Entrevista | 22-12-2024 21:00

Jorge Zacarias diz que sai da Euterpe Alhandrense para não prejudicar a associação

Jorge Zacarias diz que sai da Euterpe Alhandrense para não prejudicar a associação
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
Jorge Zacarias diz que vai tentar encontrar quem o substitua na Sociedade Euterpe Alhandrense

Presidente da Euterpe Alhandrense durante mais de 30 anos, Jorge Zacarias admite que a sua presença está a prejudicar a colectividade, depois de as relações com a Câmara de Vila Franca de Xira terem azedado. Eleições para os órgãos sociais da colectividade mais antiga do concelho não tiveram listas concorrentes. Jorge Zacarias garante que a associação não cairá num vazio directivo e promete encontrar quem lhe suceda no cargo.

Como é que uma pessoa como o Jorge Zacarias, que foi presidente da Euterpe de 1990 a 2009 e depois de 2011 até agora, não consegue encontrar quem o substitua no cargo? Acho que não devia, até ao momento em que se esgotou o período de apresentação de listas, desenvolver contactos para arranjar uma lista, sob pena de ser acusado de querer dar continuidade à minha presença na direcção através de outras pessoas. A minha continuidade seria o natural se não tivesse havido uma relação com a câmara que me desiludiu profundamente e me levou a tomar esta decisão de sair. Não me identifico com quem diz que a culpa da casa cair num vazio directivo é minha. Até porque isso nunca acontecerá. Cabe aos sócios decidir e vamos encontrar novas pessoas para continuar o trabalho.
Foi adjunto do actual presidente da câmara, Fernando Paulo, e do antecessor, Alberto Mesquita. Trabalhou com quatro presidentes de câmara. Subitamente deixou de conseguir falar com a autarquia. Como é que perdeu esse contacto? Foi a câmara e este executivo que deixou de falar com a Sociedade Euterpe Alhandrense (SEA). Mantivemos sempre a mesma postura com todos os executivos. Mas nunca a SEA foi tão destratada. Só queremos ser tratados como as outras colectividades. E que quando fazemos reuniões e nos dizem que vão pensar no que pedimos, que efectivamente tenhamos alguma resposta, o que não tem acontecido. Estamos no final de Dezembro, escrevemos há dois meses à câmara a pedir o habitual apoio para o Carnaval e não tivemos nenhum feedback. Continuamos dependentes da boa vontade da câmara.
Houve uma briga entre o Jorge Zacarias e o presidente da câmara Fernando Paulo Ferreira? Não. Só posso entender como uma questão de opção por parte do presidente. Não houve nenhuma briga. Só encontro alguém chateado da parte da câmara. Há-de haver alguém por lá que está chateado comigo. Não acredito que alguém se possa chatear com a Euterpe tendo em conta o trabalho que a associação faz.
Ter sido excluído do círculo próximo do presidente neste mandato não causou esta situação? Não quero acreditar nisso. Da minha parte não ficou nenhum rancor escondido. Sempre que posso tento falar e fazer com que as coisas caminhem num sentido mais positivo para a SEA. Não sei se é da parte dele ou de alguém, mas há uma tentativa clara de não me darem nada.
Com o Alberto Mesquita isto nunca aconteceria? Nem com ele nem com a Maria da Luz Rosinha. Tudo o que foi colocado teve sempre resposta. Agora nem isso conseguimos ter. Nem sim nem não. São situações que nos entristecem.

“Há uma perseguição ao presidente da Euterpe”

Como não consegue chegar à câmara, a sua presença na Euterpe é prejudicial à associação? Sim, está a ser prejudicial e é por isso que vou sair. Não é um problema de incapacidade minha nem de falta de vontade. Continuamos a trabalhar normalmente. Quem vier a seguir vai apanhar o comboio em andamento e decidirá onde parar. Quem chegar encontrará contas certas, actividade no conservatório com 500 alunos, na área desportiva com 300 atletas e nas outras actividades, como a banda e o coro, à volta de 100 pessoas. São perto de três mil famílias a orbitar a associação. Não é uma crise identitária nem financeira da Euterpe, é uma perseguição ao presidente. Não quero acreditar que seja do Fernando Paulo, mas que há essa perseguição, que a sinto e sei que é prejudicial à Euterpe, há. E é por isso que vou sair. Neste momento a Euterpe precisa de dialogar com a câmara e não consegue.
Esta saída é irrevogável? Não gosto da palavra. Tenho tido muitas manifestações de solidariedade dentro da associação e muita disponibilidade dentro da casa para mostrar à câmara que existimos e temos um trabalho importante na comunidade. O funcionamento da Euterpe a curto prazo não está em causa mas a médio ou longo prazo poderá estar, a manter-se esta linha de actuação da câmara. Estou muito satisfeito com o trabalho que todas as pessoas da SEA têm feito ao longo dos anos.
O que têm pedido à câmara? Gostávamos que fosse clara no que diz respeito ao futuro Teatro Salvador Marques e que nos dissesse, de uma vez por todas, se será a Euterpe a ficar com a gestão do espaço. Precisamos que o auditório tenha no mínimo 500 lugares. Na última sessão solene tivemos mais de 300 pessoas. Não haverá muitas associações no concelho que façam a sessão solene do seu aniversário com tanta gente. Diz-se que vão fazer algo com 300 lugares no Teatro Salvador Marques, isso não nos serve para nada.
Porquê? Somos o maior produtor de espectáculos do concelho. Fazemos dezenas de espectáculos por ano mas o nosso auditório é antigo e não tem condições. Por falta de espaço este ano vamos fazer o espectáculo de encerramento, em Junho, em Lisboa, porque não há nenhuma outra sala no concelho capaz de receber tanta gente. A futura requalificação do teatro condiciona tudo o que queremos fazer no sentido de requalificar a nossa sede. Se tivermos ali um auditório que garanta as nossas necessidades, perfeito. Se tivermos de fazer aqui dentro da nossa sede será completamente diferente.
Como está a ampliação das vossas instalações? Continua em cima da mesa mas está dependente do que possamos vir a ter no teatro. Não queremos avançar sem saber o que a câmara vai fazer ali. É nosso desígnio vir a criar uma escola de artes na região. Temos aqui alunos de Arruda, Alenquer, Azambuja, Benavente, Lisboa, entre outros. É uma responsabilidade grande e um orçamento de um milhão e 800 mil euros. O nosso problema principal agora são as instalações. E vemos com preocupação a quadruplicação da via férrea: se avançar como previsto irão demolir o espaço onde temos uma parte do nosso curso de dança, nas antigas instalações sociais dos trabalhadores da Cimpor. Se isso acontecer ficaremos absolutamente sufocados. Estamos na expectativa que a câmara possa negociar bem contrapartidas para que isto não seja só fogo de vista.
Não recebem nenhum apoio do município? Em relação às nossas necessidades estruturais não tem correspondido às necessidades. Temos diversos protocolos com a câmara, de prestação de serviços, incluindo um para a coadjuvação do primeiro ciclo que já tínhamos há quatro anos em alguns agrupamentos de escolas e em que a câmara decidiu apoiar esse projecto. Ronda os 105 mil euros para 6.800 tempos lectivos de aulas. Temos outro contrato programa de 40 mil euros para realizar 27 actividades, de um valor que depois também serve serve para pagar bolsas de estudo; e outros 40 mil euros do programa de apoio ao movimento associativo, que é basicamente contratação de serviços em que só recebemos o valor se fizermos os espectáculos.
Isso dá 185 mil euros. Muitas associações não conseguem receber nem perto disso… Mas os números não podem ser interpretados directamente. Há que retirar os custos com a operação. No caso dos tempos lectivos, dá pouco mais de 11 euros por pessoa.
E qual era o valor ideal que precisavam? Não traduzo os apoios em termos financeiros. Neste momento precisamos mesmo é das instalações. Pedi cinco mil euros no início deste mandato para adaptar uma sala na associação dos idosos para fazer lá as aulas de dança e disseram-me que não davam apoios extraordinários - quando temos visto vários entregues durante o mandato - e que davam o antigo restaurante da piscina de Alhandra, com um poste no meio da sala. Nós adaptávamos a sala e pagávamos uma renda à hora na câmara. Quando sabemos que a câmara dá a outras associações espaços para fazerem actividades completamente gratuitas. Estamos completamente afogados de espaço.

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