A presidente do PSD de Azambuja que quer pôr ordem na câmara municipal
Margarida Lopes preside há meia dúzia de meses a concelhia do PSD de Azambuja e já deu uma reviravolta à casa.
Mas aquela onde mais anseia pôr ordem é na Câmara de Azambuja, a começar pelo executivo camarário que não se tem dado ao respeito. Não tem problemas em assumir que discorda de posições tomadas pelos vereadores do seu partido e diz que o concelho vive parado no tempo, fruto dos 40 anos de inércia da gestão socialista.
Margarida Lopes fez história no PSD de Azambuja ao tornar-se na primeira mulher a presidir à estrutura concelhia do partido. Agora, com eleições autárquicas à porta, tem andado num roteiro pelas freguesias a recolher as necessidades que irão fazer parte do programa eleitoral que será “ambicioso” e que a terá, muito provavelmente, como cabeça-de-lista.
Nascida em Santarém, a assistente social, que trabalha há mais de duas décadas no Centro Social Paroquial de Azambuja, cresceu em Manique do Intendente, aquela que diz ser “a terra mais bonita do concelho” e da qual guarda memórias de uma infância feliz entre os pomares e as vinhas do avô. Mãe de duas filhas e um filho, é casada há 25 anos com o ex-autarca António Jorge Lopes que há três anos se retirou da política, meio onde se conheceram, quando este a convidou para integrar a comissão política da Juventude Social Democrata.
Militante desde os 18 anos, conta que desde cedo se preocupou com o bem-estar da comunidade. “Quando o presidente da câmara, há cerca de um mês, defendeu um posto da GNR no alto concelho por causa do aumento da criminalidade” já Margarida, há uns 20 anos, tinha recolhido um abaixo-assinado para que não encerrassem o posto da Guarda em Manique. “Recolhi mil assinaturas e fui entregá-lo à assembleia municipal. Na altura, o líder da bancada do PS era o actual presidente da câmara, Silvino Lúcio, que achou que aquilo era descabido”, lamenta, acusando os socialistas de inércia nesta e noutras matérias.
A conversa fez-se na sede do PSD, local de onde já foi retirada a imagem de Rui Corça, anterior presidente daquela estrutura que saiu derrotado nas últimas eleições concelhias. Agora, na fachada, salta à vista a imagem de Francisco Sá Carneiro, este sim, uma inspiração para Margarida Lopes. “A política tem de estar ao serviço das pessoas, mas nem sempre está”, alerta a social-democrata que se define como alguém responsável, com objectivos e que tenta sempre pôr-se no lugar do outro.
Ser a primeira mulher a presidir à concelhia do PSD de Azambuja e tê-la conquistado com 72,5% dos votos deu-lhe a confiança necessária para ser cabeça-de-lista às próximas eleições autárquicas? É um orgulho estar à frente da comissão política do PSD e, obviamente, que o voto de confiança dos militantes dá-me força para levar o PSD mais longe. Quanto a ser candidata, ainda não está totalmente decidido, mas não vou negar que tenho sentido uma onda de apoio. E se a comissão política e os militantes assim o entenderem não me vou negar a essa responsabilidade.
Convidaria algum dos dois vereadores do PSD na Câmara de Azambuja para trabalhar consigo? Os vereadores do PSD estão a fazer um trabalho medianamente positivo. O vereador Rui Corça poderá vir a integrar as nossas listas, mas comigo e com esta comissão política não será cabeça-de-lista à Câmara de Azambuja. Quanto ao vereador José Paulo, já o convidei a integrar as listas.
Um acordo com o Chega para governar Azambuja poderá vir a estar em cima da mesa? Não nos revemos nas políticas do Chega e não vamos fazer acordo com esse partido.
Que crítica lhe merece a classe política do concelho de Azambuja? As reuniões de câmara não podem servir para fazer politiquice nem para o insulto pessoal e quem lá está não tem sabido honrar a responsabilidade que os eleitores lhes deram. A guerra existente entre o presidente da câmara e a vereadora do Chega prende-se com anos de muita confiança, uma vez que vêm da mesma família política, no entanto nada justifica aquele tipo de comportamento.
“Não tolero faltas de respeito”
Ser-lhe-ia difícil conviver com o actual executivo? Não ia acontecer, não tolero faltas de respeito. Comigo teria de haver ordem na casa desde o primeiro dia. É evidente que quando as pessoas não nascem com educação é difícil mudá-las... a câmara municipal e a assembleia são os órgãos máximos de um concelho e requerem elevação e respeito. Naquela sessão de câmara - em que o presidente disse à vereadora do Chega que estava ‘excitada’ - todo o executivo esteve mal. Como é possível que o presidente fale naqueles termos para uma mulher e as outras duas presentes baixam os olhos e não dizem nada. Os munícipes têm vergonha de ver o que se passa nas reuniões de câmara. Isto envergonha-nos em qualquer lado, é a cara de Azambuja. Gostava de pôr ordem na casa, a começar pelo executivo camarário, e gostava que as sessões de câmara voltassem a ser um local de trabalho onde há respeito e consideração por todos os eleitos.
Segundo o Relatório Anual de Segurança Interna (2023) a criminalidade cresceu 11,36% em Azambuja, percentagem maior que a registada em Vila Franca de Xira ou Alenquer. O que está a falhar na sua opinião? Efectivamente, dos concelhos limítrofes, Azambuja foi o que mais cresceu em termos de criminalidade, mas também se constata que de 2022 para 2024 houve uma redução do número de militares. No posto de Azambuja passaram de 28 para 24. Há dificuldade na fixação dos militares nos postos e fazem falta estratégias para os fixar como a redução do IMI, redução na taxa de utilização dos equipamentos desportivos no concelho, incentivos à semelhança do que se fez para os médicos de família.
Já a ouvimos dizer que está farta de promessas quanto às obras na Escola Secundária de Azambuja. É o Governo do seu partido que vai resolver este problema antigo? Espero que sim. Ainda a minha filha mais velha estava a começar a escola secundária quando fui, pela primeira vez, chamada a uma reunião para nos apresentarem o projecto e comunicarem que iam iniciar as obras e que os meninos iam ser colocados em contentores. Isto há uns oito anos e nada se fez. Têm sido anos atrás de anos com constantes promessas. Como é possível o Cartaxo ter uma escola secundária construída depois da de Azambuja que já foi requalificada e que está neste momento novamente a sofrer obras, a de Alenquer já ter tido obras, a de Rio Maior também e com um pavilhão desportivo que ainda hoje não existe na de Azambuja.
Tem havido falta de força política? Fui falar com o ministro da Educação e a conclusão a que chego é que tem havido falta de força política e de empenhamento. Para se fazer uma obra desta envergadura sabemos que não é o município que a vai pagar porque implica vários milhões de euros. Uma obra destas tem de implicar uma candidatura a fundos europeus, mas é preciso fazê-la e, pelo que me apercebi, a candidatura nunca foi feita. Parece que agora há um projecto, vamos ver...
Falando em fundos europeus, Azambuja tem sabido aproveitá-los? Fica aquém. A política que se faz neste concelho é reactiva: aparece um buraco, tapa-se o buraco, mas não há uma visão a médio longo prazo. Temos de levar Azambuja para o século XXI porque este concelho ficou lá atrás. A sensação que tenho é que em 40 anos de gestão socialista, com as mesmas pessoas, se acomodaram ao lugar e deixaram de ter uma política com visão, com base no progresso. Os azambujenses merecem mais!
E os azambujenses acomodaram-se ao sentido de voto? Quero acreditar que não, quero acreditar que os azambujenses querem mudar e acredito que vamos conseguir.
O projecto Bata Branca, que veio permitir o acesso dos utentes a consultas com médicos contratados por uma instituição, é um penso rápido a cobrir uma ferida aberta? Tem colmatado algumas necessidades, mas continua a ser claramente insuficiente. É difícil marcar consultas. Não tenho médico de família há anos e se ligar para o centro de saúde vou ter consulta daqui a um mês ou dois, e se a minha necessidade for imediata implica uma ida ao hospital.
Voltando à educação: concorda com a decisão do Agrupamento de Escolas de Azambuja de não ter encerrado as escolas no dia seguinte a seis alunos terem sido esfaqueados por outro? Não concordei e mantenho essa posição. O incidente foi traumático quer para alunos, funcionários e pais, e seria importante
ter-se dado dois ou três dias para as pessoas se recomporem. Sei de pais que se sentiram insatisfeitos e que não mandaram os seus filhos à escola, ou seja, acabaram por perder matéria sem necessidade.
“Há muita pobreza envergonhada no concelho de Azambuja”
Enquanto assistente social que retrato faz da pobreza no concelho? Ainda há muita pobreza envergonhada e há famílias a viver com muitas dificuldades no concelho de Azambuja. Não temos empresas no concelho, o que temos é logística, ou seja, ordenados baixos, mínimos, de trabalho indiferenciado. Ao não haver empregos qualificados, os nossos jovens saem e acabam por se fixar noutro lado. Quem fica no concelho é quem não tem outra oportunidade e a população começa a empobrecer cada vez mais.
O município não tem sabido atrair as empresas certas? Não, só se está a atrair logística e acho que devia haver incentivos para se fixarem aqui outro tipo de empresas.
E o que pensa da perda de milhares de euros em rendas de habitação social por prescrição das dívidas? Que se deve à inércia da câmara, porque é um assunto que se arrasta há anos. É o que acontece com quase tudo. Repare-se: foi prometido um quartel [para a GNR] em Aveiras de Cima e havia um protocolo para que acontecesse, mas tinha de ser entregue o projecto. Passaram os dois anos e não foi entregue o projecto. Neste momento só vai haver quartel se houver boa vontade política porque já não há qualquer compromisso. Em dois anos não foi possível fazer um projecto? Há muita inércia, é tudo muito lento. Se temos actuado mais cedo não tínhamos chegado a este ponto com as rendas da habitação social.
Disse que faz falta uma política cultural para este concelho. Por onde começaria? Por apoiar as colectividades que têm área cultural. Há muito pouco apoio. Agora há o projecto para o centro cultural de Aveiras de Cima que implica um investimento de milhões para requalificar o antigo cinema. Será que a câmara está em condições de fazer um centro cultural quando temos um auditório na Casa do Povo de Aveiras de Cima? Se essa instituição fosse mais apoiada podia remodelar o auditório e se calhar era suficiente. O problema desta câmara é que vai construindo esquecendo-se que depois tem de fazer manutenção dos espaços. Há necessidades prioritárias e colectividades que precisam de apoio para dinamizar actividades culturais.
Azambuja tem sabido posicionar-se em termos turísticos? No turismo ainda há muito por fazer. Podia-se divulgar os nossos edifícios históricos, requalificar a zona ribeirinha, mas Azambuja está de costas voltadas para o rio Tejo porque está tudo abandonado. Veja-se a zona do palácio, onde foram feitas obras mínimas mas onde nem sequer casa de banho existe. Não estamos a saber aproveitar o que temos de bom.
Tem andado num roteiro pelas ruas das freguesias, já tropeçou em muitos buracos? Em alguns, mas parece que agora vão iniciar as obras de reparação de algumas estradas que bem precisam. Para mim [contrair um empréstimo para arranjar estradas] faz todo o sentido, porque as estradas estão em muito mau estado e é importante haver boas acessibilidades dentro do concelho.
Uma das primeiras reuniões que teve foi com os Bombeiros de Azambuja, que protestaram publicamente contra a decisão dos vereadores do PSD de não apoiarem o modelo de atribuição de verba para a compra de um veículo. Conseguiu convencê-los de que o seu partido não é inimigo da associação? Penso que sim. Até porque discordei da posição dos vereadores na câmara. A meu ver, os bombeiros têm todo o direito de optar pela forma como querem fazer o empréstimo para a aquisição do veículo de desencarceramento. O que tinham estava em más condições, era uma necessidade.
Vemos muitos autarcas metidos em direcções de associações. Faz sentido? Acho que quem está no executivo não deveria estar à frente de direcções de associações, mas também compreendo que não é fácil porque hoje em dia cada vez mais as pessoas se demitem deste tipo de voluntariado. Se é o ideal? Não é, mas compreendo que seja uma necessidade que às vezes não se consegue colmatar de outra forma.
É casada com António Jorge Lopes, antigo autarca deste concelho. É um bom patrocinador para o percurso que quer começar a trilhar na política? É um bom professor. É a pessoa dentro do PSD que mais tem conhecimento dos problemas do concelho. Esteve à frente do PSD, foi vereador durante três mandatos, portanto, é uma pessoa com experiência que me pode ensinar. Neste momento está afastado da política e até me alertou para pensar bem se queria avançar para a comissão política.
Mas quando lhe disse que sim disponibilizou-se para me ajudar, é o meu primeiro apoio.