Câmara de Azambuja tem investido pouco ou nada no alto concelho
José Avelino vai deixar a vida política quando terminar o último mandato como presidente da União de Freguesias de Manique do Intendente, Vila Nova de São Pedro e Maçussa. Na recta final diz a O MIRANTE que tem pena que a Câmara Municipal de Azambuja invista mais na sede de concelho e em Aveiras de Cima e desvalorize as restantes freguesias.
Enquanto a Câmara Municipal de Azambuja não valorizar o património que tem no alto concelho não anda para a frente. A opinião é do presidente da União de Freguesias de Manique do Intendente, Vila Nova de São Pedro e Maçussa, José Avelino, que está no cargo há quase 11 anos, eleito pela CDU. O autarca, que não tem filiação partidária, não se pode recandidatar nas próximas autárquicas em 2025, devido à lei de limitação de mandatos, mas mesmo que pudesse não o faria, até porque pretende “arrumar as botas”.
Tem pena que a Câmara de Azambuja só se preocupe em investir na sede de concelho e em Aveiras de Cima, onde tem mais votos, e que deixe delapidar o seu próprio património. “Compraram o antigo cinema de Aveiras de Cima mas deixam degradar o património que já têm. Prova disso é a casa da câmara, em frente à Junta de Manique do Intendente, que é uma vergonha”, diz José Avelino, relembrando que aquele edifício já foi alvo de promessas de reabilitação por parte de vários governantes. A junta chegou a defender que naquele imóvel podia ser instalada uma biblioteca, o espaço cidadão ou até mesmo um lar, mas nada se concretizou. O mesmo se passou com a casa de João Moreira, que foi comprada pela câmara há duas décadas, com a intenção de criar um centro de interpretação mas que não passou do papel.
José Avelino relembra o interesse histórico do povoado fortificado de Vila Nova de São Pedro e relata as visitas dos estudantes das Universidades de Lisboa à Praça dos Imperadores, à igreja, ao castro e ao Paul. Lamentavelmente o Palácio Pina Manique, datado do século XVIII, continua à espera de obras de reabilitação. Sob a tutela do Ministério das Finanças, o imóvel foi visitado por técnicos em 2021, tendo sido reconhecido o seu mau estado de conservação. Actualmente a manutenção é feita pela junta e pela paróquia não se sabendo quando poderá ser recuperado.
Freguesia regista aumento populacional
Anualmente morrem entre 40 a 50 pessoas na União de Freguesias de Manique do Intendente, Vila Nova de São Pedro e Maçussa mas a população tem sido reposta. Algumas pessoas regressaram às origens e os novos habitantes fazem com que não exista habitação disponível. A escola chegou a ter falta de crianças mas neste momento as salas estão esgotadas e a creche já não tem capacidade para mais. A procura contrasta com a falta de transportes colectivos e médicos. Um clínico dá consultas duas vezes por semana no posto de saúde de Manique do Intendente, que recebe também a população de Alcoentre, uma vez que a extensão de saúde da localidade aguarda obras no edifício.
Este ano tem sido o pior no que há manutenção dos espaços verdes diz respeito, queixa-se o autarca. A freguesia tem 60km quadrados, num território disperso, o que obrigou a junta a alugar um tractor para ajudar na limpeza das bermas, apesar de ter uma viatura própria. “Nos Casais de Além cortámos as ervas há um mês e já estão com um metro de altura. As pessoas queixam-se mas este ano tem sido demais”, diz.
José Avelino optou por manter abertas as antigas delegações da junta em Vila Nova de São Pedro e Maçussa, ainda que não consiga ter a porta aberta todos os dias. O património da junta é significativo, com mais de 20 contadores de água e luz à sua responsabilidade. Apesar disso, o autarca considera que não faz sentido desagregar novamente as freguesias, depois de todo o trabalho de união que foi desenvolvido. “A junta está bem em termos financeiros. Mantemos sempre uma verba para estarmos mais descansados”, garante.
O mercado diário de Manique do Intendente tem funcionado bem e tem clientes. Tem dois peixeiros e mais concorrência. O Centro Cultural de Manique do Intendente, aberto o ano passado, continua a ser dinamizado pela junta. Apesar de não receber muitos espectáculos de organizações particulares é um espaço que se não fosse aproveitado continuava a degradar-se.
Falta de investimento da câmara e as merecidas férias
A paisagem na zona é agora marcada por uma nova realidade, a dos painéis fotovoltaicos que ocupam grandes áreas. Na Quinta da Torre Bela a floresta deu lugar aos painéis o que para José Avelino é “um sistema para dar dinheiro apenas a alguns”. Uma das situações que mais o marcou foi o recente caso da mercearia da aldeia da Arrifana, que acabou por fechar portas após um diferendo entre a junta e a proprietária. Mas para o autarca este é um processo encerrado e cada um tomou as suas opções.
Na memória tem a limpeza da Ribeira do Judeu, um projecto feito pela câmara de Azambuja, mas em que a entidade promotora era a junta. Ficou com uma obra de 200 mil euros na mão e sem dinheiro para pagar ao empreiteiro. “Ninguém me ajudou, nem a câmara nem nenhum partido político, incluindo a CDU. Só consegui resolver o problema quando fui falar com o ministro a Lisboa. Perante uma plateia de presidentes de junta deram-me o microfone para a mão e depois de contar o sucedido passado uma semana já tinha o dinheiro para pagar a obra”, revela.
José Avelino diz que não é rancoroso e que as chatices que tem com as pessoas são momentâneas e rapidamente esquecidas. Já na Marinha era assim. Em Azambuja diz que os presidentes de junta se dão todos bem, independentemente do partido a que pertencem. Admite que a CDU tem vindo a perder eleitorado e que na sua freguesia a população vota na pessoa e não no partido. “Mas o cenário pode mudar. Os novos residentes não conhecem o José nem o Manuel”, declara.
Quando sair do cargo de presidente de junta vai de férias, conforme prometeu à esposa, que é quem mais sofre com os comentários pouco simpáticos nas redes sociais. Mas não vai ficar parado, até porque tem três hectares de vinha para manter. “Daqui a pouco tenho tanto tempo de autarca como da Marinha. Vou ter mais tempo para mim e já avisei a CDU que não estou disponível para colaborar em nada. Lamento que este executivo camarário tenha investido pouco ou nada na freguesia, tirando as estradas que vão ser alcatroadas mais perto das eleições. Mas mais vale tarde do que nunca”, remata.
Do mar para a vida política
José Avelino Correia montou e desmontou submarinos, passou mais de 15 dias seguidos nas profundezas oceânicas e foi professor do mediático almirante Gouveia e Melo. Ao fim de 30 anos no mar prosseguiu a vida em terra, na viticultura e na política. Está há quase onze anos como presidente da União de Freguesias de Manique do Intendente, Vila Nova de São Pedro e Maçussa. No próximo ano vai deixar o cargo e a actividade política para se dedicar à vinha e à família.