Pedro Ribeiro impôs escolher equipa em Santarém e vai continuar a viver em Almeirim
Pedro Ribeiro começou a sua carreira política em Almeirim como delfim do ex-presidente Sousa Gomes, já falecido, foi vereador, chateou-se com o seu mestre e foi para o extinto governo civil uma temporada, voltou à câmara, foi vice-presidente e agora está a terminar o terceiro mandato como presidente.
Ao fim de 30 anos de carreira decidiu ser candidato à Câmara de Santarém, revelando que não aceitou dois convites para cargos nacionais. Diz claramente que vai continuar como presidente em Almeirim até ao último dia e ao mesmo tempo candidato em Santarém, não vendo qualquer incompatibilidade nem mesmo na comunidade intermunicipal, onde é presidente e vai estar a decidir numa espécie de agente duplo. Também admite continuar a mandar nos bombeiros de Almeirim, apesar de em Santarém a câmara ter a tutela dos bombeiros sapadores. Nesta entrevista, o político socialista admite ser vereador na oposição se perder as eleições, salienta que só houve uma condição para ser candidato, que é a de escolher os nomes para a lista e garante que não vai interferir no processo em Almeirim.
Já anunciou que vai ser candidato à Câmara de Santarém e presidente da Câmara de Almeirim até às eleições autárquicas. Não corre o risco de se confundirem essas duas facetas? Não. Ao longo dos tempos sempre consegui distinguir perfeitamente os vários locais onde estive. Sempre disse que faria os meus mandatos até ao fim. Aliás, tive dois convites durante este mandato, um deles logo no início, para funções nacionais.
Para organismos do Estado, como a CCDR? Para esse não. Foram convites feitos por quem na altura tinha capacidade de os fazer e eram interessantes do ponto de vista pessoal, com menos exposição e até ganhando mais. Mas sempre disse que levaria o mandato até ao fim. Foi nisso que as pessoas votaram e quero fazê-lo.
Mas nessa altura não equacionava a possibilidade de ser candidato a um município vizinho. Ou, pelo menos, era isso que ia dizendo. Não equacionava essa possibilidade. Mas, como referi, entendo que, salvo excepções, os mandatos devem ser cumpridos até ao fim. Aliás, continuo a trabalhar e quem me conhece sabe que saio de casa todos os dias às oito da manhã com o mesmo foco. Continuo a ir ver obras, a decidir coisas, a lançar projectos, muitos deles importantes para o concelho e para a cidade. Continuo a correr da mesma forma, separando perfeitamente o que é uma coisa e outra.
Já falou com o presidente da Câmara de Santarém, depois de ter sido anunciado como candidato ao cargo? Falar não, contactei…
Tem sido interessante ver o despique nas redes sociais entre si e o presidente da Câmara de Santarém e seu muito provável adversário nas próximas autárquicas. Parecem quase aquelas cantigas à desgarrada, neste caso a ver quem mostra mais serviço. Da minha parte não…
Da sua parte há até um registo diferente. Antes só havia publicações sobre Almeirim e agora também há sobre Santarém. Isso mudou a partir do momento em que, efectivamente, fui escolhido como candidato. As questões são formais.
Vai ter que repartir melhor o seu tempo para chegar a todo o lado. Como já disse, eu começo a trabalhar às oito da manhã. Aquilo que era o pouco livre que tinha, vai ser obviamente menos.
Já estudou o eleitorado que vai encontrar em Santarém? É verdade que Santarém é um concelho que tem duas vezes e meia o território do concelho de Almeirim, tem também duas vezes e meia a população de Almeirim, e obviamente que um território dessa dimensão é diversificado. Acresce o facto de Santarém também ser capital de distrito. É um território diversificado dentro da cidade e dentro do próprio concelho. Esta diversidade é mais difícil de responder mas é também um desafio diferente. Não fiz estudos sociais, demográficos ou outros, tal como não fiz sondagens. Mas, obviamente, não tenho um conhecimento do concelho de Santarém igual ao que tenho do de Almeirim.
A condição é escolher a equipa
A sua candidatura foi um dos segredos mais mal guardados dos últimos tempos na política da região. Quem fez mais por essa candidatura: o Pedro Ribeiro ou o PS de Santarém? Houve um conjunto de pessoas que foi falando coisas sem saber e sem fundamentos. É verdade que ao longo dos tempos, ainda no anterior mandato, houve quem me dissesse que poderia vir a ser candidato em Santarém, mas isso foram comentários a que não dei qualquer importância. Há uns tempos fui contactado de forma mais séria. E eu, que até aí não levava a questão a sério, perguntei o que é que pretendiam. Responderam-me que queriam saber se estava disponível e em que condições.
E quais foram essas condições? São simples: eu poder escolher com quem trabalho.
Ou seja, o senhor é que vai fazer a sua lista? Sim, sim.
Vai levar o seu número dois na Câmara de Almeirim, ao que consta? Vou escolher a minha equipa, sempre foi assim comigo, tal como aconteceu com o meu antecessor na Câmara de Almeirim e com a pessoa que espero que venha a ser o meu sucessor.
O PS de Santarém não vai ter uma palavra a dizer na composição da sua lista? Quando escolhemos com quem trabalhar falamos com pessoas. Quando escolhi com quem trabalhar em Almeirim falei com pessoas. Uma coisa é nós ouvirmos a opinião das pessoas, outra coisa é nós decidirmos o que os outros querem que a gente decida. Aquilo que ficou acordado foi podermos fazer as listas.
Para as freguesias também? Eu não voto na concelhia de Santarém do PS, mas as escolhas que já foram feitas, quer do Diamantino Duarte quer do Joaquim Neto, são as escolhas certas para os lugares certos. E seremos nós os três, em conjunto com Manuel Afonso, a escolher outros candidatos.
Insistimos: o seu número dois na Câmara de Almeirim vai integrar a lista à Câmara de Santarém? A lista será, acho eu, uma boa surpresa. E no tempo certo será conhecida. O que se espera é que possamos ter uma maioria para poder governar.
E se não ganhar, vai para vereador da oposição? Sim. Se não ganhar, voltarei ao meu local de trabalho. Sou funcionário da administração tributária, colocado em Rio Maior.
A ex-EPC, o Rosa Damasceno, o acordo com o PSD e a resposta a quem lhe chamar paraquedista
A sua primeira publicação nas redes sociais em relação a Santarém foi sobre as condições do rugby. Dizem que foi um tiro no pé porque a câmara já tem um projecto que está pronto a arrancar. Por norma, em Almeirim publico o que faço, não projectos. A antiga Escola Prática de Cavalaria é um espaço fundamental para a cidade e é preciso olhar para ela como um todo e não com projectos avulsos. O espaço tem de ser regulado. Fui ao rugby porque quis ver o espaço e porque houve pessoas que me pediram para ir ver as condições.
Também falou no antigo Teatro Rosa Damasceno, para o qual também há um projecto de intenções… Não é possível fazer um novo Rosa Damasceno igual ao que estava antigamente. É possível fazer coisas diferentes, eventualmente ter no local o museu da cidade. Podem dizer que depois há um problema de estacionamento, mas se de cada vez que se quiser alguma coisa achar-se que se consegue resolver tudo, nunca fazemos nada. Não se pode andar a dizer que se tem de viver o centro e depois retirar do centro o que leva lá pessoas. Se quero pessoas a visitar tenho de ter sítio para irem. Se tiver visitantes mais facilmente consigo vitalizar os estabelecimentos comerciais e assim há mais gente a trabalhar.
Como é que vai fazer oposição ao PSD quando o seu partido tem dois vereadores com funções executivas na câmara? É possível verificar a diferença no dinamismo que houve nos pelouros atribuídos aos vereadores do PS. Houve uma separação de áreas e a análise é que, por exemplo, na cultura e no património e nas questões da agricultura há uma diferença.
Portanto, a tónica da campanha eleitoral vai ser que os vereadores do PS é que fizeram um grande trabalho e os do PSD não… A tónica da campanha é uma coisa simples, é dizer às pessoas o que é que eu e as pessoas que estão comigo entendem que deve ser o futuro de Santarém. Sem criticar. Todos os que estiveram nos cargos fizeram o melhor que sabiam e podiam. Em algumas áreas teria feito diferente. Quero dizer o que farei se tiver a oportunidade de ser presidente da câmara.
Facilitava-lhe a vida se essa aliança acabasse agora, antes das eleições? Não! Os políticos quando fazem um acordo devem cumpri-lo até ao fim. A não ser que o presidente da câmara resolva retirar os pelouros. Houve quem no PS defendesse que a coligação devia acabar, porque assim podia-se dizer mal à vontade. Não tenho essa perspectiva, até porque as pessoas sabem distinguir as pessoas.
Se chegar a presidente de câmara qual será a primeira medida? É preciso definir algumas questões que precisam de respostas rápidas. A primeira medida é definir o que é preciso concretizar em 100 dias.
Já Moita Flores tinha essa conversa dos 100 dias… Querem mesmo que fale sobre isso? A câmara precisa de ter uma proximidade diferente com as pessoas. É preciso criar o espírito de que é preciso facilitar a vida às pessoas.
Pensa levar de Almeirim alguns quadros técnicos? A Câmara de Santarém tem um conjunto de técnicos com capacidade e conhecimentos e o que se espera deles é que, cumprindo a legislação, possam dar as respostas céleres aos cidadãos. Uma marcação para um atendimento técnico não tem de ser uma coisa altamente burocrática em que se está semanas ou meses à espera. Muitas vezes as pessoas só querem fazer uma pergunta que demora 30 segundos a responder. Desburocratizar é o mote mais importante.
Não seria mais fácil nesta altura da sua carreira política ocupar um cargo num organismo estatal, do que sujeitar-se a estragar o percurso com uma derrota nas eleições? Seria mais fácil por vários motivos, mas entendo que com o conhecimento e experiência que tenho posso ser útil ao concelho de Santarém, à capital de distrito.
E se lhe chamarem paraquedista? Estudei em Santarém, tenho família e amigos em Santarém, tenho um vice-presidente na Câmara de Almeirim que é de Santarém. Quem me pode chamar isso são as mesmas pessoas que foram buscar alguém que não era da região, que disse que resolvia a dívida da câmara em 100 dias e que seis anos depois tinha triplicado o valor da dívida.
Está preparado para as provocações, para uma vida muito mais complicada politicamente? Cá estarei para viver com isso.
Não tinha mesmo como dizer não ao PS? Disse muitas vezes não ao partido. Se entendesse que não havia condições, não teria avançado. Ao longo dos tempos sempre critiquei o que achei que devia, fosse qual fosse o Governo, fossem até com pessoas com as quais tenho proximidade.
A comunidade intermunicipal não é para fazer política
Presumimos que vai continuar também como presidente da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT). Não seria preferível entregar as funções a alguém menos engajado politicamente nas próximas eleições autárquicas? As funções que tenho tido ao longo dos tempos na CIMLT não têm sido propriamente políticas, têm sido funções de acordo com o que são as posições dos 11 colegas das câmaras que fazem parte da comunidade. A CIMLT não é um local de fazer política.
Mas tomam-se decisões que envolvem todos os municípios. As decisões sempre foram tomadas do ponto de vista da unanimidade.
E se isso deixar de acontecer agora? Se houver contestação por parte de algum município? As contestações podem acontecer a qualquer momento. Da minha parte, a postura continuará a mesma. A CIMLT é um local onde nos encontramos para decidir coisas que são importantes para todos. As decisões que tomamos nem sempre têm o mesmo valor para todos, porque há áreas mais importantes para uns do que para outros. As questões do desporto são muito mais importantes para Rio Maior, por causa da aposta que o município fez nessa área, tal como as questões da cultura em Santarém ou as questões da gastronomia em Almeirim têm outro tipo de importância. Aquilo que fazemos é numa lógica de cooperação e as questões políticas nunca foram ali discutidas dessa maneira.
Mas também nunca houve uma situação destas na CIMLT, com dois presidentes de câmara que são candidatos à presidência do mesmo município. O país já tem anos suficientes de democracia para que saibamos distinguir as coisas. Da minha parte, as coisas estão perfeitamente definidas.
Quando tiver que tomar decisões na CIMLT, vota a pensar no município de Almeirim ou numa eventual futura presidência da Câmara de Santarém? Na CIMLT votamos sempre com um princípio simples: as decisões relativas a cada município é o presidente do mesmo que as toma. Se a Câmara de Santarém tiver um projecto com fundos comunitários, que é aquilo que passa pela CIMLT, e quem lá está hoje tomar determinada decisão, eu não tenho que opinar sobre ela, independentemente de concordar ou não. Quem está tem a legitimidade de tomar as decisões relativas à condução da política autárquica no seu município.
“Não vejo problemas em continuar como presidente dos Bombeiros de Almeirim”
Vai continuar a ser o presidente dos Bombeiros Voluntários de Almeirim? Mantenho as funções que tenho no associativismo. Se achar que o meu contributo é útil, não vejo qual é o problema. As decisões dos Bombeiros de Almeirim em nada impactam com as questões de Santarém.
Mas se for eleito presidente da Câmara de Santarém fica com a tutela dos bombeiros sapadores. Como é que compagina isso? As questões dos bombeiros em Santarém, as relações entre sapadores e as corporações de voluntários, têm 30 anos. O que as pessoas querem saber é se têm resposta. Isso é que é o mais importante.
O presidente da concelhia de Santarém do PS manifestou a opinião de acabar com os sapadores. Qual é a opinião do candidato? Não tenho essa opinião. Não conheço a capacidade operacional de nenhum dos quatro corpos de bombeiros do concelho de Santarém. Para se tomar decisões é preciso perceber as várias realidades. Os políticos não devem tomar decisões com base em percepções. À realidade dos bombeiros há que acrescentar a nova realidade do aeródromo. Não sei o que é que a Câmara de Santarém tem perspectivado para o aeródromo.
Mas qual é a sua ideia para o aeródromo? Há coisas que não podemos opinar quando não temos um conjunto de dados. A Autoridade de Protecção Civil pode ter no aeródromo aviões e helicópteros. Sou presidente da comissão distrital de protecção civil e acompanho a colocação de aeronaves no distrito. O aeródromo para funcionar hoje tem um conjunto de obrigações que não tinha há 10 anos. O novo aeroporto também pode vir a impactar nas rotas e na capacidade de resposta dos aeródromos.
Concluindo, não tem ideias para os sapadores nem para o aeródromo, que dependem directamente da câmara. A seu tempo cá estaremos para falar sobre isso.
A disponibilidade para ajudar o sucessor em Almeirim
E em Almeirim, onde é militante e tem influência na concelhia do PS, vai também estar a par, sugerir quem vai entrar nas listas? Sou habitante desta cidade e não vou deixar de o ser. O que foi decidido pela comissão política do PS de Almeirim foi que o candidato escolhido, Joaquim Catalão, fará naturalmente a sua lista. Se me perguntarem alguma opinião, eu dá-la-ei. Mas as escolhas para as listas são, como sempre foram, feitas pelo candidato a presidente. Sobre a lista de Almeirim, para saberem alguma coisa, se ele o quiser dizer, têm que falar com o Joaquim Catalão. Eu não sei qual é a lista.
Quer que acreditemos nisso? As pessoas vão falando comigo e volto a dizer isto: uma coisa é falarem comigo, outra coisa é eu tomar a decisão. Sei de algumas escolhas, mas não sei de todas. E sempre defendi que o cabeça-de-lista é que deve escolher a equipa.
Vai estar concentrado na campanha eleitoral em Santarém mas, se calhar, o seu camarada Joaquim Catalão vai também precisar de uma ajudinha sua em Almeirim. Vem cá também fazer uma perninha na campanha? Farei aquilo que o meu camarada e amigo Joaquim Catalão necessitar da minha pessoa, dentro daquilo que puder fazer.
Essa bipolaridade de o verem em campanha em Almeirim e em Santarém no mesmo processo eleitoral é capaz de deixar os eleitores baralhados. E é muito provável que os seus opositores também vão falar disso. Cada um fará a campanha que entender. Eu continuo a trabalhar, a responder às pessoas, a tentar encontrar soluções para os problemas. E, em última análise, acho que é isso que as pessoas querem.