Entrevista | 27-04-2025 18:00

O mal do futebol jovem está nos pais que caem no ridículo de ofender miúdos e jovens árbitros

O mal do futebol jovem está nos pais que caem no ridículo de ofender miúdos e jovens árbitros
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
Joaquim Martinho é presidente da Associação de Futebol de Santarém e quer implementar duas novidades: um encontro de futebol adaptado e fomentar os jogos de futebol online

Cumpriu o serviço militar na Marinha e, em Março passado, pegou no leme da Associação de Futebol de Santarém. Joaquim Martinho já tinha currículo como dirigente associativo em Riachos e na entidade que agora lidera. Gosta de trabalhar em equipa, convive bem com opiniões contrárias e repudia o comportamento de alguns pais nos jogos dos escalões jovens.

O que vai mudar na Associação de Futebol de Santarém (AFS) consigo como presidente? No imediato não vai mudar nada. A AFS estava a fazer um bom trabalho e vai continuar a fazer um bom trabalho. Vai ser um trabalho, basicamente, de continuidade. Obviamente, vamos dar algum cunho novo e temos duas medidas em perspectiva, para além do que já se fazia.
Que novidades são essas? Em princípio quero ver se no início da próxima época conseguimos fazer um encontro de futebol adaptado, em articulação com os municípios e centros de recuperação. Também temos uma função social e, dentro dessa perspectiva, faz todo o sentido começarmos a organizar encontros, envolvendo diversos parceiros. Outro objectivo é fomentar jogos de futebol online. A federação já tem e está a lançar o desafio às associações. Faz sentido estar nesta vaga inicial e depois logo se vê qual a adesão.
É um homem de decisões firmes e solitárias ou prefere trabalhar em equipa? Prefiro trabalhar em equipa. Posso dar uma sugestão, mas se as pessoas não concordarem não avanço. E todos são livres de dar opiniões contrárias. Porque da discussão, muitas vezes, nasce a solução. É óbvio que quando aqui decidimos alguma coisa, a tese que ganha é a tese de todos. Gosto muito de repartir responsabilidades. Todos os membros efectivos e suplentes da direcção têm pelouros.
A Academia de Futebol a construir em Santarém numa parceria com o município é o projecto mais relevante do mandato? É um projecto da AFS e esperamos que agora arranque. A Academia de Futebol teve um pai, que foi o Francisco Jerónimo. Não podemos querer os louros para nós. O Jerónimo sonhou, pensou e as coisas são 99,9% dele. A outra décima é da direcção que disse sempre que acreditou no projecto e disse que sim a tudo. Não tenho dúvidas que há-de ser a pessoa com mais visibilidade quando for inaugurada a academia.
O futebol distrital é praticamente irrelevante no contexto nacional. Não há um clube nas provas organizadas pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional e tem apenas duas equipas nos nacionais: a União de Santarém e o CD Fátima. O que é que a AFS pode fazer em relação a isso? A AFS não pode fazer muito. O tecido empresarial contava muito para os clubes que queriam chegar a patamares mais elevados. Acho que temos condições para ter um clube na 2ª Liga, no mínimo, e outros na Liga 3. O Fátima vai lutar pela subida à Liga 3 e pode almejar subir até à 2ª Liga, onde já esteve. Esperamos que o próximo campeão distrital também se consolide nos campeonatos nacionais e que a União de Santarém, na próxima época, consiga subir à 2ª Liga.

As SAD provocam o afastamento do atleta local

As sociedades anónimas desportivas (SAD) que têm sido criadas em diversos clubes da região nem sempre têm dado os resultados que se ambicionavam. Excepto em Santarém. Acho que as SAD num contexto de futebol distrital não se justificam. Se as pessoas não sentirem que o clube é delas, e que pertence a outros, deixam de se interessar. E depois as SAD provocam, normalmente, o afastamento do atleta local.
Qual a solução para convencer as empresas a investir nos clubes? Não há toque de Midas para isso, mas poderia haver alguns benefícios fiscais.
A AFS tem encontrado abertura do tecido económico para patrocínios de provas ou tem sido difícil? Sim. Já temos, por exemplo, uma colaboração no naming para a final da Taça do Ribatejo, que é o Crédito Agrícola. Espero, para a época que vem, ter um naming para a Taça do Ribatejo e para a 1ª divisão distrital.
Se não fossem os municípios, muitos clubes não teriam meios nem instalações para competir. Como vê essa realidade? Não há uma espécie de municipalização do meio associativo? Acho que não. Os municípios também têm essa obrigação de promover o desporto e o bem-estar das famílias nos locais onde vivem. Todas as cidades têm um estádio municipal e isso ajuda muito os clubes.
Mas também cria uma discriminação negativa relativamente a clubes que investiram nas suas próprias instalações. Como por exemplo o Riachense, de que o senhor foi presidente. Sim e nessa altura pagávamos a água, a luz, a manutenção, tudo… Agora a câmara colabora e acho bem. Não fazia sentido isso não acontecer.
Presumo que costuma assistir também a jogos de futebol dos escalões jovens. O que acha do comportamento arruaceiro e insultuoso de alguns adultos, nomeadamente pais e mães de atletas, durante os desafios? O mal do futebol jovem não está nos atletas, está nos pais que muitas vezes inadvertidamente – eles não o fazem por mal – caem no ridículo de estar a ofender miúdos, a ofender jovens árbitros, quando nada o justifica. No futebol há três resultados possíveis e há que saber perder e saber ganhar. Normalmente, já se sabe que quando um clube perdeu a culpa foi do árbitro, mas ninguém se lembra do guarda-redes que deu um ‘frango’ ou do avançado que falhou um golo de baliza aberta. É mais fácil culpar os outros. Um elemento da nossa direcção tem um livro que todos os pais deviam ler, com entrevistas a jovens atletas de todos os clubes do distrito. É bom ver que os próprios miúdos sentem-se envergonhados pelas atitudes dos pais.
Tem sido fácil recrutar árbitros, dada essa realidade? Tive recentemente a notícia por parte do Conselho de Arbitragem de que 22 ou 23 jovens árbitros já fazem parte dos quadros. Agora, é mau ver um miúdo ser enxovalhado ou ofendido. Já presenciei algumas cenas dessas. É reprovável.
Que marca gostava de deixar no comando da AFS? Gostava que corresse bem este mandato, que houvesse mais pacificação no futebol, principalmente isso. Muitas vezes os clubes dividem-se, em vez de lutarem por uma solução que sirva a todos.

Joaquim Martinho: o novo timoneiro da Associação de Futebol de Santarém

Aposentado desde 24 de Janeiro deste ano de uma profissão de quarenta anos como funcionário da Caixa Agrícola do Ribatejo Norte, Joaquim Martinho decidiu dedicar à Associação de Futebol de Santarém (AFS) parte do tempo livre que entretanto ganhou. Quando o anterior presidente, Francisco Jerónimo, anunciou que não se recandidatava, o homem natural de Riachos chegou-se à frente e formou uma lista de continuidade, com muitos dirigentes que transitaram do anterior mandato. “Quem quis continuar, continuou”, diz.
Joaquim Martinho tomou posse no dia 7 de Março como 31º presidente da AFS, após acto eleitoral pacífico, em que não teve oposição. Nascido a 9 de Janeiro de 1961 em Riachos, concelho de Torres Novas, o dirigente associativo é casado, tem dois filhos e três netos, com o quarto a caminho.
A ligação de Joaquim Martinho aos órgãos sociais da AFS já tem quase duas décadas. Foi um anterior presidente, Rui Manhoso, hoje dirigente da Federação Portuguesa de Futebol, quem o desafiou a integrar a sua direcção em 2004, como vogal. Depois veio Francisco Jerónimo e o convite repetiu-se, primeiro para vogal e depois para vice-presidente desportivo, funções em que esteve dois mandatos de quatro anos.
A experiência de dirigente no associativismo já vinha de trás, pois foi presidente da direcção do Clube Atlético Riachense no início deste século, quando o emblema militava na 3ª divisão nacional, e também liderou o Clube de Caçadores de Riachos, de 1995 a 2000. Foi caçador durante muitos anos mas teve de deixar a actividade venatória por razões de saúde na coluna. Jogou também futebol nas camadas jovens, tendo participado, com a camisola do Riachense, no primeiro campeonato distrital de iniciados, em que competiram apenas três clubes: o emblema de Riachos, o Tramagal e o Sporting de Abrantes. “Por acaso conseguimos ficar em terceiro”, diz com humor.
Deixou os campos de futebol quando chegou ao escalão sénior. Antes de cumprir dois anos de serviço militar obrigatório na Marinha de Guerra – “uma escola de vida” -, trabalhou numa fábrica, num gabinete de contabilidade e foi vendedor de material de escritório, após ter feito o 5º ano na Escola Comercial de Torres Novas. Na Armada, depois da recruta, em Vila Franca de Xira, esteve como escriturário no Ministério da Marinha, em Lisboa, durante 18 meses. Diz, em tom de brincadeira, que tem 20 minutos de embarque, numa vedeta, entre Lisboa e a base do Alfeite, na margem sul do Tejo.
Joaquim Martinho vai habitualmente dois dias por semana à sede da AFS, em Santarém, tratar do expediente e dedica também parte do seu tempo livre à horta e animais de criação que tem na sua propriedade em Riachos. Apresenta-se como uma pessoa que não gosta de faltar aos compromissos e que gosta de trabalhar em equipa numa associação que atingiu o número recorde de 10.200 atletas inscritos, cerca de 500 a mais do que na época anterior, com o futebol feminino a ajudar muito nesse crescimento.

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