Pedro Gameiro: a política foi sempre uma grande paixão

Com uma carreira na gestão empresarial e na área da banca de retalho, Pedro Gameiro, 45 anos, é a aposta do Partido Socialista para conquistar a presidência da Câmara de Benavente.
Considera que a localização do novo aeroporto no concelho de Benavente é a oportunidade do século para desenvolver o concelho e defende que o município tem de estar preparado para responder às novas realidades associadas à pressão urbanística e demográfica.
Natural de Samora Correia, Pedro Gameiro é formado em Gestão de Empresas, complementando a sua formação com um MBA em Ciências Empresariais, com foco em Liderança Organizacional. No mundo empresarial, destaca-se como director executivo e fundador da MDPT - Cooperativa Produtos Saúde CRL, onde lidera operações na área da distribuição farmacêutica e veterinária. Além disso, gere a Farmácia Tojal, em Santo Antão do Tojal, assegurando a conformidade fiscal e rentabilidade do negócio. Antes de se dedicar ao sector da saúde, acumulou experiência no sector bancário, tendo passado pelo Barclays, BPN e BPI, onde desempenhou diversas funções, entre outras, de gestão de crédito e análise de risco empresarial.
No campo político, Pedro Gameiro iniciou o seu trajecto na Juventude Socialista, entre 1998 e 2000, sendo membro da comissão política do PS de Benavente entre 2019 e 2022. Mais recentemente, tem desempenhado um papel activo no PS em Benavente, sendo deputado municipal desde 2021 e coordenador da 3.ª Comissão de Saúde, Habitação, Acção Social e Protecção Civil da Assembleia Municipal. Em 2022, assumiu a presidência da concelhia do PS de Benavente e, em 2024, foi eleito vice-presidente da Federação Distrital do PS de Santarém.
Para si o novo aeroporto é no Campo de Tiro em Benavente? Sim, para mim a melhor escolha era aquela. Independentemente da sua localização temos que perceber o custo para o Estado que, em expropriações, neste caso, é zero. Penso ser muito importante não existir o custo associado à expropriação, aliado a uma excelente localização. É o sítio ideal. Aliás, sempre defendi aquela localização, mesmo quando se colocaram em cima da mesa outras. Gosto muito de aviação e, no meu entender, a opção Benavente irá permitir, pela área disponível, ter um aeroporto diferente que sirva de hub para diversas companhias aéreas, seja para a América do Sul, África ou outros sítios. O aeroporto vai ser oportunidade do século para o concelho de Benavente.
As oportunidades também podem envolver riscos. Com o aeroporto, se Benavente não tiver uma liderança política forte pode descaracterizar-se. O futuro não foi preparado. Toda a população percebe que precisamos de tudo. No concelho de Benavente, sei de alguns casos de pessoas que vêm morar, compram casa, mas depois não têm vaga para colocar o filho numa creche. Um casal dizia-me, há dias, que não conseguia mudar-se para a casa que compraram porque não têm essa situação resolvida. Não nos podemos esquecer que, a título de exemplo, o Porto Alto é basicamente um dormitório e quem vive em dormitórios, muitas vezes, não tem famílias de suporte para ajudar.
O que pensa fazer o PS para superar esses problemas? Esta é uma grande preocupação do PS e fazer uma creche municipal é um dos principais projectos do partido. Neste momento, em Samora Correia, os números passam os 230 inscritos em lista de espera e, em Benavente, passam os 130 inscritos. Se o PS governar a Câmara de Benavente resolve o problema das creches.
Em quanto tempo? Tudo depende de como vai ficar o cenário pós-eleitoral. Espero que todos os partidos sejam sensíveis a isto. Se um partido não tiver maioria absoluta para governar, vai depender dos outros para aprovar. Este é um investimento que tem que gerar consensos e é uma preocupação que julgo ser transversal a todos os partidos.
Sentiu alguma pressão, tendo em conta que é um agente político, relacionada com os grandes interesses que se estão a movimentar à volta dos terrenos do futuro aeroporto? Não, não senti pressão nenhuma. Falei com várias pessoas sobre o aeroporto e a sensação é que a maioria das pessoas ainda não acredita que o aeroporto vai começar a ser construído. Podemos concluir que é um candidato à liderança de uma autarquia que vai ter um aeroporto, mas isso para si não é prioritário na forma como vai elaborar o seu programa? Não, porque o concelho de Benavente tem muitas necessidades independentemente de o aeroporto se concretizar. O concelho, a nível de infraestruturas, está completamente esgotado. Olhemos para os Foros de Almada, a Coutada Velha ou os Foros da Charneca; são sítios, e vou dar o exemplo dos Foros da Charneca, em que falta saneamento básico, numa responsabilidade que é da Águas do Ribatejo, mas também não vejo pressão da câmara municipal para o tentar resolver. Faltam passeios nos Foros da Charneca. A população pede umas simples lombas elevadas e também não há. A limpeza urbana é feita de forma muito deficiente e, portanto, um concelho que precisa disto é um concelho que, independentemente de haver ou não haver aeroporto, tem de resolver estas necessidades.
A sua candidatura é para ganhar num concelho onde a CDU arrasa sempre? O PS concorre sempre para ganhar em qualquer concelho, não tenho a mínima dúvida disso. Vamos concorrer para ganhar. Tivemos muito, mas mesmo muito cuidado a fazer as listas dos vereadores. Quisemos abranger pessoas de todos os sectores da sociedade, inclusive o número dois, José Pastoria, é natural de Benavente, é uma pessoa muito querida que gosta muito de Benavente e é funcionário da autarquia. O Partido Socialista quer apresentar à população um projecto diferenciador. Tem que ser um projecto ganhador porque, independentemente dos 45 anos da gestão comunista, e é evidente que muitas coisas foram feitas e quem lá está tem sempre a melhor intenção, o concelho precisa de muita coisa. O que faltou em Benavente, e que não faltou em Almeirim, foi um estudo do futuro a dez anos. Nós temos que perceber o que queremos daqui a uma década.
A rivalidade entre Benavente e Samora Correia não faz de si um candidato com um braço lá e uma perna cá? Não, penso que não. Sou muito isento nessa questão. É verdade que sinto que ainda existe essa rivalidade, mas cada vez menos. Gosto das duas localidades. Estudei em Benavente, tenho muitos amigos em Benavente, com quem estudei, e gosto muito de Samora Correia, que foi a terra que me acolheu. .

Aeroporto em Benavente é oportunidade do século no concelho
Qual é a vantagem em ser Pedro Gameiro o candidato? Nunca escondi que a política foi sempre uma grande paixão, é uma coisa de família, cresci na política e cabe às pessoas que gostam de política servir a causa pública. Benavente precisa de praticamente tudo e o que existe está esgotado. É isto que me move entrar na lista do PS. Se ganharmos as eleições, tenho todas as condições profissionais para assumir o lugar de corpo inteiro, sem problema nenhum.
Está na corrida para a câmara com os pés assentes no chão e sem qualquer pressão do partido? Foi uma opção para esta altura da minha vida e foi uma decisão da comissão política concelhia que não teve interferência de ninguém. Foi decidido internamente.
Sente que vai trabalhar à porta de casa? Candidato-me para trabalhar apenas para o nosso concelho. A política é importante, gosto dela, mas quando assumimos um compromisso numa câmara municipal é para trabalhar a tempo inteiro.
Vai fazer campanha porta-a-porta? Vamos fazer campanha porta-a-porta. Penso que é importante não só para as pessoas nos conhecerem melhor, mas também para lhes explicarmos os projectos relevantes. Temos de elucidar as pessoas onde e no que vamos aplicar o dinheiro.
Em termos de jovens, na sua lista existe preocupação em renovar o partido? Em comparação com 2021, o partido tem muito mais facilidade em captar jovens. Reconheço que o momento é de mudança de ciclo e, por isso, é normal que assim seja. Algumas listas de freguesias já estão a ser feitas e há uma grande adesão jovem, o que me deixou muito agradado. O PS vai apresentar-se com uma grande renovação interna. A experiência também é muito importante, mas é preciso dar um ar de renovação, porque o concelho também precisa de ser dinâmico e de ter outra dinâmica.
Como é que vê a posição geográfica do concelho em termos da sua ligação à sua área de influência. Um concelho da região de Lisboa ou do distrito de Santarém? O concelho, para todos os efeitos, é do distrito de Santarém. Estamos praticamente encostados à Área Metropolitana de Lisboa, o que permite uma série de vantagens para as pessoas e para as empresas. Uma empresa que esteja sediada no Porto Alto pode enviar uma encomenda que chega no mesmo dia a Lisboa, mas se passarmos de Benavente para o concelho de Salvaterra de Magos, ou outros concelhos, como Coruche, essa mesma encomenda só chega no dia seguinte. Trata-se de um pormenor que tem influência na gestão empresarial do concelho de Benavente, porque tem uma capacidade de crescimento fora do normal.
Mas a aposta não é também valorizar a região? A cada dia que passa o centralismo é maior. Considero-me muito inclusivo e, independentemente da nossa proximidade, sou ribatejano e a favor de uma maior gestão por parte das autarquias. As câmaras municipais têm outro tipo de responsabilidades que não tinham há 20 anos, como a educação e a saúde. Repare-se no caso de Benavente, em que as pessoas vão esperar por uma consulta às 04h00 e às 05h00. Estamos muito perto do centralismo, mas isto não pode acontecer. Não faz sentido. Tem de haver habitação, renda acessível, creches municipais e saúde para todos, senão jamais vamos conseguir crescer.
Mas a questão da saúde, sendo uma questão nacional, não a pode resolver. Reconheço que não há médicos de família e temos de imputar as culpas aos diversos governos. Somos eleitos pelos munícipes para resolver os seus problemas. Se tem custos? Com certeza que sim, mas é bem empregue em prol de todos. Faz-me muita confusão ver pessoas mais idosas e desprotegidas, e mesmo quem precisa, à espera para marcar um exame ou uma consulta. Isto não pode acontecer.
Tenciona promover, por exemplo, a abertura de uma unidade de saúde privada? O que o PS pretende fazer de imediato é valorizar a carreira médica no Centro de Saúde de Benavente. Actualmente, Samora Correia dispõe de um centro de saúde de classe B, o que significa que os médicos, enfermeiros e assistentes beneficiam de um nível remuneratório muito superior ao de um centro de saúde de classe A, como é o caso do de Benavente. Isso leva a que os profissionais de saúde prefiram deslocar-se para unidades de classe B, deixando os centros de classe A em desvantagem. O que é necessário fazer nesta fase? A câmara municipal deve assumir o pagamento do diferencial salarial aos médicos, de forma a fixá-los em Benavente e, paralelamente, avançar com um projecto que permita a elevação da unidade à categoria B. Foi exactamente o que o município de Salvaterra de Magos fez recentemente.
Relativamente à habitação, a câmara tem a obrigação de garantir soluções? Há algum projecto diferenciador? A câmara municipal candidatou-se, através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), a fundos para concretizar projectos de habitação social, incluindo requalificações e construção de novos fogos. O PS pretende seguir um caminho diferente, apostando na habitação de renda acessível. É fundamental criar condições para que os jovens e as famílias possam fixar-se no concelho, sobretudo num contexto em que a oferta habitacional é escassa e as rendas atingem valores elevadíssimos, chegando, em alguns casos, aos 1.000€ ou 1.500€, tanto em Samora Correia como em Benavente. Assim, em vez de centrar a estratégia apenas na habitação social, consideramos essencial investir em soluções de renda acessível.
A Recta do Cabo não é um problema grave para quem ali vive? A Recta do Cabo tem sido um problema há muitos anos. Continuam a ocorrer acidentes, mas a situação melhorou desde a instalação do radar de controlo de velocidade média. No entanto, os problemas de trânsito no concelho de Benavente vão muito além desta via e são bastante mais complexos. O congestionamento dentro da vila de Benavente é uma questão que não foi devidamente acautelada. Actualmente, quem se desloca de Salvaterra de Magos, Foros de Salvaterra ou até de Almeirim para trabalhar em Samora Correia pode demorar entre 50 minutos e uma hora devido ao tráfego intenso nas horas de ponta. De manhã e ao final do dia, tanto Benavente como Samora Correia ficam praticamente paradas. A solução, sabendo que levará tempo, passa pela construção de uma variante a Benavente, permitindo uma saída directa junto ao nó da autoestrada.
O rio Sorraia é um dos patrimónios da região. Tem planos para ele? O rio Sorraia precisa de uma intervenção urgente. O problema dos jacintos não tem sido resolvido e o Sorraia, neste momento, não está aproveitado. A intervenção não pode ser apenas focada na limpeza, mas tem de começar por aí, porque pode ser um motor económico da região. Vamos ao Alentejo e hoje temos praias fluviais completamente lotadas e com estruturas de apoio fantásticas, o que permitiu àquela região ter pessoas que há 20 ou 30 anos não tinha. Porque não projectar uma praia fluvial no Sorraia? Estamos a pensar nisso.
Numa escala de um a dez, o apoio directo à dinamização das associações está em que posição? Penso que associações caem, por vezes, num vazio, porque tem de haver mais interligação com a autarquia. Porém, a autarquia não tem que se meter na vida das associações, mas deve ter a obrigação de promover as suas iniciativas. Se as pessoas tiverem formação a nível de gestão, se houver uma Feira do Associativismo, se puderem trocar impressões entre colectividades, provavelmente não têm problemas na sucessão dos seus órgãos sociais.
É apologista de uma política municipal de bombeiros com farda da autarquia ou vai fomentar o voluntariado? Os bombeiros de Benavente e de Samora Correia são extremamente profissionais. As coisas como estão, estão bem. Podemos olhar para os exemplos que temos ao nosso lado, como Coruche, Cartaxo e Alpiarça, onde um corpo de bombeiros pode custar 1,5 milhões de euros à autarquia. Na verdade, o município de Benavente hoje gasta 450 mil euros com os dois corpos de bombeiros. Faz falta um plano de reequipamento para as duas corporações, independentemente da câmara municipal ter aumentado a verba este ano. Se o PS ganhar vamos continuar a apoiar como até aqui.
Regulamentos para os dois e tudo para os dois de forma igual tendo em conta que são apoiados pela mesma autarquia? O executivo CDU pecou por tardio… Há cerca de três anos que se fala em elaborar o regulamento de financiamento e de regulamentos de apoios sociais. Esta confusão toda podia ter sido evitada, e porquê? Porque o presidente de câmara não decidiu. Meteu o regulamento na gaveta durante três anos. É evidente que começou a instalar-se um mal-estar e quando se decide à pressa, regra geral, pode-se não decidir bem ou alguma das partes sentir-se lesada, e é isso que o PS não quer.
Filho de peixe que segue as pisadas do pai
José Manuel Gameiro dos Santos, antigo presidente da direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros e presidente da Câmara de Salvaterra de Magos entre 1994 e 1997, é pai de José Gameiro, que agora concorre à presidência do município vizinho de Benavente. A política sempre fez parte do ambiente familiar, mas, ao contrário do que acontece em muitos casos, em que os filhos de políticos odeiam a vida dos pais por ser demasiado absorvente, Pedro Gameiro decidiu seguir um caminho semelhante ao do pai, embora com um percurso diferente.
A sua ligação à política começou há muitos anos, com uma participação discreta na Juventude Socialista, mas só em 2021 assumiu um cargo público, como deputado municipal, aos 41 anos. Entrou na política numa fase mais madura da sua vida, com uma carreira profissional já consolidada e uma visão diferente sobre o papel autárquico. O campo profissional está estabilizado, o que lhe permite encarar as coisas de outra maneira.
Ao contrário do pai, que se envolveu na política desde cedo, com responsabilidades de âmbito nacional (foi deputado socialista na V e VI Legislaturas), e acumulou funções como administrador de empresas e professor universitário, Pedro Gameiro considera que o seu trajecto lhe permite um maior equilíbrio entre a vida política e a vida pessoal.
A experiência do pai, que raramente estava em casa, serviu de referência e também de alerta para os desafios do cargo. Apesar dos avisos sobre a exigência da função, Pedro Gameiro partilha da opinião do pai de que ser presidente de câmara é das experiências mais gratificantes na política local. Reconhece que exige muito trabalho, mas destaca o privilégio de poder contribuir para o desenvolvimento do concelho e ver crescer os resultados desse esforço.
Adepto das leituras e de andar de mota
Pedro Gameiro assume que gosta de ler assuntos técnicos e relacionados com a sua actividade. Acelerar e passear em duas rodas é um dos passatempos que lhe dá prazer. Confessa-se uma pessoa paciente e dificilmente alguma coisa o tira do sério. Adora a lezíria e é um apaixonado pela charneca e pelo rio. Ainda no plano pessoal, conta com o apoio incondicional da mulher, que sempre esteve a seu lado nos desafios políticos. O casal tem dois filhos e reside em Samora Correia.