Entrevista | 26-08-2024 12:00

Paulo Matias: o político e músico que gere a freguesia de Alenquer com rigor e proximidade

Paulo Matias: o político e músico que gere a freguesia de Alenquer com rigor e proximidade
Paulo Matias cumpre o último mandato à frente da União de Freguesias de Alenquer

Paulo Matias é presidente da União de Freguesias de Alenquer e quando terminar o seu terceiro mandato, em 2025, vai continuar na vida política.

Toca na Sociedade União Musical Alenquerense há meio século e trabalhou 30 anos na área dos seguros. Gere a freguesia como uma empresa, onde tudo funciona mesmo na ausência do “patrão”. Militante do PS há 25 anos, diz que as lutas internas do partido não devem vir para a praça pública. Mas está disponível para acompanhar o final dos ciclos autárquicos no município de Alenquer.

Paulo Matias está a cumprir o último mandato como presidente da União das Freguesias de Alenquer (Santo Estêvão e Triana). Um trabalho a tempo inteiro que começa logo de manhã, no estaleiro municipal, onde vai ter com os 14 funcionários que fazem serviço externo. Quando chega à sede da junta, na Rua Detrás da Misericórdia, a mesma rua que o viu nascer, liga o computador e começa a ler e-mails. Começam a cair telefonemas com assuntos para resolver. Conhecido por ser um autarca de proximidade, qualquer reclamação que recebe vai ao local ver com os próprios olhos. “É muito raro receber alguém na junta. É diferente dizer ao balcão que a água devia correr para outro lado do que ver no local o que se passa. Estou próximo das pessoas e reúno com os vereadores da câmara, sou pouco administrativo”, refere.
Militante do PS há quase 25 anos gere a freguesia como geria a área dos seguros onde trabalhou 30 anos. Facilmente diz um não à mesma velocidade com que diz o sim porque é preciso ser franco. Não costuma dar murros na mesa, mas se for preciso fala alto para quem o trata mal, até porque “enquanto políticos não temos de ser maltratados pelo nosso trabalho”. Liga ao que se escreve nas redes sociais enquanto observador. Abstém-se de fazer comentários até porque 90% das questões são ataques políticos que não vale a pena alimentar. Quando são queixas de fregueses acompanha o problema e procura falar olhos nos olhos.
Fruto da dimensão, a União de Freguesias de Alenquer já tem um responsável financeiro e cinco pessoas na área administrativa o que liberta o autarca para se dedicar aos problemas que aparecem no dia-a-dia. Um funcionário está responsável por analisar as reclamações, dá uma resposta rápida e reporta os problemas para as entidades competentes e Câmara de Alenquer. “Temos bem divididas as competências da autarquia e da junta. Tenho espaços verdes em Alenquer na zona das Paredes, Casais Novos e no Casal de Sto. António. A vila alta e baixa é da câmara e nós ensinamos às pessoas o que é da competência de cada entidade”, explica.

Falta de civismo, caminhos vicinais e estacionamento
Uma das suas maiores dores de cabeça são os caminhos de terra batida e caminhos vicinais. A junta está responsável por uma grande área de território que vai até à base da Ota, Santana da Carnota e Vila Nova da Rainha. O segundo drama é a falta de civismo, com as pessoas a insistir colocar o lixo fora do caixote. “Já conseguimos apanhar duas pessoas em flagrante, que fotografámos e foram autuadas pela GNR. Peço à população que tire fotografias e reporte às autoridades”, assegura. A junta adjudicou a uma empresa a manutenção dos sistemas de rega e jardinagem porque não consegue ter quadros próprios. O objectivo é contratar um técnico de jardinagem.
Está neste momento a ser equipada uma casa, com quarto, cozinha, casa de banho e um lugar de garagem, para servir de alojamento temporário em situações de emergência e protecção civil. Outro dos projectos anunciados por Paulo Matias é a construção de escadas em madeira que vão ligar o Miradouro do Alto da Boavista à zona do Areal, na vila baixa, em Alenquer.
A União de Freguesias tem obras da sua responsabilidade como o parque canino e o espaço intergeracional, com parque geriátrico, parque aventura e parque infantil. “Temos conseguido fazer quase tudo o que nos propomos e somos rigorosos no que apresentamos às pessoas. Só não vamos cumprir a construção do campo de futebol de praia porque auscultamos a população e não teria dinâmica. Não faz sentido investir entre 80 e 100 mil euros numa obra que não tem pessoas interessadas”, salienta. Apesar de não ser uma obra para os fregueses o autarca diz que está a ser negociado com a câmara um espaço para os funcionários da junta e para guardar a maquinaria. A junta usa parte do estaleiro da câmara mas é necessário um espaço próprio, que ofereça qualidade de vida aos trabalhadores.
Em relação à falta de lugares de estacionamento pouco há a fazer tendo em conta as características do território. O futuro passa pela criação da Polícia Municipal, que já tem luz verde, para controlar o trânsito, e a construção do parque subterrâneo no Parque Vaz Monteiro com capacidade para 200 lugares de estacionamento.

Transições políticas e o futuro
Paulo Matias já negociou com a esposa e os dois filhos que para já não vai deixar a política. Quando acabar o mandato na junta, em 2025, já sabe para onde vai, mas ainda não quer dizer. Desempenhar um cargo na Câmara de Alenquer está fora de hipótese porque nunca teve essa ambição. Mas a ligação afectiva que tem ao PS faz com que considere ser útil acompanhar um período de transição. Em 2025 o actual presidente do município, Pedro Folgado (PS) não se pode recandidatar, e o mesmo se vai passar em seis juntas do concelho. “Sei o que são as transições em termos políticos e emocionais e penso que posso dar uma ajuda nesse aspecto”, afirma.
O presidente de junta faz parte do secretariado do PS e por isso não diz quem está melhor posicionado para suceder a Pedro Folgado. A concelhia socialista vai a votos no final do mês de Setembro para decidir quem será o cabeça de lista à câmara de Alenquer nas próximas eleições autárquicas. Tudo aponta para duas listas candidatas às eleições internas, uma encabeçada pelo actual presidente da concelhia, João Nicolau, e outra liderada pelo actual vereador no município, Tiago Pedro. “As nossas guerras são internas e vamos ter eleições onde todos podem ser candidatos a cabeça de lista e os militantes decidem. Temos 200 militantes e somos a maior concelhia do Oeste. Acho positivo haver mais do que uma candidatura desde que não se ande cá fora a lavar roupa suja”, vinca. Sobre o seu sucessor deixa a decisão para os militantes do PS, mas considera que ninguém é insubstituível. Defende a limitação de mandatos e a redução para o número limite de dois mandatos em vez dos actuais três.
Apesar da dedicação à vida autárquica consegue desligar do trabalho e quando chega a casa coloca o telemóvel em silêncio. Só ficam ligados os telefones da Protecção Civil para emergências. A filha proibiu-o de ter acesso ao e-mail no telemóvel, regra que cumpre à risca. Distribui uma média de 100 cartões de contacto de seis em seis meses, porque quando está no café ou com a família não trata de assuntos de trabalho. A banda da Sociedade União Musical Alenquerense (SUMA) tem prioridade sobre a junta, e essa foi condição para se candidatar a presidente da união de freguesias. Toca há meio século na SUMA, assim como a esposa e os filhos. Começou no clarinete e após 12 anos passou para a percussão.

Houve erro em relação aos Casais Novos

Paulo Matias é critico quanto à forma como tem sido tratado o problema da passagem de camiões nos Casais Novos. O autarca diz que a câmara falhou na avaliação do número de camiões que ia passar com a actividade da empresa de logística Santos e Vale. “Quando vi começarem a primeira pedra, há dois anos, avisei que aquilo ia ser dramático. A empresa fez tudo o que tinha de fazer. Quem fez o estudo de tráfico é que não fez bem as contas e temos de admitir que houve um erro”. Os políticos têm de ter cuidado com as palavras e com as promessas, sublinha, e têm de ser realistas.

Uma freguesia em crescimento

O número de eleitores na União de Freguesias de Alenquer, mais de 10 mil, tem tendência a crescer por causa das novas urbanizações. Em seis anos, a freguesia passou a contar com mais 1200 pessoas, sobretudo casais jovens, com filhos. O aumento populacional já se nota pela falta de vaga nas creches e escolas, o que segundo Paulo Matias terá que ser acautelado e tido em conta pelo próximo executivo camarário.

Dos seguros à política com Alenquer no coração

Paulo Matias tem 60 anos, é casado e tem dois filhos. Foi presidente da Freguesia de Santo Estêvão e está a terminar o terceiro mandato à frente da União de Freguesias de Alenquer. Foi oficial da Força Aérea e esteve na base da Ota, foi 30 anos funcionário de uma seguradora, onde esteve 15 anos como director. Nascido e criado em Alenquer sempre esteve ligado ao movimento associativo e há 50 anos que faz parte da banda filarmónica da SUMA.
É benfiquista, agora não é sócio, e quando pode vai ao estádio ver os jogos. Adepto de regras “que têm que se cumprir”, já prometeu à esposa que quando deixar a política vão os dois de férias.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1694
    11-12-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1694
    11-12-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo