Utilizar a vida pessoal de alguém para fazer oposição política é fraco argumento
Ana Coelho é vereadora na Câmara de Azambuja com o pelouro da Saúde num concelho onde há apenas um médico de família. Antiga coordenadora da Protecção Civil do Cartaxo, diz que as entidades ligadas ao socorro precisam de aprender a trabalhar em conjunto e defende uma ligação de Azambuja à A1 para tirar os veículos pesados da Estrada Nacional 3.
Ana Coelho saiu desta entrevista a atirar farpas à oposição e a afirmar convictamente que quer continuar na política por ter “capacidade de fazer mais e melhor”. Com o seu primeiro mandato como vereadora na Câmara de Azambuja a entrar na recta final, diz que entrou para a política, deixando congelado o cargo de coordenadora da Protecção Civil no Cartaxo, pelo desafio e não se arrepende da decisão por sentir que tem feito a diferença. Nomeadamente por “ter chegado e ter colocado em funcionamento a Central Municipal de Operações de Socorro, que estava há anos para sair da gaveta e tem sido uma mais-valia enorme na eficiência do socorro”, servindo de modelo para outros municípios.
Em entrevista a O MIRANTE no seu gabinete, onde tem uma fotografia com as duas filhas e filho, e imagens religiosas que a apresentam como uma mulher de fé, Ana Coelho diz que na política se fazem mais inimigos do que amigos porque “as pessoas acham que os autarcas conseguem resolver tudo e da maneira que elas querem”. Não pode, afirma, haver ideia mais errada. Ainda assim, diz, toma nota de tudo o que lhe pedem e procura resolver o que está ao seu alcance. “Às vezes durmo muito mal em busca de soluções”, confessa a vereadora que soma, entre outros, os pelouros da Saúde, Trânsito, Protecção Civil e Segurança.
Com forte ligação a Aveiras de Cima, vila de onde guarda as melhores memórias de infância em casa dos avós, Ana Coelho define-se como uma “mulher de coragem, leal, trabalhadora, honesta e ambiciosa”. O escrutínio é algo que veio com o lugar que ocupa no executivo e que, confessa, já a incomodou, sobretudo quando “a certa altura do mandato a [sua] vida pessoal foi trazida a público” por ter um relacionamento com o, na altura, comandante dos Bombeiros de Azambuja. “Foi posta em causa a minha credibilidade, mexeu comigo, confesso. Cheguei a ponderar deixar o pelouro, por estar a prejudicar o corpo de bombeiros”, conta.
Mais recentemente, foi arrastada para outra polémica por não ter defendido a vereadora do Chega quando o presidente do município lhe disse que estava muito excitada. Não respondeu quando foi acusada pelo PSD, em assembleia municipal, de falta de solidariedade para com uma autarca mulher, mas responde agora: “não acho que a expressão tenha a conotação que lhe foi dada, não me senti ofendida e não achei que havia necessidade de defender a vereadora, ela sabe muito bem defender-se”.
Ainda sobre os vereadores da oposição, Ana Coelho diz que falam muito mas não fazem nada. “Sinto que criticam por criticar e isso não é bom. Além disso, usar a vida pessoal de alguém para fazer política diz tudo acerca de uma oposição. Essa não lhes perdoo, só pode mostrar falta de capacidade e de inteligência política”, afirma.
Os comerciantes de Azambuja queixam-se da falta de estacionamento. Os parquímetros vão ou não avançar?
Estamos a elaborar com uma empresa a postura da vila de Azambuja onde está contemplado o ordenamento do trânsito, nomeadamente do estacionamento. Ainda não está decidido, porque o documento não está terminado, mas está em cima da mesa a colocação de parquímetros com os moradores e comerciantes salvaguardados com um cartão que lhes permite estacionar sem pagar. Mesmo para quem venha a Azambuja para ir ao comércio ou aos serviços a primeira hora será gratuita, depois será pago para impedir que as pessoas que vêm apanhar o comboio estacionem indiscriminadamente.
E para quem apanha o comboio está previsto até final do mandato o arranjo dos parques de estacionamento?
Pelo menos um dos parques fica arranjado. Também temos um parque na zona da praça de toiros em condições e que acomoda inúmeros carros, mas é muito pouco utilizado.
As obras na Estrada Nacional 3 vão resolver os problemas de trânsito e sinistralidade ou faria sentido investir-se numa estrada alternativa para circulação de veículos pesados?
Neste momento essa hipótese, a da via que passa por trás da zona logística, não está em cima da mesa. É demasiado cara para a podermos fazer e acho que as rotundas vão diminuir a sinistralidade. Estamos agora em conversações com a IP [Infraestruturas de Portugal] para ser feita uma terceira rotunda, onde está agora a provisória, por causa das obras, à entrada de Vila Nova da Rainha.
Com o município a custear?
Ainda não sabemos, estamos numa fase muito inicial. Antes de iniciar a obra percebemos que fazia sentido ter ali aquela rotunda para escoar o trânsito.
Não faria maior diferença Azambuja ter ligação directa à A1?
Faria, mas a resposta que temos ouvido é que não é possível para já. Temos insistido em proibir o trânsito a pesados dentro das vias municipais e o trânsito fluir dentro da auto-estrada sem que seja pago de Aveiras de Cima até ao Carregado, como acontece em Vila Franca de Xira. A ver vamos...
Foi realizado um simulacro de acidente ferroviário em Vila Nova da Rainha para testar meios mas nunca se percebeu a que conclusões chegaram...
Chegámos à conclusão que a sinergia e o trabalho em equipa funciona mas que entre entidades ainda há muitos pormenores a afinar. Às vezes as várias entidades têm diferentes métodos de trabalho e, pior que isso, não estão habituadas a trabalhar umas com as outras. Um problema que se altera treinando em conjunto através destes simulacros e formações conjuntas. É nisso que temos apostado. Este ano fizemos um simulacro na CLC para testar o nosso plano de emergência externo.
O serviço que a Ecoambiente presta vale os 10 milhões que os contribuintes, através do município, lhe pagam por oito anos de serviço?
Sim, vale, se cumprir o que está no contrato. E para assegurar isso contratámos uma pessoa para fiscalizar o trabalho da Ecoambiente. A recolha dos biorresíduos é uma medida que está a surgir, que é muito cara e obriga-nos a um investimento grande e que já esta incluída neste novo contrato que incluiu também a aquisição de três carros para recolha e lavagem de contentores. Além da colocação de mais contentores normais, contentores de biorresíduos e sensores para colocar nos caixotes do lixo para que possamos perceber quando estão cheios ou vazios para acertar circuitos de recolha. Temos ainda outro serviço adicional: a recolha dos resíduos de construção, que era um problema no concelho. Agora basta o requerente ligar e solicitar os ‘big bags’ e agendar a recolha quando tiver terminado a obra.
Andam há dois meses a visitar estabelecimentos para incentivar à recolha selectiva de biorresíduos. Qual é a taxa de adesão?
Dos 72 visitados, 60 aderiram à recolha. Alguns olham com uma certa desconfiança mas estão dispostos a experimentar. Vai também haver contentores pela vila e já começámos a fazer sessões de sensibilização e esclarecimento. Ainda há pouco recebemos 200 compostores que estamos a distribuir. Há poucos apoios mas estamos alerta e temos aproveitado os que existem.
Saúde tem sido o pelouro mais desafiante
Quantos médicos de família há neste concelho? Temos apenas um médico de família. Depois temos três prestadores de serviços e o projecto Bata Branca com 13 médicos, que funciona quase como se fosse um médico de família porque as pessoas podem pedir para agendar com quem as consultou antes. É óbvio que é um penso rápido, de futuro o que queremos é médicos para o concelho. Por isso estamos a trabalhar numa unidade de saúde familiar (USF) tipo C. Já pedimos reunião à ministra, que não nos recebeu, à Secretaria de Estado que não nos recebeu, mas recebeu-nos a chefe de gabinete e fizemos a manifestação de interesse. É uma unidade mais autónoma, com equipa de médicos e quem sabe daí consigamos evoluir para uma USF B e fixar médicos.
O que falta a Azambuja para que os médicos se queiram fixar? Os concursos ficam vazios aqui e em praticamente toda a Lisboa e Vale do Tejo. Os colegas dos outros concelhos, tirando de Arruda e Vila Franca de Xira, também estão nesta situação. Aqui compreende-se, porque não temos nenhuma USF B, que os atrairia pela remuneração e trabalho organizado. Nós temos uma UCSP e a diferença remuneratória é muito grande, cerca de dois mil euros.
Não será o Bata Branca o penso rápido que veio para ficar? Se calhar vai. O Bata Branca é eficiente, mas queremos é ter médicos com horário normal e as valências a que temos direito, como a saúde materno-infantil. É mais atractivo esse projecto por causa do valor/hora com diferenças de 20 ou mais euros. Para um médico, receber 40 euros por hora no Bata Branca é muito apelativo, quando um tarefeiro recebe 20 euros, às vezes nem chega.
O PSD diz que a criminalidade cresceu neste concelho e o PS diz o oposto. Em que ficamos? Com os últimos acontecimentos provavelmente cresceu, mas ainda não temos acesso a esses dados. O que temos notado é que os assaltos são mais violentos. Os dados que me foram enviados pela GNR dizem-nos que há menos ocorrências. Em Aveiras de Cima foram registadas, em 2023, 168 ocorrências e este ano 67, em Alcoentre 148 em 2023 e 55 em 2024, na união de freguesias 60 em 2023 e 20 em 2024. Na freguesia de Azambuja em 2023 houve 339 ocorrências e em 2024 154, em Vila Nova da Rainha 46 no ano passado e 17 em 2024, em Vale do Paraíso, 29 em 2023 e cinco em 2024 e em Aveiras de Baixo 46 em 2023 e 17 em 2024.
O município e a junta de freguesia investem mais de cinco mil euros num guarda para fazer patrulha em Aveiras de Cima. É um serviço que ponderam alargar ao alto concelho? É, por causa dos assaltos que tem havido. Temos relatos de pessoas que não dormem, ou dormem à vez para estar em vigilância. Sabemos que houve acréscimo na instalação de câmaras de vigilância e também do patrulhamento à paisana, que triplicou, com guardas a vir de todo o distrito.