Fátima Galhardo perdeu eleições internas do PS mas assume que quer ser presidente da Câmara de Coruche
Fátima Galhardo, vice-presidente da Câmara de Coruche, perdeu as eleições para a concelhia do PS para o presidente da União de Freguesias de Coruche, Fajarda e Erra, Nuno Azevedo, por um voto, mas isso não a fez desmobilizar da intenção de querer ser candidata a presidente do município.
Assume a posição porque se não o fizesse estaria a fugir às responsabilidades, consciente dos riscos que corre, porque se Nuno Azevedo lhe fizer frente as contas podem complicar-se. Vale-se da experiência autárquica de duas décadas, o que considera ser uma mais-valia para vencer a autarquia.
Já se esqueceu da derrota nas eleições da concelhia do PS? Não foi uma derrota, foi uma proposta de alternativa ao que estava planeado. Era líder das mulheres socialistas e entendi que estava na altura de me propor a um desafio diferente. Gosto de desafios e derrota teria sido se tivesse tido quatro ou cinco votos.
Mas mesmo sendo vice-presidente da câmara não conseguiu apoios de peso, como por exemplo da deputada Mara Lagriminha. Todos os militantes valem o mesmo, independentemente dos cargos que ocupam. Cada um vale um voto. Para mim isso não é uma questão especial, simplesmente cada um faz as suas escolhas.
O mandato está prestes a terminar. O que é que vai fazer depois deste ciclo em que o actual presidente não se pode recandidatar? Vou apresentar a minha disponibilidade para ser cabeça-de-lista pelo PS à câmara. Já informei a estrutura local e a distrital do partido de que pretendo ser candidata. Até à data não tenho qualquer indicação de que o presidente da concelhia e meu amigo, Nuno Azevedo, irá ser candidato a cabeça-de-lista a escolher pelos militantes, mas ele sabe que estou disponível. Caso não se proponha à votação ou caso não seja escolhido, estou disponível para, caso ele aceite, o incluir na minha lista.
Se as coisas correrem mal arrisca-se a perder a sua carreira política… Não vejo as coisas nesse patamar. O partido em Coruche chegou onde chegou porque foi sempre agregador. Comigo ninguém fica para trás. Tendo o PS cerca de 50 militantes e se olhar para o horizonte de votantes nas autárquicas de 2021, que foram cerca de 15 mil, ninguém tem de ficar melindrado com nada. Com o percurso que tenho desde 2002 na câmara e desde 2009 como vereadora e desde 2013 como vice-presidente, se não avançasse com a intenção de me candidatar a presidente não estava a honrar o meu compromisso com todos aqueles com quem tenho trabalhado.
Atendendo à votação para a concelhia, em que Nuno Azevedo teve mais um voto, vai ter um grande trabalho de tentar puxar militantes para o seu lado. Não considero que na concelhia haja uma posição do Nuno Azevedo e uma posição da Fátima Galhardo. Estamos ambos a trabalhar para que o PS de Coruche seja ganhador. Para mim o mais importante é o partido ganhar as autárquicas.
Se não for escolhida para cabeça-de-lista, o que é que vai fazer? Vou trabalhar, como sempre trabalhei. Durante muitos anos trabalhei como formadora no Instituto do Emprego e Formação Profissional, estive no Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, fui consultora em regime de avença. Mas o meu compromisso é com os coruchenses e, nesta altura, se eu não assumisse uma posição política seria um sinal de fraqueza. Iriam pensar que estou há 22 anos na câmara, 14 dos quais em funções políticas, e que na hora da verdade fugia às responsabilidades. Uma das minhas grandes características é assumir e honrar as responsabilidades que tenho com Coruche e não estou numa aventura de um mandato, mas de vários mandatos. Estou pronta para ser presidente se o PS me quiser aceitar e reconhecer o meu percurso. Se não fosse uma mais-valia não estaria este tempo todo na autarquia.
Esperava que o presidente da câmara, Francisco Oliveira, saísse antes de terminar o mandato para lhe dar espaço para se posicionar como candidata, como acontece em alguns municípios? As pessoas quando votam reconhecem que estão a escolher alguém para fazer um mandato de quatro anos. Não o fazer é fugir ao compromisso da verdade com os militantes e os eleitores. Não concordo que não se faça o mandato até ao fim.
A quem é que disse primeiro que quer ser cabeça-de-lista à câmara? Ao meu presidente Francisco Oliveira e na mesma altura ao meu marido e ao meu filho. Neste momento não vou falar se conto com ele ou não neste processo. A decisão de fazer este caminho tomei-a sozinha, porque posso ter o apoio de muitos, mas tenho de estar segura do que quero e dos riscos que corro.
Quanto é que vale no concelho o seu estatuto político? Não considero que tenha estatuto. O meu percurso será reconhecido por alguns, outros terão outra opinião.
Há na câmara serviços que não gostam de si… Ao longo do tempo há pessoas que reconhecem o meu trabalho, outros não. Desde 2009 tenho na câmara áreas em que formo opinião diariamente, como a educação e a acção social. Nunca tive nestas áreas alguma situação complicada, ou que não se conseguisse resolver, o que se deve também a uma das minhas características pessoais que é tentar encontrar o melhor entre duas partes.
Alguma vez sentiu-se boicotada no seu trabalho autárquico? Não, nunca. Quando sinto que possa haver alguma intenção nesse sentido, rapidamente vou ter com a pessoa e falo abertamente sobre o assunto. Não existe nada pior num líder do que não resolver os problemas quando eles acontecem.
O que é que estas duas décadas na vida autárquicas representam para a sua vida? Representa um percurso de conhecimento em várias áreas, que é de uma riqueza extraordinária. Ser autarca é nunca estar contente com aquilo que se faz hoje e pensar no amanhã, no mês seguinte, nos anos seguintes. O grande desafio de Coruche é fixar empresas, trazer pessoas para o concelho.
Parece que já está a fazer campanha. Já tem os temas para as eleições? Adoro o que faço e já tenho as ideias para a campanha. Quem me conhece sabe que vou amadurecendo os contextos, os acontecimentos e vou tentando aperfeiçoar-me. Quanto mais bem preparados estivermos, melhor será a nossa capacidade.
O facto de ter agora um companheiro que influencia tem enquanto pessoa e autarca? O companheiro já existe há algum tempo, mas o facto de agora assumir publicamente significa que quando gostamos de alguém não o devemos viver na sombra.
Já está na câmara há tanto tempo que já não deve ter muitas coisas novas para fazer, se não já teria feito. Há grandes desafios no futuro e uma das situações para as quais temos de olhar é para a quantidade de imigrantes que estão a chegar à região e ao concelho de Coruche. Temos de olhar para esta dinâmica de termos várias nacionalidades dentro do nosso território, para a forma como nos devemos posicionar em relação às escolas, aos alojamentos e à vida em sociedade. Outra área em que é preciso apostar é em trazer mais investimento, dignificar o que Coruche tem de melhor, juntando a cultura tauromáquica, a gastronomia, o montado e a cortiça. Uma das coisas também que temos de fazer é promover a certificação de alguns produtos relacionados com o toiro bravo.
Coruche junto com Almeirim são os municípios que estão na empresa intermunicipal de recolha de lixo que é gerida pelo ex-presidente de Coruche, Dionísio Mendes. Com a saída de muitos dos autarcas da região que não se podem recandidatar deve haver mudanças na Ecolezíria? É uma opção que depois das eleições terá de ser tomada pelos presidentes das câmaras da Lezíria do Tejo.