Entrevista | 20-08-2024 07:00

Paulo Caetano: cada vez há menos gente disponível para aturar os filhos dos outros

Paulo Caetano: cada vez há menos gente disponível para aturar os filhos dos outros
Paulo Caetano diz que está na hora de voltar ao seu emprego na banca depois de mais de uma década a acompanhar Pedro Ribeiro

Paulo Caetano está no terceiro mandato, entrando pela primeira vez na política a convite do presidente Pedro Ribeiro, que é obrigado a sair da função em 2025. O vice-presidente sai com ele por vontade própria. Mas era expectável que nas próximas autárquicas fosse o candidato do PS, que ocupa seis dos sete lugares no executivo.

Foi convidado e tinha a resposta na ponta da língua, porque diz não ter as características que entende serem necessárias para assumir um cargo que exige muito, a que se junta nunca ter tido ambições políticas. Aliás, Paulo Caetano, 58 anos, manteve-se sempre afastado de cargos partidários e nunca quis intervir na elaboração de listas, nem interferir noutras questões do partido para onde entrou como militante quando aceitou integrar a lista para o município. Nesta entrevista assume-se uma pessoa livre, que diz o que pensa e que não está no executivo para dizer ámen, mesmo que a ideia ou proposta venha do presidente, que considera ser o melhor autarca da região. E avisa quem substituir Pedro Ribeiro para fazer o mandato sem tentar imitá-lo, porque se não for assim as coisas vão correr-lhe mal.


Já decidiu o que vai fazer à sua vida autárquica com a saída do presidente? Já decidi há algum tempo. Iniciei a minha vida autárquica com este presidente e ao fim de 12 anos volto à minha actividade profissional no sector da banca. Nunca tinha andado na política, entrei para militante na altura quando entrei nas listas, e o meu ciclo acaba aqui.
Não foi convidado ou não quer ser candidato? O expectável era ser candidato, mas quando me contactaram disse logo que não estava disponível. A questão já estava decidida na minha cabeça e mais tarde tive uma conversa com a família e acordámos que quando acabasse este mandato sairia da câmara.
Qual é o motivo para deixar a vida autárquica? É um conjunto de várias questões, que se conjuga com o facto de não ter um passado ligado à política e de não ter qualquer ambição política. Nunca me quis envolver na parte partidária. Quando alguém me liga a perguntar a minha opinião acerca de listas partidárias, para os órgãos do PS, respondo que não me quero envolver nisso.
Tem medo de falhar enquanto presidente? Tem medo da pressão? Se estivesse no meio do mar teria de me desenvencilhar e não iria naufragar. As pessoas às vezes fazem críticas, sobretudo a presidentes de câmaras, que não têm o mínimo de fundamento porque não sabem, não percebem as dificuldades do cargo no dia-a-dia. Não tenho o mesmo estilo de Pedro Ribeiro, mas não é preciso estar sempre presente para se ser bom presidente. Ao longo destes anos tenho tentado passar o mais discreto possível, não me envolvo em discussões, não respondo a críticas nas redes sociais e tento resolver as coisas a contento de todos falando com as pessoas.
Se fosse candidato e ganhasse as eleições, acha que iria ser um mau presidente? Quero acreditar que não. Mas há uma diferença enorme entre ser vereador e presidente.
Conseguiu fazer aquilo que queria fazer quando iniciou as funções em 2013? Consegui fazer aquilo que para mim era fundamental que é sair da mesma forma como entrei, com a imagem de confiança que já trazia da banca. Sempre me pautei por decisões as mais equilibradas, as mais assertivas possíveis.
O que é que foi mais negativo? Não tenho nada de muito negativo, mas gostava que tivesse tido coisas mais rápidas nos pelouros que represento. Gostaria que as obras do estádio municipal tivessem sido mais rápidas e que as obras do pavilhão Alfredo Bento Calado já tivessem começado. Só tenho a agradecer que ao longo destes onze anos tenho criado muitos amigos e percebido este mundo autárquico.
O que é que estranhou mais quando entrou na câmara? Desconhecia que a nível local houvesse algumas jogadas políticas de vez em quando. As primeiras reuniões que fiz foi com pessoas, por exemplo de associações, que estavam ligadas a outros partidos e antes das reuniões davam-me conta desse facto. Mas sempre tive a postura de trabalhar para todos e nunca me senti pressionado, nem pelo meu partido.
Já não vai voltar a funções políticas? Não digo que nunca mais voltarei. Se aparecer um projecto que seja motivador e se achar que tenho condições e capacidades para colaborar posso vir a analisar a situação.
Como é que vai ser o concelho de Almeirim depois de Pedro Ribeiro? O que aconselho ao futuro presidente de câmara é que faça o trabalho da sua forma, ao seu estilo e não tente copiar o modelo de Pedro Ribeiro porque seria um erro. Todos temos formas de estar e de pensar diferentes. Mas não acredito que venha outro presidente com a mesma capacidade de permanência em tudo o que são actividades e funcionamento da câmara.
Actualmente o executivo praticamente não tem oposição, que se resume a uma vereadora da CDU. É mais fácil governar assim? No início pensei que o facto de não termos mais concorrência pudesse levar a que nos desleixássemos. A verdade é que isso não aconteceu. O presidente conseguiu colocar uma fasquia tão elevada que a dificuldade está em atingir os objectivos que ele coloca. Não sei se seria melhor termos maior confronto político, porque não tenho essa experiência. Pedro Ribeiro tem uma forma de exercer a presidência que até prejudica a sua vida pessoal em prol da sua qualidade como autarca. Para mim é o melhor presidente da região.
Quantas vezes é que se chateou na política? Conta-se pelos dedos da mão os dias que me chateei. Nunca fui de dizer ámen a tudo, nem sempre concordei com algumas opções. Quando somos chamados a dar opinião acho que a devemos dar em função do que pensamos, independentemente de quem é o autor da proposta.
Em que é que o desporto do concelho melhorou consigo? Melhorou na qualidade das instalações, sobretudo na área do futebol e do atletismo. As piscinas também foram remodeladas. Em relação ao desporto competitivo, nunca foi nossa preocupação estar a criar campeões, queremos é que as pessoas, em qualquer idade, tenham condições para praticarem mais desporto.
Como é que tem sido a sua relação com os dirigentes desportivos? Tenho um respeito imenso por todos os directores de clubes, porque o meu pai durante muitos anos foi dirigente associativo e sei bem o que é que as pessoas que estão ligadas aos clubes passam no seu dia-a-dia. Quem nunca andou com bolas ou outro equipamento desportivo na mala do carro, nem a transportar miúdos para os treinos e jogos não sabe quais são as dificuldades. Cada vez há menos gente disponível para aturar os filhos dos outros. Num prazo curto, ou o Estado arranja forma de incentivar os dirigentes, que pode ser por exemplo a nível fiscal, ou vai ser muito difícil manter modalidades ou clubes.
A entrada do pavilhão municipal tem um aspecto degradante, não permite a entrada de autocarros e até a placa com o nome desapareceu. O mau aspecto do local não o incomoda? Essa é uma obra que está há anos para ser feita e que tem vindo a ser adiada para ser integrada na requalificação do pavilhão e do espaço contíguo dos antigos celeiros da EPAC. É verdade que podia ter havido uma intervenção na entrada. Sendo sincero, reconheço que devia ter sido mais persuasivo no executivo para que essa intervenção fosse feita sem estar à espera da requalificação global do espaço.
Nas últimas décadas o concelho ficou dotado das mais variadas infraestruturas. Quem vier a seguir já não tem grande coisa para fazer… Quem vier com essa ideia as coisas vão-lhe correr mal. Não está tudo feito e há muita coisa que não são obras, mas que têm de ser planeadas e executadas e que têm a ver com a qualidade de vida das pessoas. Depois, o estar presente junto das associações também é fundamental.

O miúdo que queria ser jogador de futebol e que fez a vida na banca antes da política

Paulo Vladimiro Santana Caetano nasceu em Março de 1966 e em miúdo jogou futebol no União de Santarém, Académica de Santarém, Fazendense e Abitureiras, com o sonho de querer ser profissional, mas depois foi percebendo que seria difícil vingar no desporto. Virou para a área das contas na juventude e durante três anos trabalhou num escritório de contabilidade, até entrar para a banca no balcão da Caixa Agrícola de Fazendas de Almeirim, depois passou para o Millennium BCP onde teve funções de gerência e antes de entrar para a câmara estava no Banco Popular, que foi integrado no Santander.
Considera-se uma pessoa livre. Apesar de faltar muito aos treinos faz parte da equipa de futebol da câmara porque também é uma boa forma de haver um relacionamento mais próximo e descontraído com os funcionários. Foi convidado para integrar as listas do PS em 2012 pelo presidente Pedro Ribeiro, um ano antes das eleições, quando já tinham um relacionamento próximo na direcção dos bombeiros, sendo actualmente vice-presidente da direcção liderada por Pedro Ribeiro. É casado com uma técnica especialista de radiologia, tem duas filhas e vive em Paço dos Negros num local afastado do centro urbano da localidade.

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