Entrevista | 19-02-2025 10:00

Depois de muitos anos a marcar golos, Duarte Neto assinou pela Junta de Amiais de Baixo

Depois de muitos anos a marcar golos, Duarte Neto assinou pela Junta de Amiais de Baixo
Presidente da Junta de Freguesia de Amiais de Baixo Duarte Neto

O presidente da Junta de Freguesia de Amiais de Baixo afirma-se como um homem pragmático e perfeccionista que diz gostar de desafios e estar preparado para outros voos, caso o seu partido, o PS, assim o entenda.

Duarte Neto, que jogou futebol federado durante 27 anos, garante que nunca vira a cara à luta, mas lamenta o diferendo com a direcção do clube mais representativo da terra, de que é sócio e foi capitão de equipa. Uma entrevista em vésperas de mais uma edição das emblemáticas festas em honra de São Sebastião.

Duarte Neto nasceu no dia 15 de Setembro de 1972 em Alcanena, terra da mãe, e na sua meninice e juventude viveu em Alcanena e Amiais de Baixo, terra do pai, madeireiro, que faleceu num acidente de trabalho. Fixou-se definitivamente na vila do concelho de Santarém depois de casar, de onde são naturais os seus dois filhos, já formados e a residirem no Porto e em Aveiro.
Estudou Gestão de Empresas no ensino superior mas não chegou a concluir a licenciatura. Trabalha numa empresa de construção civil como orçamentista. Faz orçamentos de obras em diversos pontos do país, com especial incidência em concelhos como Abrantes, Mação, Sardoal, Vila de Rei ou Ponte de Sôr. “São realidades completamente distintas. Quando aqui achamos que somos interior, se andarmos 80 quilómetros para lá vemos a diferença. É muito mais difícil as coisas chegarem lá. São terras mais fechadas, as pessoas são mais reservadas”, diz o autarca de Amiais de Baixo, vila e freguesia com 2.600 habitantes.
Antes disso, Duarte Neto trabalhou na agricultura, que diz ser uma paixão, teve estufas para produção de frescos e plantas aromáticas, mas o negócio deixou de ser rentável devido à subida dos preços dos fertilizantes, tendo cessado actividade. No segundo mandato como presidente, depois de ter feito quatro anos como número dois da junta, o autarca desempenha o cargo a meio tempo, mas não há dia que não passe pela sede para ver o expediente e despachar assuntos relacionados com a freguesia. “Somos uma junta de contas certas, tudo o que fizemos está pago”, vinca.
Duarte Neto foi uma figura do futebol distrital no final do século passado e início deste, tendo, ao longo de 27 anos como praticante, representado diversos clubes da região tanto no campeonato distrital como em competições nacionais. Como ponta de lança vestiu as camisolas do CD Amiense, Rio Maior, Fátima, Alcanenense, União de Almeirim, Monsanto e Ferroviários do Entroncamento. Nos últimos tempos tem vivido uma relação conturbada com a direcção do Amiense, clube de que é sócio e que representou durante vários anos.

Na campanha eleitoral para as autárquicas de 2021 em Amiais de Baixo esteve envolvido numa polémica com a direcção do Clube Desportivo Amiense, que terá levado mesmo a um corte de relações. Já fizeram as pazes? Esse corte institucional nunca aconteceu. As campanhas levam a que as pessoas tenham determinada estratégia para atingir um objectivo. Como não tinham uma base sólida para falar em termos de política e de junta de freguesia, a estratégia da nossa oposição foi pelos ataques pessoais.
Tratou-se de uma questão política que nada teve a ver com o clube? Somente! Aliás, a junta de freguesia nunca cortou relações com nenhuma instituição, antes pelo contrário. Nós oferecemos várias vezes os nossos préstimos ao clube, que nunca aceitou. Felizmente mudou a direcção, mas infelizmente, pelo que me parece, as coisas continuam iguais. Porque são as mesmas pessoas que foram a minha oposição aqui na junta. Recentemente houve um jantar de Natal e o clube convidou todas as instituições da terra e a câmara, mas esqueceu-se da junta de freguesia. Como tal, deduzo que a estratégia seja a mesma.
Como é que se chega a um ponto desses? É só mesmo política ou o senhor também tem algum mau feitio? É somente política. Fui atleta do Amiense durante muitos anos, fui capitão de equipa durante muitos anos, sou sócio e um apaixonado pelo clube e fico triste porque se criou uma divisão sem necessidade. Reafirmo que continuo disponível para ajudar o clube, quando o clube entender que precisa de ajuda. Porque da parte da junta de freguesia nunca houve nenhum entrave. Aliás, eles nunca me pediram nada e arranjam estratagemas políticos para que se ponham contra a junta de freguesia. A nossa postura é a de nunca dar respostas que sejam depreciativas, ajudamos a elevar o nome do clube e estamos sempre disponíveis para ajudar todas as instituições.
Entrar em diferendos com o meio associativo pode ser meio caminho para a desgraça de um autarca nas urnas? Não. Há um grupo restrito de pessoas que continua a alimentar essas situações, mas a restante população já percebeu que esse não é o caminho. O que estou a dizer é do coração e digo em todo o lado: da nossa parte nunca houve qualquer indício de querermos cortar relações com o clube.
Este diferendo nasceu quando e porquê? Foi há quatro anos por altura das eleições autárquicas. Até aí estava tudo tranquilo. O presidente do clube foi o cabeça de lista há quatro anos que perdeu as eleições comigo. Continua-se a alimentar uma situação que é um não assunto.

“Vou chegar ao fim deste mandato sem um cabelo preto”

Está no segundo mandato. Vai avançar para o terceiro? É uma questão problemática. Entrei para a junta de freguesia sem um cabelo branco e vou chegar ao fim deste mandato sem um cabelo preto.
O que lhe fez tantos cabelos brancos? É uma dedicação contínua. Encarei este cargo como uma missão de vida e são 24 horas sobre 24 horas. Dá-me bastante orgulho contribuir para devolver a credibilidade a uma instituição e devolver confiança às pessoas. Hoje, para qualquer assunto que seja preciso ajuda, as pessoas reportam-me. Isso é muito gratificante. Essa relação de proximidade faz com que tenha vontade de fazer o último mandato e de acabar algumas obras importantes.
Nomeadamente? O centro de saúde, cujas obras vão arrancar por estes dias, por exemplo.
Não preferia outros voos no poder local? Por exemplo ser vereador na Câmara de Santarém? Estou disponível para aquilo que o Partido Socialista entender. Ao longo destes 12 anos, o querer aprender e o conhecimento acumulado fez com que me sinta com capacidade para qualquer função. Sou um homem de desafios, nunca virei a cara à luta a nada.
O que mais lhe tira o sono na actividade autárquica? O não conseguir satisfazer todos os pedidos que me fazem. Se não for da minha competência deixa-me mais tranquilo, mas se for, aí sim, tira-me o sono. Sou muito exigente comigo. Aliás, sofro sempre um bocadinho por antecipação. Quando as pessoas vêm com algum pedido, eu gosto de dar logo uma resposta. E por vezes não a consigo dar, porque estou dependente de outras situações. Mas, por portas ou travessas, as coisas têm acontecido. Sou muito prático por natureza. Se uma coisa não tiver solução, se for impossível, digo logo. Nunca digo ‘nim’.
Como são as relações com a Câmara de Santarém? Temos tido uma relação muito próxima e colaborativa. A única forma que temos de progredir nas freguesias é com uma boa relação com a câmara. Seja a câmara de que partido for. Temos que ter uma boa relação institucional com quem nos pode ajudar. Quando somos eleitos é para ajudar o nosso povo, não o nosso partido directamente. É lógico que vamos com um partido atrás e que temos as nossas convicções políticas, mas muitas vezes essas convicções políticas têm que ser contornadas em benefício da terra. É isso que sempre quis fazer.
Os fregueses são muito chatos. Batem-lhe à porta ou telefonam-lhe a reclamar de problemas ou a pedir soluções? O meu telefone está 24 horas disponível e, tirando o período entre a meia-noite e as 06h30 da manhã, há telefonemas e notificações todos os dias e a toda a hora. Vou dando resposta com calma. Não fujo às pessoas que me abordam, vejo isso como um voto de confiança. A junta de freguesia é quase idêntica a uma companhia de seguros.
Em que medida? As pessoas vão a uma companhia de seguros fazer duas coisas: reclamar o prémio do seguro ou entregar a participação do sinistro. As pessoas vêm à junta de freguesia reclamar um problema ou pedir ajuda. Quem estiver deste lado tem que encarar esta situação assim. Um pedido de ajuda, ou uma reclamação, é uma sugestão de melhoramento.

“Em boa hora o PS de Santarém escolheu Pedro Ribeiro”

O presidente de junta é uma espécie de bombeiro que tem de estar sempre de plantão? Diria que o presidente de junta é o elemento mais importante da estrutura política. Porque o primeiro embate é sempre com o presidente de junta. Só se vai bater à porta da câmara, de um vereador, de um chefe de divisão, numa situação extrema em que nós já reportámos o assunto. A importância que temos no dia a dia dessas pessoas é 99% mais importante do que a das estruturas que temos acima.
Chuta muitas vezes a bola para canto, ou seja, para a câmara? Tenho de chutar sempre que não tenho solução. Mas o chutar a bola para a câmara não quer dizer que não vá insistir nesse assunto até estar resolvido.
Fica-se com a ideia que prefere trabalhar mais nos bastidores do que expor as situações publicamente, nomeadamente na assembleia municipal, como fazem alguns colegas seus? A minha função aqui é resolver problemas e prefiro resolver um problema sem levantar ondas. Sempre agradeci a quem me ajudou, sempre reclamei junto de quem não me ajuda. Na assembleia municipal tenho tido também essa postura, agradecendo a quem me ajuda e reclamando quando entendo que o devo fazer. Temos que esquecer essa parte política quando somos autarcas e trabalhar em conjunto.
O que acha do novo presidente da Câmara de Santarém, João Leite? João Leite tem características diferentes de Ricardo Gonçalves, claramente. Enquanto Junta de Freguesia de Amiais de Baixo, não tenho comparações a fazer. A rota que Ricardo Gonçalves traçou foi a mesma rota e estratégia que João Leite aplicou, pelo menos com a minha freguesia. Continuamos a ter uma relação de proximidade, não senti diferenças.
E o que acha do candidato que o seu partido escolheu para cabeça de lista à Câmara de Santarém? O candidato que o PS escolheu é uma pessoa que acho que Santarém precisa. É uma pessoa com provas dadas num território muito próximo de Santarém e as pessoas reconhecem o trabalho que tem feito. É uma pessoa de trabalho, que vem para fazer. E em boa hora o PS escolheu o Pedro Ribeiro para ser o nosso candidato.

As festas e a hospitalidade das gentes de Amiais de Baixo

Duarte Neto ainda vive as Festas em Honra do Mártir São Sebastião, em Amiais de Baixo, com a intensidade que vivia na juventude, mas já não com a mesma disponibilidade. Considera o evento como o ponto alto do calendário anual da terra, um momento único que se começa a viver desde tenra idade e que se vai consolidando geração após geração. O envolvimento da população é tão grande que há lista de espera para ser juiz da festa. Até 2049 esse cargo já está entregue e a organização da festa garantida. Duarte Neto nunca foi juiz mas foi tesoureiro durante dois anos e este ano é festeiro. As festas de 2025 decorrem de 21 a 25 de Fevereiro.
Durante quatro dias, muitas casas da vila estão de portas abertas e mesa posta para acolher visitantes, sejam ou não conhecidos. O que dá azo a episódios peculiares e caricatos. “Por vezes chego a casa e tenho lá mais de vinte pessoas, das quais conheço cinco ou seis”, conta o autarca, que partilha uma das histórias engraçadas que viveu nesses dias festivos.
Os filhos de Duarte Neto, quando estudavam fora, convidavam habitualmente colegas da universidade para as festas, dando-lhes hospedagem. O rés-do-chão da casa ficava aberto para os convidados e era transformado numa espécie de camarata. Num domingo, ficaram 17 jovens lá a dormir e um dos rapazes, acabado de acordar, perguntou a Duarte Neto de quem era a casa onde pernoitara, pois não conhecia nenhum dos companheiros de ‘pensão’. “O miúdo era de Coimbra, exagerou na bebida na noite anterior, perdeu o grupo com que estava, juntou-se ao grupo do meu filho e dos colegas e ficou em minha casa. Esteve lá de domingo até quarta-feira. Telefonei aos pais dele, que me agradeceram tanto que até hoje somos amigos”, conta o autarca, que realça a hospitalidade do povo de Amiais de Baixo.

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