Da bomba das FP-25 à malária cerebral: as várias vidas de Nuno Miguel Henriques
A gestão do actual executivo socialista de Alenquer está longe de agradar a Nuno Miguel Henriques.
O vereador do PSD diz que há falta de diálogo e lentidão administrativa, o que prejudica o desenvolvimento do concelho. Disponível para ser novamente cabeça de lista às autárquicas, tem expectativa numa nova concelhia do PSD que seja inclusiva e capaz de sanar os conflitos internos. Militante do PSD desde os 16 anos, autarca, encenador e poeta, sobreviveu a várias contrariedades, entre elas uma bomba das FP-25 e malária cerebral.
“Os adversários estão nos outros partidos; os inimigos estão dentro do partido.” Esta frase, atribuída a Winston Churchill, resume a realidade de Nuno Miguel Henriques, actual vereador do PSD na Câmara de Alenquer, eleito nas autárquicas de 2021. Um homem multifacetado, sem meias palavras, por vezes provocador e polémico mas que não passa indiferente. Por vezes estende-se no discurso, gosta de se fazer ouvir, o que merece criticas positivas e negativas de quem o escuta.
Natural da Covilhã, Nuno Miguel Henriques chegou a Alenquer antes das últimas eleições. Quando o PSD nacional lhe apresentou mais do que uma hipótese para ser candidato numa autarquia escolheu a mais difícil: Alenquer. Um concelho socialista há meio século e com um PSD local que em 2021 não tinha comissão política e não tinha candidato à câmara. O partido foi sozinho às urnas, sem o CDS-PP, e acabou por perder um vereador. “Não tivemos um mau resultado porque nunca tinha havido sete candidaturas em Alenquer, inclusive um militante do PSD candidatou-se como independente, António Franco, que faz parte da comissão política concelhia demissionária do PSD e é funcionário da câmara. À ultima hora também me disseram que já não ia haver coligação com o CDS por mistérios do Montejunto”, diz a O MIRANTE.
Nuno Miguel Henriques vai mais longe ao lembrar que, “no próprio dia das eleições, foi necessário chamar a GNR devido à existência de urnas abertas e outras irregularidades”. Soube nesse próprio dia que já estava em andamento uma nova comissão política concelhia que durante a campanha eleitoral “não se viu”.
Na altura comprometeu-se com um projecto a oito anos, com o apoio do partido a nível nacional, e não desistiu apesar das relações com a concelhia local começarem a azedar. “Algumas pessoas do PSD local têm as suas teias e são socialistas travestidos. Tenho expectativa de uma lista capaz, inclusiva e diferente para as eleições para a comissão política concelhia no próximo dia 7 de Dezembro”, sublinha.
Alenquer precisa de uma liderança com visão estratégica
Para enfrentar os desafios do concelho, o social-democrata defende a necessidade de uma liderança capaz de fazer chegar as prioridades de Alenquer aos centros de decisão em Lisboa. “É preciso alguém que tenha voz. Mas neste mandato caiu a máscara ao Partido Socialista, e as pessoas estão cansadas”, afirma, classificando o actual mandato do executivo como péssimo, caracterizado pela falta de diálogo, lentidão nos processos, ausência de democracia e transparência na gestão político-administrativa. “Dividem para reinar, porque não têm uma visão estratégica para o território a longo prazo”, critica.
Nuno Miguel Henriques diz estar disponível para ser novamente cabeça-de-lista pelo PSD à Câmara de Alenquer em 2025, mas ainda não se sabe sobre quem recairá a escolha. O actual vereador defende que a água e a recolha de lixo devem voltar para a esfera municipal, podendo ser feita contratação externa em casos pontuais.
Em relação ao Carregado, considera que a freguesia cresceu sem planeamento e por isso é urgente construir uma via externa rápida para resolver o excesso de tráfego e passagem de pesados pela malha urbana. Existem terrenos, afirma, e se for preciso podem ser feitas expropriações. O autarca defende a ferrovia a parar em Alenquer e quer que o município seja “a Oeiras a norte de Lisboa” e melhor do que Vila Franca de Xira, Benavente e Cartaxo. “Alenquer perdeu o comboio e temos de o recuperar. Ainda há muitos terrenos e zonas brancas. As pessoas aqui não estão felizes e não têm qualidade de vida. Não queremos ser organizadores de eventos e festivais de música pimba. Não queremos uma terra só de vinho mas de tecnologia e parcerias na área do ensino”, diz convicto. Questionado sobre onde há dinheiro para fazer tudo, garante que é uma questão de estratégia, voz e de tornar o concelho mais atractivo para empresas e residentes.
A fintar a morte desde o berço
Nuno Miguel Henriques nasceu de cesariana, já com a mãe muito debilitada e com complicações no parto. Ficou um mês internado no hospital e no dia de chuva em que saiu, a viatura onde seguia com a família teve um acidente. Foi projectado para fora do carro mas ficou ileso, apesar de ter regressado novamente ao hospital.
No ano 2000 contraiu malária cerebral, ao ser picado por um mosquito na Costa do Marfim, na cidade de Abidjan, onde estava em trabalho. Ligou para a TAP a pedir um voo para Lisboa mas estava tudo esgotado. Tentou para Espanha, França e Inglaterra mas não havia nada disponível. Do outro lado do telefone estava Eduardo Nascimento, que venceu o festival da canção e chegou a representar Portugal no festival da Eurovisão, e que trabalhava na TAP. Ligou para a embaixada e pediu para irem buscar o doente, que foi reencaminhado para a clínica para onde iam os pilotos da companhia área portuguesa. Foi acompanhado pelo Dr. Borges que lhe perguntou se queria o tratamento à moda da Europa, onde é tudo proibido, ou os tratamentos de lá. “E eu anuí que fizesse o que tinha de fazer para eu viver. Levei com muita droga mas salvaram-me”, conta.
A partir daí relata que mudou a maneira de ser e começou a perdoar mais e a desvalorizar certas coisas. Continua a ser um homem de fé, católico e sportinguista. Ainda teve um acidente de carro em que ia no lugar do passageiro, quando se deslocava a Beja para apresentar uma sessão na biblioteca. O carro deu voltas, capotou e pensavam que estava morto. Ficou com problemas na coluna mas sobreviveu. Hoje diz que não tem medo de morrer mas medo de não viver tudo aquilo que tem para viver.
Homem dos sete ofícios
Nuno Miguel Henriques nasceu a 5 Dezembro de 1974 na Covilhã e desde cedo começou a ter consciência política. Quando ia a caminho da escola primária ainda apanhou com estilhaços provocados por uma bomba das FP-25 e foi resguardado numa pastelaria. Mesmo sem os pais acharem muita piada, ia com a avó materna aos comícios todos. Ouviu discursar Manuela Eanes, Álvaro Cunhal, Mário Soares e Salgado Zenha. Chegados a casa falavam sobre quem tinha sido o melhor e Nuno Miguel Henriques dizia à avó em quem votar.
É militante do PSD desde os 16 anos e já teve funções políticas em vários municípios. Foi adjunto da presidente da Câmara de Castanheira de Pêra e deputado municipal em Torres Vedras e no Fundão. Tem no currículo académico uma licenciatura em Ciências Sociais/Psicologia Social, formação pós-graduada e avançada em Imagem, Protocolo e Organização de Eventos, Apresentação de Televisão e Marketing e o Curso Superior de Acção Social.
Desde sempre ligado à cultura, trabalhou nos principais palcos portugueses como no Teatro Nacional, Parque Mayer, Sá da Bandeira, Coliseu, Rivoli e é escritor/autor cooperante da Sociedade Portuguesa de Autores, tendo também a Carteira Profissional de Encenador e Artista. Editou livros e até uma edição de Vinho Poético, 13 CDs, homenageando diversos poetas como Eugénio de Andrade, Fernando Pessoa e Amália Rodrigues.
Foi director do Instituto de Artes do Espectáculo durante seis anos, de 1995 a 2001. É director da Embaixada do Conhecimento, com actividades regulares em todo o país, de formação e consultadoria, além da direcção artística do Teatro ABC-Companhia Nacional de Teatro Português, com eventos teatrais, culturais e artísticos.