Entrevista | 01-10-2024 15:00

“Não há dinheiro da Valorsul que pague a nossa qualidade de vida”

“Não há dinheiro da Valorsul que pague a nossa qualidade de vida”
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
Pedro Mateus tem 34 anos e quando se candidatou a primeira vez à junta, pelo PS, venceu com maioria absoluta

Quando há três anos se candidatou pela primeira vez a presidente de junta, Pedro Mateus, 34 anos, venceu com maioria absoluta. Lidera a Junta de Freguesia de Arranhó, em Arruda dos Vinhos, a segunda maior freguesia do concelho em área e a terra onde nasceu e viveu Irene Lisboa.

Um marco do seu mandato foi dar voz à população quando a Valorsul tentou colocar na vila uma estação de tratamento de resíduos orgânicos. Nesta entrevista a O MIRANTE fala do mau estado da Estrada Nacional 115, do nó de acesso à A10 e A9 no Cabeço da Rosa que tarda em sair do papel e revela disponibilidade para se recandidatar.

Quando o ano passado a Valorsul tentou instalar uma Estação de Tratamento e Valorização Orgânica (ETVO) na pacata freguesia de Arranhó, em Arruda dos Vinhos, não contava com a luta aguerrida da comunidade e do seu presidente, Pedro Mateus (PS). Era um investimento de 100 milhões de euros para tratar os resíduos provenientes de restaurantes, cantinas, mercados e hotéis mas a população uniu-se ao presidente da junta a lutar contra a instalação da estação e os potenciais maus cheiros que poderia gerar.
“Não há dinheiro que a Valorsul pudesse oferecer que pagasse a nossa qualidade de vida. Para mim, a população numa coisa tão grande e dramática como essa teria de ser ouvida”, recorda a O MIRANTE. O autarca foi responsável por agendar uma sessão pública onde mais de metade dos moradores presentes votou contra a instalação da estação. “Aquela estação terá de aparecer em algum sítio, mas ainda bem que não foi em Arranhó. A Valorsul falou de contrapartidas ao município e a bem ou a mal tenho de perceber que muitas coisas poderiam acontecer na terra caso tivesse avançado. Mas, pesando os prós e os contras, não creio que tivessem sido prós suficientes para concordar com ela. E a realidade mostrou-nos claramente que não”, defende.
Para cimentar a posição da junta, o autarca consultou empresas da especialidade para saber o que estava em causa. “Quisemos perceber o que a Valorsul nos estava a tentar vender, digamos assim”, recorda. “Diziam que iam criar uma cortina arbórea que impedia os cheiros de sair mas se a qualidade do ar ficaria a mesma que tenho hoje? Sinto que não”, opina. E questionado sobre a possibilidade de o concelho de Arruda dos Vinhos ser o escolhido para acolher o futuro aterro sanitário da região de Lisboa, o autarca socialista volta a defender a força do voto popular. “Em qualquer localidade a força da terra é a sua população. Se esse assunto surgisse, tomaria o mesmo caminho, falava com a população e se ela não quisesse concordaria com ela”, explica.

Disponível para novo mandato
Pedro Mateus diz a O MIRANTE que ainda não foi contactado pelo PS para ser o rosto às próximas autárquicas mas confirma estar disponível para abraçar o desafio de um segundo mandato. No último Censos a freguesia de Arranhó viu a sua população crescer para 2.584 pessoas, mais 8,5% que no Censos anterior. “Esse crescimento é muito positivo e fazia muita falta. Sentíamos que éramos uma população muito envelhecida e felizmente tem chegado gente nova e jovens que começaram a conseguir construir aqui casa”, explica. Isto apesar dos constrangimentos do Plano Director Municipal, que continua a castrar a construção longe dos núcleos urbanos. “Os filhos da terra gostavam de vir para cá e não conseguem. Custa-me a perceber. Sei que a câmara está a tentar reverter essa situação, vamos ver”, nota.
Ser um meio rural e pacato a poucos minutos de Lisboa, com habitação a custos acessíveis, é um dos motivos para a crescente procura, diz o presidente da junta. “Somos um meio pequeno e aconchegante. Uma terra onde praticamente toda a gente se conhece e onde há um grande sentimento de vizinhança. Somos um oásis às portas de Lisboa, não tenho dúvidas que é aqui o melhor sítio para viver”, destaca.
O pior é mesmo o orçamento da junta, pouco superior a 250 mil euros, de onde 40% é para pagar salários aos trabalhadores. “Tudo o que conseguimos fazer é sempre com o apoio da câmara”, lamenta. Um dos projectos a concretizar antes do final do mandato é encontrar solução para o mercado semanal de Arranhó. “Em conjunto com a câmara vamos criar um espaço próprio para o mercado, com cobertura e maior dignidade. Esse projecto está em curso e tenho a expectativa de poder avançar ainda este ano”, revela.
A futura ligação à A9 e A10 no Cabeço da Rosa (Alverca) é outra das necessidades identificadas pelo autarca. A realização de um estudo de tráfego será o próximo passo a ser dado pela Infraestruturas de Portugal (IP). Já o mau estado da Estrada Nacional 115 envergonha-o. “O piso não é nada agradável. Temos tentado junto da IP, juntamente com o município, que eles reparem a estrada. Já tive conversas telefónicas com membros da IP a justificar esta necessidade mas promessas há muitas e nada de obra. A estrada está degradada há 15 anos sem que nada se resolva. É insuportável para a população e é uma estrada muito agradável, com vista espectacular. Se estivesse bem cuidada podia ser um factor de dinamização turística de Arranhó”, defende.

Um matemático que não acredita em problemas sem solução

Um autarca tem de andar na rua o mais possível, sobretudo nos meios pequenos, porque muitos problemas não chegam ao gabinete, defende Pedro Mateus, que se candidatou à junta pela primeira vez há três anos e venceu com maioria absoluta. Desde pequeno que vive em Arranhó e é aí que constituiu família. É professor de matemática no Externato João Alberto Faria e diz que um bom professor pode fazer toda a diferença na hora dos alunos gostarem da disciplina.
“A autoridade do professor hoje em dia é diferente. A sociedade evoluiu dessa forma mas não gosto para onde isto está a caminhar na área da educação. O professor é mais importante do que simplesmente estar lá para ensinar e debitar matéria”, refere. Ser professor era um sonho de infância. É uma pessoa bairrista e foi por isso que aceitou o desafio de ser presidente de junta, para ajudar a comunidade onde vive de forma mais directa.
No papel de presidente da junta diz que tem sido uma aprendizagem diária com muitos desafios por ultrapassar. “As pessoas têm de saber confiar na capacidade dos jovens autarcas. Quero acreditar que os jovens estão empenhados em provar que querem fazer diferente e melhor”, defende. Tem dias em que as responsabilidades da junta lhe tiram o sono. Pouca coisa o tira do sério. Gosta de futebol, é sportinguista e é doente pelo clube da terra, o União Recreativo e Desportivo de Arranhó. Estar com a família e os amigos nos tempos livres são os seus melhores passatempos. Pedro Mateus acredita que, tal como a matemática, não há problemas sem resolução. “Simplesmente uns são mais trabalhosos que outros. É esse trabalho que dá pica à vida”, conclui o homem para quem o azul é a cor favorita.

Chegada de O MIRANTE é “importante”

Para o presidente da Junta de Freguesia de Arranhó, a chegada de O MIRANTE ao concelho de Arruda dos Vinhos é importante para fazer chegar à comunidade as notícias de proximidade que, até aqui, não eram conhecidas. “Já tinha ouvido falar do jornal e é sempre bom passar a haver esta realidade mais próxima de nós. É uma oportunidade para conhecer as notícias da terra e que sejam sobretudo boas notícias”, deseja.

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