Vice-presidente de Salvaterra não aceita estar na lista do PS mas quer ser presidente da câmara
Helena Pereira das Neves poderia aceitar continuar a ser a número dois numa equipa, mas não na lista encabeçada por Francisco Madelino, que foi afastado da presidência da Fundação Inatel.
E não é só pelo cabeça-de-lista, é, sublinha, pelo pacote todo. A vice-presidente da Câmara de Salvaterra, no terceiro mandato, entrou na política como independente pelo PS em 2013, filiou-se no partido e desvinculou-se em Dezembro último. Entrou no município pela mão de Hélder Esménio, que atingiu o limite de três mandatos à frente da Câmara de Salvaterra de Magos. Com a expectativa de continuar a trabalhar em prol do concelho e fiel às convicções, conta nesta entrevista porque é que decidiu encabeçar um movimento independente, revelando que a enerva usarem a causa pública por interesses pessoais.
Qual é a mais-valia de estar desde 2013 como vereadora e vice-presidente da câmara? Olhando para trás percebo que estar ao serviço da população é o que gosto de fazer. Estes anos deram-me muita experiência e gostei imenso porque contribuir para a melhoria de alguém do concelho onde nasci, cresci e sempre estive ligada é muito importante. Quando fui convidada tive dúvidas se conseguia ser uma mais-valia para a equipa autárquica. Mas ao longo do tempo percebi que tinha as valências que o presidente Hélder Esménio pretendia e que ele achou que eu tinha.
Quais são as tareias piores, as que levou quando praticou judo ou agora as políticas? Tenho levado mais porrada do que tenho dado, mas a vida é mesmo assim. As derrotas ensinam-nos muito, para que possamos ter a seguir vitórias mais gratificantes. Não sou mulher de corridas, de decisões rápidas, sou mais de resiliência e de pensar bem primeiro. Sou mais de me focar em objectivos e estar disponível para ser flexível.
Quem é que lhe tem batido politicamente? Tenho tido a sorte de ter um presidente muito presente e forte, que tem mantido a equipa protegida politicamente. Tenho sido sempre muito envolvida em tudo o que é a gestão da câmara, mais como operacional. Não sou de procurar protagonismo, não preciso disso para fazer o que tenho de fazer. É mais importante que as coisas aconteçam. Resolver-se uma situação é mais importante do que se evidenciar que fui eu que fiz.
Porque é que se desfiliou do PS? Filiei-me a meio do primeiro mandato porque percebi que o partido no concelho não tinha muitos militantes e foi feito um trabalho de reforço da concelhia. Apresentei recentemente na comissão política a minha vontade de ser candidata à câmara pelo PS, houve reuniões nesse sentido, mas o nome que foi escolhido foi o de Francisco Madelino. Mantendo a vontade de ser candidata não me sentia confortável em continuar no partido.
Está a dizer que vai ser candidata contra o partido em que esteva filiada? A minha ideologia não mudou, mas não aceito ser a número dois na equipa de Francisco Madelino. Estou a estruturar um movimento independente com um conjunto de pessoas que me está a ajudar. Se fosse outra equipa até poderia ser número dois, mas no PS não porque não me identifico com esta equipa. Posso às vezes ter dúvidas do que quero fazer, mas neste caso sei que não quero. Não estou só a falar de um nome, mas de um pacote associado com o qual não concordo.
Quais são as pessoas que está a convidar para o movimento? São pessoas que têm de ter um compromisso com o desenvolvimento socio-económico do concelho e que podem ser oriundos de vários quadrantes ideológicos ou que nunca tenham tido qualquer ligação à política. É natural que apareçam pessoas do PS, mas também de outros partidos. Já estamos a escolher as equipas.
Procurou noutros partidos apoio para a sua candidatura? Não! Acho que este grupo tem de estar fora das lógicas partidárias. As pessoas vão ficar surpreendidas porque há gente de vários quadrantes.
Conta com o apoio do presidente da câmara? O que sei é que o presidente está muito focado em terminar o seu mandato. Gostaria de contar com o apoio dele, mas sobretudo da população. A minha decisão de avançar para uma candidatura independente surge do apoio de pessoas que querem continuar o projecto e querem continuar a dar o melhor para o desenvolvimento do concelho.
O que é que tem melhor que o candidato do PS? Sou próxima das pessoas e sou próxima de verdade, porque quando falo das pessoas ouço-as, não estou só a fingir que as estou a ouvir. Acredito de verdade, porque se não ia-me embora, que quem está na vida pública tem de estar para servir os outros. Não pode em momento algum usar a causa pública para proveito próprio em detrimento do colectivo. Estas situações enervam-me.
Está preparada para se sujeitar à crítica? Durmo bem na minha almofada, em consonância com os valores que defendo. Estou pronta para as críticas, porque sou uma mulher de convicções e de lutas e porque lido bem com as críticas. Gosto de reflectir sobre o que me dizem e acho que melhoramos quando percebemos as perspectivas dos outros.
O que é que mudou na sua vida quando foi para a vida autárquica? A exposição pública, porque de resto já trabalhava muito. Também deixei de ter tempo para cozinhar, para ler e para viajar. Ainda bem que já consegui fazer as viagens de sonho antes de entrar na câmara, como à Patagónia e à Índia. Era uma devoradora de livros e agora quando chego a casa já estou tão cansada que o que faço é meditar ou yoga.
A meditação serve-lhe para quê? Foca-me, traz-me equilíbrio, ajuda-me a aceitar-me como sou e a estar em paz.
Porque é que é mãe solteira? Sou mãe solteira porque nunca casei, mas quando adoptei há 13 anos a Xana, com 10 anos, tinha um companheiro. Depois a nossa vida mudou, ele está no estrangeiro. Continuamos muito amigos. Ele é pai da minha filha e eu sou mãe. Desde miúda sempre disse que queria adoptar e não queria ser mãe biológica. Adoptei porque estava convicta que queria mudar a vida de alguém e agora olho para traz e vejo que ela é que mudou a minha vida para melhor.
Por que motivo nunca casou? Os meus pais foram muito felizes no casamento, mas o casamento nunca me disse nada. As pessoas têm de estar juntas quando as coisas fazem sentido. Não somos donos de ninguém e as coisas não acontecem por acaso.
O que é que quer para Salvaterra Magos? Dar continuidade a um trabalho integrado, olhando para o concelho como um todo. Cuidar da vida das pessoas. Mas também é preciso ter um grande foco no desenvolvimento económico. É preciso continuar a procurar mais investimento económico, mais empregos para o concelho.
A Auto-Estrada nº 13 (A13) não trouxe vantagens notórias. O novo aeroporto é uma nova oportunidade para Salvaterra de Magos? É preciso estudar os impactos que o novo aeroporto representa para o concelho. Mas pode ser importante na questão da atracção de empresas.
Qual é a sua posição relativamente à nova lei dos solos e às competências do município nessa matéria? Deve ser permitido fazer construção nos solos urbanizáveis, mas onde de há um tempo a esta parte estava proibido fazer construções. Ou seja, nos espaços onde já foi possível construir e onde algumas pessoas fizeram casas, sobretudo em terrenos de familiares, em zonas onde depois se restringiu essa possibilidade, ficaram zonas sem nada entre casas. É nesses espaços que se deve consolidar a construção.
Uma mulher fora da caixa que não finge que está a ouvir as pessoas
Depois de perder a corrida para candidata socialista por três votos, Helena Neves encontrou apoio em pessoas de vários quadrantes ideológicos e outras que nunca tiveram qualquer experiência política para, diz, continuar a fazer um trabalho de valorização do concelho. A agora candidata independente diz que não se identifica com a candidatura do PS e não é só por causa de Madelino, é por todo o pacote associado. Comenta que quem está na causa pública não deve estar por interesses pessoais e diz que quando as pessoas falam com ela não está a fingir que as está a ouvir.
Classifica-se como uma mulher que não desiste, que se aplica no que faz e que não se encaixa em estereótipos. “Sou fora da caixa, sou eu”, refere quem praticou judo quando esse desporto não era para raparigas e quem já em adulta percebeu o que os pais devem ter ouvido de ela e a irmã irem em carrinhas cheias de homens para competições.
Descomplicada, a vice-presidente da Câmara de Salvaterra de Magos, nasceu em Marinhais em 1968, adoptou uma menina com necessidades especiais, é professora voluntária de yoga na universidade sénior, foi professora do ensino secundário e fundou uma empresa de actividades pedagógicas quando percebeu que o ensino oficial não dava resposta a crianças e jovens com necessidades educativas especiais, como a de um rapaz que chegou ao sétimo ano sem terem percebido que era surdo. Fez o curso superior de engenharia zootécnica, que nunca exerceu e foi monitora de colónias de férias e foi dirigente associativa.