano o cargo de presidente da associação

Em entrevista a O MIRANTE diz que as quezílias pessoais entre o presidente da Câmara de Benavente e o comandante Miguel Cardia prejudicam os bombeiros e que sai do cargo directivo de consciência tranquila porque deixou a associação sem dívidas. Fica a saudade e o capacete de bombeiro que tem na sala e para o qual olha todos os dias.

Os Bombeiros de Samora Correia têm sido prejudicados devido às quezílias pessoais entre o presidente da Câmara de Benavente, Carlos Coutinho, e o comandante da corporação e comandante municipal da Protecção Civil, Miguel Cardia. “São incompatíveis”, garante Manuel Nunes, que saiu recentemente do cargo de presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Samora Correia (AHBVSC), após ter estado 33 anos nos órgãos sociais da instituição, sem interrupções.
Manuel Nunes é da opinião que o mau relacionamento entre os dois responsáveis pode estar a empatar o regulamento municipal de apoio aos bombeiros, e defende que o valor do subsídio anual atribuído pela câmara às duas corporações do concelho deve ser diferenciado. “Samora Correia tem o triplo da dimensão territorial em relação a Benavente e tem mais do dobro dos bombeiros. O subsídio não pode ser igual para as duas corporações. A prova disto é a atribuição anual da Autoridade Nacional de Protecção Civil que atribui a Samora Correia entre 85 a 86 mil euros por ano e a Benavente não chega aos 70 mil”.
Manuel Nunes tem esperança que os conflitos se resolvam nas próximas eleições autárquicas e mantém total confiança em Miguel Cardia. “No concelho de Benavente não vejo ninguém que pudesse substituir o Miguel Cardia. Mesmo uma pessoa de fora tinha de ser muito credenciada, porque ele tem muita formação”, sustenta.
Durante dois anos, Manuel Nunes desempenhou o cargo de presidente da AHBVSC porque não havia mais ninguém interessado no cargo. A direcção é constituída por cinco elementos sendo que um é o comandante por inerência. Atribui o desinteresse das pessoas em fazer parte dos órgãos sociais porque “estão bem servidas”.
Recorde-se que foi eleita uma nova direcção para os Bombeiros de Samora Correia, depois de não terem aparecido listas interessadas em concorrer. “A nova direcção presidida pela Irina Batista é bastante capaz. Fizemos uma passagem tranquila para os novos órgãos sociais. São pessoas interessadas e que vieram para ficar”, considera o antigo dirigente.

As mágoas de Manuel Nunes
Manuel Nunes confessa que sai dos Bombeiros de Samora Correia com duas mágoas. Uma delas foi o facto de a Câmara de Benavente ter optado por não avançar com a compra dos terrenos do antigo quartel dos bombeiros, ao fim de dois anos e meio de negociações. “Carlos Coutinho marcou uma reunião connosco e com os vereadores e disse que não ia comprar os terrenos. Andámos na expectativa esse tempo todo. Fiquei decepcionado porque mantive a esperança. Na altura, uma das razões apontadas pelo director financeiro da câmara era que o terreno tinha sido doado à corporação e que a autarquia não o podia comprar. Depois até acabámos por fazer melhor negócio e vendemos o terreno a uma imobiliária”, revela.
Este ano, a não atribuição do Prémio Carlos Gaspar ao segundo comandante dos Bombeiros de Samora Correia, António Gomes, é outra das mágoas que carrega. O prémio, promovido pela Junta de Freguesia de Samora Correia, devia ter ido para o colega que é o único voluntário do comando de bombeiros e que não ganha dinheiro. “Está nos bombeiros há 43 anos e trabalha no Hospital de Vila Franca de Xira. Está sempre disponível e era merecedor. Podia dizer o porquê de não ter sido atribuído o prémio mas não o vou fazer”, afirma.

Presidente da Junta de Samora Correia precipitou-se
A Junta de Freguesia de Samora Correia precipitou-se na decisão de não contratar os bombeiros para fazer serviço na semana taurina. Manuel Nunes garante que em Dezembro de 2023 o presidente Augusto Marques foi alertado de que a corporação da cidade ia cobrar os serviços prestados à junta, tendo em conta os custos elevados. “A junta só nos dá 3600 euros e temos muitos gastos. Alertámos a junta em devido tempo. O Augusto disse que ia ver e nada... E depois entregou o serviço à Cruz Vermelha. Precipitou-se”, opina.
O momento mais difícil que se recorda nos bombeiros foi a morte do adjunto de comando, José Pernes. Tem pena que a associação não consiga pagar melhores vencimentos porque só em salários são mais de 50 mil euros mensais. Defende por isso a profissionalização dos soldados da paz.
Manuel Nunes foi agraciado no aniversário da corporação pela Liga dos Bombeiros Portugueses mas o ponto mais alto foi a atribuição do capacete de bombeiro. No concelho de Benavente só o tem ele e o antigo presidente da autarquia, António José Ganhão. “O capacete está na minha sala para eu o ver todos os dias. É o reconhecimento do meu trabalho e dedicação que tive aos bombeiros. Nunca me aproveitei dos bombeiros para nada, sempre fiz tudo de forma desinteressada”, diz comovido.
Afinal o melhor reconhecimento que podia ter foram as respostas dos colegas à carta emotiva que escreveu a todos quando se despediu. “Demorei a escrever a carta mas foi a mais sincera que escrevi”, termina com um sorriso.

Uma vida dedicada aos Bombeiros e ao associativismo

Manuel Nunes, 73 anos, nasceu no Alentejo mas mora em Samora Correia desde os 15 anos. Trabalhou nas OGMA, em Alverca, enquanto se dedicava ao movimento associativo e voluntariado. Aos 19 anos começou a ter pombos correio e integrou a direcção da associação columbófila em Samora Correia. Teve pombos durante 15 anos.
Foi tesoureiro do Grupo Desportivo de Samora Correia em 1983 e 1984 e foi operador de cinema na antiga Casa do Cinema de Samora Correia. Em Abril de 1991 entrou como tesoureiro para os Bombeiros de Samora Correia, ainda no antigo quartel. Chegou a fazer parte da Assembleia de Freguesia de Samora Correia durante dois mandatos, eleito pela CDU. Nos bombeiros passou por vários cargos durante 33 anos, e este ano deixou a presidência da associação após novas eleições.

Contas certas

A associação humanitária pagou quase dois mil euros por mês, durante 12 anos, à Caixa de Crédito Agrícola por causa do empréstimo que contraiu com a instituição bancária para acabar de construir o actual quartel. Manuel Nunes e o tesoureiro Vítor Parreirinha tinham acordado em sair dos cargos quando a dívida ao banco ficasse saldada. “Ficámos sem dinheiro mas pagámos o empréstimo. Eu queria sair dos bombeiros com tudo certo para quem viesse a seguir só ter as dívidas e contas correntes”, conclui.

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