Entrevista | 23-07-2024 18:00

“Samora Correia é cidade há 15 anos mas de cidade não temos nada”

“Samora Correia é cidade há 15 anos mas de cidade não temos nada”
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
Ruben Vicente

Ruben Vicente, coordenador do Chega no concelho de Benavente, enumera vários problemas que afectam quem vive nesse território e dá um exemplo: “Numa altura em que se fala do aeroporto ainda não temos um centro de saúde a funcionar 24 horas em Samora Correia”.

O presidente da concelhia de Benavente do partido Chega, Ruben Vicente, partilha as suas opiniões sobre a situação actual do território onde vive e trabalha, assim como a visão do partido para o futuro. Numa altura em que se fala do novo aeroporto a construir no concelho, Ruben Vicente critica a inexistência de um centro de saúde aberto 24 horas em Samora Correia, obrigando os residentes a deslocarem-se a Vila Franca de Xira ou a Benavente em caso de emergência. “Isto é ridículo, não há uma gestão com pés e cabeça”, afirma, reforçando: “O aeroporto é muito bonito, sim senhor, mas aqui ao lado, na Coutada Velha, ainda não há saneamento. Que concelho é este? Vivemos onde? Em 1940 ou 1960? Estamos muitos limitados”.
A falta de transportes públicos adequados é outro problema. “Em Samora não há transportes para Alcochete, ninguém vai para Setúbal. Não faz sentido. Se me disserem que só há três pessoas para ir para Setúbal, se calhar agora só há três, mas há muita gente que trabalha lá”, explica. “Os autocarros para Vila Franca de Xira, a partir de uma certa hora da noite, também são escassos. Por isso, a rede de transporte não existe, fala-se em criar uma entre as câmaras municipais, mas não temos nada”, conclui.
Ruben Vicente aponta o dedo à desorganização em áreas como o saneamento, transporte público e infraestruturas em Samora Correia. “Somos cidade há 15 anos, mas de cidade não temos nada. Continuamos com lixo espalhado pela rua, é uma desorganização brutal a nível de tudo. Na avenida principal, em Samora Correia, vê-se que não há controlo nenhum até dos próprios lixos, os caixotes estão à frente, atrás… dois num sítio”, vinca. Aponta também a falta de modernização dos postes de electricidade na via pública. “Os postes ainda são todos à moda antiga. Fizeram-se obras em passadeiras na ciclovia e podiam ter aproveitado para pôr os cabos debaixo de terra, mas continuam pelo exterior”, lamenta.

Festivais à borla e GNR com dois carros para um concelho inteiro
Ruben Vicente questiona também a pertinência de eventos como o Festival do Arroz Carolino, que considera um investimento mal direccionado. “Acho que há promoções melhores em vez do arroz carolino”. O dinheiro, no seu entender, poderia ser melhor utilizado para apoiar serviços essenciais como a GNR e os bombeiros. “Os eventos de borla foram no tempo dos comunistas há 50 anos. Hoje em dia já nada é de borla. Esse dinheiro, mesmo que a câmara tenha que gastar 500 mil euros, dá para ir buscar algum retorno que pode depois servir para ajudar os bombeiros, a GNR ou aquilo que for mais premente”, defende.
O presidente da concelhia do Chega menciona ainda a necessidade de um novo quartel para a GNR em Benavente, afirmando que o actual não tem condições adequadas. “A GNR em Benavente, há umas semanas, tinha um carro a circular e a GNR de Samora tem um carro a circular. Se disséssemos que íamos cobrar três ou quatro euros no Festival do Arroz Carolino e oferecêssemos um carro ou dois à GNR, estaríamos a ajudar a população de uma forma concreta”, propõe Ruben Vicente. O político, de 44 anos, afirma que o objectivo do Chega em Benavente nas próximas autárquicas é ganhar. “Queremos mudar a maneira de pensar neste concelho e dar mais dignidade às coisas. Queremos ganhar tanto na câmara como nas freguesias, será sempre esse o nosso objectivo”, afirma.
Rúben Vicente também abordou o tema sensível da integração de imigrantes e das comunidades de etnia cigana, reiterando a posição do Chega: “O nosso presidente, nisso, tem sido radical, dentro daquilo que é – como ele próprio diz – nada contra os imigrantes ou contra os ciganos. Estamos a falar contra o que nós pagamos para esta gente não fazer nada, este é problema”, declarou, defendendo a necessidade de um controlo mais rigoroso da imigração. “Temos um aumento enorme na comunidade de Samora Correia porque falaram em dar casas, as coisas aparecem e isso é um ponto assente. Obviamente andam a viver à conta do nosso Estado, o que não é justo”, diz.

Um crescimento baseado no descontentamento popular

Nas declarações a O MIRANTE, Ruben Vicente destaca o que diz ser o descontentamento generalizado da população com “promessas não cumpridas e a falta de mudança significativa”, como crucial para os resultados alcançados pelo Chega das últimas legislativas em Portugal. “As pessoas estão fartas de tudo. De promessas que não são cumpridas, de ver mais do mesmo. Estou convencido que vêem no nosso presidente, o André Ventura, que é a cara do Chega, uma aposta grande para um dia governar Portugal”, afirma o político. Na análise que faz aos mais recentes sufrágios, Ruben Vicente destaca que o Chega foi o partido mais votado no concelho de Benavente, em Salvaterra de Magos e em outros pontos do país. “Deveu-se ao bom trabalho que se tem vindo a fazer com a Distrital de Santarém e o partido a nível nacional. Não havia grande gestão ou estrutura porque é um partido que ainda está a crescer, está a aparecer e tem pouco tempo”, justifica.
Embora nas eleições europeias não tenham alcançado os resultados esperados, o comercial de profissão, que reside em Samora Correia, considera significativo que o Chega tenha conquistado duas cadeiras no Parlamento Europeu, numa votação que a maioria das pessoas não valoriza. “As europeias têm sempre o problema de que as pessoas pensam que as eleições não servem para nada, e até serve para muita coisa, nomeadamente porque é dali que vêm os fundos europeus. As pessoas não têm essa percepção”, explicou.

À margem/opinião

O mais votado em Benavente

A linha editorial de O MIRANTE conflitua, na generalidade, com a linha política do partido Chega. Mas O MIRANTE é um jornal aberto à comunidade e os partidos políticos também são dirigidos por pessoas que, muitas vezes, deixam a ideologia para segundo plano e o que lhes interessa é trabalhar para o colectivo. Parece-nos o caso de Ruben Vicente, o líder do Chega no concelho de Benavente. O facto do partido ter ganho as eleições legislativas, no concelho com cerca de 30% dos votos é um caso que não pode passar à margem da opinião pública. Não só foi caso único na região ribatejana como há-de ter sido uma das maiores votações do Chega num concelho do país. A forma como Ruben Vicente assume nesta entrevista a oposição às políticas locais, e o crédito que tem na comunidade como político e dirigente associativo, está muito para além do que o seu partido representa a nível nacional, e quase nos antípodas da maioria da sua classe dirigente.

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