Entrevista | 11-12-2024 18:00

“Alenquer não pode ser apenas mais um subúrbio de Lisboa”

“Alenquer não pode ser apenas mais um subúrbio de Lisboa”
João Nicolau, presidente da comissão política concelho do PS Alenquer, é candidato à câmara municipal

João Nicolau, presidente da comissão política concelhia do PS Alenquer e candidato à câmara municipal, defende um concelho sustentável e com identidade própria.

Com a saída de Pedro Folgado da presidência, o autarca aposta numa equipa renovada e focada em melhorar acessibilidades, educação e serviços públicos, pondo Alenquer no mapa sem se tornar apenas mais um subúrbio de Lisboa.

Com um percurso político que incluiu dois mandatos como deputado na Assembleia da República, João Nicolau traça um futuro ambicioso para o concelho de Alenquer que, segundo estimativas, poderá atingir os 50 mil habitantes em 2030. Com bons acessos à capital, acredita que Alenquer tem potencial para crescer de forma sustentável e sem perder identidade.
Presidente da comissão política concelhia do PS Alenquer e cabeça-de-lista à câmara nas próximas eleições autárquicas, sente que a responsabilidade enquanto autarca na terra que o viu nascer é muito maior. “Moro cá e, todos os dias, tenho contacto directo com os munícipes. Isso traz um peso enorme. Preocupo-me com a qualidade de vida, os transportes públicos, os parques infantis, a cultura e o associativismo. Não podemos ser apenas mais um subúrbio de Lisboa; Alenquer tem de ter vida própria”, afirma.
Com a saída de Pedro Folgado da presidência do Município de Alenquer, por limite de mandatos, o concelho chega a um fim de ciclo. Por isso João Nicolau quer no seu projecto político pessoas novas que residam no concelho e tenham ligação directa com a realidade de Alenquer. Para já, deixa em aberto a possibilidade de integrar na sua lista elementos do actual executivo camarário, desde que a equipa seja coesa.

Acessibilidades, educação e serviços públicos no centro das prioridades
Entre os principais desafios que tem pela frente, caso vença as eleições, o socialista destacou a necessidade de melhorar as acessibilidades, em particular o eixo rodoviário entre Alenquer e Carregado, e resolver os problemas nos transportes públicos, cuja qualidade de serviço tem vindo a deteriorar-se. “É uma competência do município zelar pelos transportes públicos e temos de começar a trabalhar nisso imediatamente”, afirma.
Na educação, a falta de vagas nas escolas é uma preocupação central: “Não posso conceber que famílias escolham viver em Alenquer e depois não tenham vagas nas escolas, às vezes com uma escola à porta de casa”. No que diz respeito aos serviços públicos, defende que a gestão da água deve passar a ser uma responsabilidade directa do município, com a criação de uma empresa municipal para gerir água e recolha de resíduos. João Nicolau relembra que a notícia de que o aeroporto seria construído na Ota onerou o futuro do concelho. Os investidores desistiram dos projectos e o Plano Director Municipal teve de ser revisto (está em conclusão).
Com uma infância passada junto à emblemática fábrica da Chemina, no centro de Alenquer, admite que se a autarquia dispusesse de recursos ilimitados o espaço seria transformado num auditório de maior dimensão para eventos culturais ou até para instalar ali serviços municipais. “A cultura é essencial. As pessoas precisam de um espaço decente para acolher espectáculos e outras iniciativas. Isso também contribui para a identidade e a qualidade de vida do concelho”, considera.

Câmara tem de criar novos canais de comunicação com os cidadãos

As incompatibilidades entre si e o vereador Tiago Pedro, nomeadamente sobre quem estava melhor posicionado para ser candidato à Câmara de Alenquer, dividiu o PS? Já ouvi esses boatos mas nunca ouvi nenhuma intenção. O nosso processo foi transparente e o mais aberto possível. Até porque sou presidente da concelhia e não queria que ficasse a ideia que me impus ao partido por ter esse cargo. Abrimos um período de candidaturas ao lugar de cabeça-de-lista e só apareci eu e o Hélder Miguel, mas quem quisesse concorria. Votaram os militantes e a decisão foi tomada. Quem queria ser candidato teve essa oportunidade; se não apareceu não há disputa.
A saída de vereadores do PS a meio do actual mandato causou instabilidade? É normal, porque faziam falta e eram bons vereadores. A saída criou instabilidade na organização do município mas ninguém é insubstituível e a estrutura adaptou-se com a redistribuição de pelouros.
Que balanço faz do actual mandato de Pedro Folgado? Tem grandes desafios relacionados com os projectos com financiamento externo, PRR, PT2020 e candidaturas ao PT2030. Os projectos são complexos, com muita burocracia e os municípios têm dificuldade em pôr no terreno obras de grande dimensão.
Mas Alenquer tem muita coisa que nem sequer está em projecto e em relação a outros municípios está mais atrasado… Sim, porque Alenquer já tinha projectos pensados, outros que já estão executados e outros que ainda vão para obra decorrentes do PT2020. São projectos complexos, que mobilizaram muitos recursos humanos e financeiros da autarquia. Se nos fôssemos dispersar por muitos projectos havia o risco de não se fazer nenhum e o executivo focou-se nos que podia realizar, para não perder fundos, nomeadamente a recuperação da zona do Bairro do Areal e a recuperação do mercado municipal e zona envolvente, ambas em Alenquer.
Faz sentido a intervenção do público nas reuniões de Câmara de Alenquer ser às 9h30 de segunda-feira? Nunca tinha pensado na questão. Podemos fazer um estudo nos municípios da região para tentar adaptar, porque é importante que as pessoas tenham possibilidade de expor os seus problemas. Mas a câmara tem de criar novos canais de comunicação com os munícipes, de reporte imediato dos problemas do dia-a-dia e capacidade dos serviços darem resposta.
Está perfeitamente à vontade com o que vai herdar do actual executivo? Não quero dizer isso. Há pormenores que não conheço, nomeadamente a recepção de urbanizações e por isso não vou opinar. O que sei é que há urbanizações que foram recepcionadas com as infraestruturas finalizadas, mas que estiveram anos em abandono e sujeitas a vandalismo, com roubo de cabos eléctricos e tampas de saneamento. Mas se a obra está recepcionada, a responsabilidade é do município.
Concorda que, em final de mandato, o executivo camarário peça um empréstimo de 6 milhões de euros que vai ser pago pelos autarcas que forem eleitos no ano que vem? É preciso fazer investimento, o que implica financiamento. Sou do mesmo partido que Pedro Folgado e por isso estou perfeitamente por dentro da decisão. São necessidades reais da população.
Vai ficar com os actuais presidentes de junta socialistas que se podem recandidatar? Sim, o presidente de junta do Carregado e Cadafais, José Martins, e a presidente da Junta de Abrigada e Cabanas de Torres, Maria Brandão, são recandidatos. Depois temos o desafio de outros presidentes em final de mandato como o de Alenquer, Paulo Matias, e mais três casos no concelho. Vai ser um desafio renovar equipas.

Um engenheiro do ambiente que já foi deputado

João Miguel Nicolau, 36 anos, é natural de Olhalvo (Alenquer) e licenciou-se em Engenharia do Ambiente no Instituto Superior Técnico.
É casado, tem um filho e trabalha na direcção europeia de ambiente e segurança do grupo Exide Technologies, LDA, na área de sustentabilidade e sistemas de gestão.
É membro da Assembleia Municipal de Alenquer desde 2013 e desde 2018 é presidente da concelhia do PS Alenquer.
Foi deputado na Assembleia da República na XV e XIV legislatura e é candidato à Câmara de Alenquer nas autárquicas de 2025.

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