Entrevista | 27-05-2025 10:38

José Martins quer fazer história em Mação e conquistar o município para o PS

José Martins quer fazer história em Mação e conquistar o município para o PS
José Martins é o candidato do Partido Socialista à presidência da Câmara de Mação

É dirigente associativo, já foi presidente da Junta de Freguesia de Aboboreira e vereador da Câmara de Mação, antes de assumir a presidência da União de Freguesias de Mação, Aboboreira e Penhascoso, cargo que desempenha desde 2013. Vinte anos depois, José Martins volta a concorrer à presidência da Câmara de Mação, convencido de que é desta que acaba o reinado do PSD de quase meio século. Em 1997 foi o primeiro socialista a ser eleito presidente de junta no concelho.

José Fernando Martins, 58 anos, quer entrar para a história do concelho de Mação como o homem que conquistou a câmara municipal ao PSD, partido que gere a autarquia com maioria absoluta desde as primeiras eleições autárquicas, há quase meio século. Em 1997, foi o primeiro a conquistar uma junta de freguesia para os socialistas, a de Aboboreira, num concelho desde sempre ‘laranja’, e depois fez história também como o primeiro presidente da União de Freguesias de Mação, Aboboreira e Penhascoso, quando se deu a fusão de freguesias, em 2013, medida contra a qual lutou empenhadamente.
Impedido de se recandidatar a presidente da junta devido à lei de limitação de mandatos, este militante socialista desde 1993 aponta agora baterias para a cadeira mais alta da hierarquia autárquica. E para chegar lá conta com a popularidade que granjeia entre a comunidade e com a imagem de homem de acção.
Para além da política e da profissão, Zé Trinta - alcunha por que é conhecido e que tem origem no número dado ao pai na inspecção militar – teve sempre uma forte ligação ao meio associativo do concelho e considera-se uma pessoa pró-activa e empenhada em tudo o que se mete. Esteve ligado aos escuteiros, foi fundador da associação de Aboboreira e mais tarde da instituição que gere o Centro de Dia da Aboboreira, de que é presidente há trinta anos - “porque não abundam pessoas para me substituir e as pessoas entendem que sou fundamental lá”. Com a limitação de mandatos também nas IPSS, cumpre o último mandato nesse cargo. É também professor voluntário na Universidade Sénior de Mação.
Homem pragmático e avesso a burocracias desnecessárias, diz que toma as decisões sozinho e depois partilha-as na busca de contributos para melhoria. Não ouviu ninguém antes de decidir propor-se como cabeça de lista do PS à Câmara de Mação e, sendo um bom conversador, gosta de discursar de improviso, pois dá-se mal com discursos escritos. Nega que seja um decisor adepto do “quero, posso e mando”, mas admite que por vezes é preciso um bocadinho de autoritarismo para as coisas mexerem e andarem para a frente.

É presidente de junta desde 1997, primeiro em Aboboreira e desde 2013 na União de Freguesias de Mação, Aboboreira e Penhascoso, e é presidente do Centro de Dia de Aboboreira há 30 anos. Qual é mais difícil de gerir, a autarquia ou a instituição social? São desafios muito interessantes mas diferentes. Enquanto uma IPSS, no caso da nossa dedicada à terceira idade, cuida mais de uma faixa etária e tem uma área de actuação mais reduzida, uma junta de freguesia abrange uma panóplia de situações, desde o nascimento até à velhice. As áreas de influência e de actuação são muito maiores.
Imagino que seja uma pessoa muito solicitada quando anda na rua. É verdade. Quando andava na escola primária, aos nove anos, a minha professora era esposa do primeiro presidente da Câmara de Mação após o 25 de Abril, o engenheiro Pires, ainda numa comissão administrativa. Essa professora foi quem me incutiu este bichinho e me influenciou. Sempre fui muito dado ao movimento associativo, à liderança.
Gosta mais de liderar do que de ser liderado? Não tenho problemas em ser liderado, mas sempre fui muito líder. Na escola primária organizava as equipas de futebol no recreio, aos 13 anos tinha uma equipa de atletismo da Aboboreira que já corria o país todo a participar nas diversas provas, com transporte cedido pela câmara. No ciclo e no secundário era sempre o chefe de turma. A seguir fui para o movimento associativo, estive ligado ao antigo FAOJ, depois Instituto da Juventude, e aprendi algumas coisas sobre liderança do movimento associativo, que sempre me esteve nas veias. Faço também parte dos órgãos sociais da Anafre – Associação Nacional de Freguesias, onde participo activamente.
Quando se mete numa coisa é para estar a 100 por cento? Costumo dizer que só vêem o meu nome em algo se for para ser eu mesmo. Se for para estar apenas de corpo presente ou para fazer um favor, digo não.
Acha que essa popularidade toda vai ser suficiente para, desta vez, ganhar a Câmara de Mação? Acho!
De onde vem essa convicção? Tem sondagens que a sustentem? A sondagem é mesmo a rua. Em 1997 fui o primeiro jovem a ganhar uma junta de freguesia para o Partido Socialista no concelho de Mação. Até aí era tudo PSD. E a partir daí a Junta de Aboboreira nunca mais mudou de cor. No meu dia a dia dou um bocadinho, ou um bocadão, de mim aos outros, até porque tenho uma vida familiar mais ou menos facilitada que me permite ficar na junta até às 10 ou 11 da noite. Nestes concelhos pequenos as pessoas contam mais do que os partidos.
Mas num concelho como Mação, onde o PSD sempre dominou, ainda deve haver muita gente que põe a cruz, por hábito enraizado, no símbolo das ‘setinhas’. Por essa lógica eu nunca teria arrancado três maiorias absolutas para a união de freguesias. E nos dois últimos mandatos para a câmara o PS conseguiu meter apenas um vereador, quando antes metia dois.
É o senhor que faz a diferença? A diferença está nas pessoas.
Os candidatos do PS à câmara eram fracos? Acho que a diferença está muito nas pessoas. E se calhar também por causa disso é que o PSD teve uma liderança mais reforçada na câmara.
Já pensou na primeira medida a tomar caso seja eleito presidente da Câmara de Mação? Estamos numa fase de elaboração do programa. Obviamente que já tenho na minha cabeça as primeiras medidas que têm que ser tomadas. Uma necessidade urgente é uma coisa simples: temos três estabelecimentos de ensino em Mação e nenhum está apetrechado, junto à entrada, para receber os alunos de forma condigna. Os pais e as crianças e jovens têm que andar à chuva e ao vento porque não há um cais de entrega das crianças com uma cobertura, um telheiro. Temos que começar por dar condições àqueles que cá estão, que aguentaram isto.
E também é preciso atrair população, num concelho com acentuada perda demográfica. É preciso atrair população, sem dúvida, e para isso há que dar condições. O que apontei é apenas um exemplo do que, com pouco dinheiro, pode melhorar a vida das pessoas.
Como é a sua relação com a Câmara de Mação? Há diálogo, trabalham em parceria? É uma relação institucional. Não há contratos interadministrativos, não houve transferência de competências nenhumas, embora tivéssemos essa disponibilidade e demonstrado interesse nisso. Cada um trabalha para seu lado. Obviamente que há uma situação ou outra em que se consegue um consenso em termos de apoio, mas acho que nestes meios pequenos os municípios são muito egoístas. Querem dominar tudo. E ainda não perceberam que cada presidente de junta deve ser visto como mais um vereador. É isso que quero fazer se for eleito presidente de câmara. Se queremos proximidade e ter um concelho agregador temos que valorizar o papel do presidente de junta. Uma das medidas que pretendo implementar é a criação de um gabinete de apoio que trabalhe com as juntas de freguesias e as nossas associações.
Como era a sua relação com o presidente da Câmara de Mação, Vasco Estrela (PSD), que deixou há uns meses o cargo? Sempre foi uma relação cordial, institucional. Ainda chegámos a andar na escola juntos, apesar de eu ser mais velho cinco anos.
Acha que não ter Vasco Estrela como adversário facilita-lhe a vida? A vida é assim, pois existe a limitação de mandatos. Tal como eu tive na união de freguesias, em que o PSD pode ter a vida facilitada ou não, o mesmo pode acontecer para a câmara. Isso é sempre uma incógnita.
Já foi candidato à Câmara de Mação em 2005, contra Saldanha Rocha, e repete 20 anos depois. Se tiver novo revés vai repensar a sua continuidade na política activa? Em 2005 eu sabia ao que ia. Fui em substituição de um candidato que era para ser e não pôde. Da mesma forma que em 2025 sei ao que vou. Agora, são questões completamente diferentes. Já passaram mais de 20 anos, 12 deles como presidente de uma união de freguesias que vale cerca de 60 por cento dos eleitores do concelho. Sempre disse que o poder não se ganha, o poder perde-se quando não há capacidade para o continuar a ganhar.
Mas esses 12 anos como presidente de junta também podem causar algum desgaste junto do eleitorado. Tem isso em conta? Obviamente. Mas se o PS perder estas eleições, e não são esses os dados que tenho, não perde nada. Porque não tem nada. Quem tem a perder é o PSD.
Se correr mal, vai aceitar o lugar de vereador da oposição? Se correr mal, havemos de avaliar as coisas e de cabeça levantada vamos em frente. Depois decidiremos o que fazer.
Ser socialista estes anos todos em Mação, concelho dominado pelo PSD, não deve ter sido fácil? Para mim não foi difícil, porque sempre me consegui afirmar pelo respeito. Depois, existe outra questão muito importante, que é a das dependências. Nunca estive dependente da política em Mação para poder trabalhar. Sou uma pessoa que se afirma por aquilo que é, pelo respeito e nunca senti grandes dificuldades, embora tenha sentido alguns atritos numa ou outra ocasião.

Além de autarca, José Martins é dirigente associativo

O primeiro socialista a ganhar uma junta no concelho de Mação

Nascido em Mação no dia 8 Setembro 1966, divorciado e sem filhos, José Fernando Martins vive na aldeia de Aboboreira, onde foi presidente de junta de 1997 a 2013. Licenciado em Organização e Gestão de Empresa, José Martins está na fase final do mestrado em Gestão Autárquica, na Escola Superior de Gestão de Barcelos. Assume que a formação superior tem-lhe dado muita estaleca para a actividade autárquica. Está a elaborar a tese de mestrado, que já devia ter entregado, mas o tempo não chega para tudo.
Foi bancário durante 23 anos, estando actualmente em situação de pré-reforma. Antes disso fez muita coisa e depois disso também. Começou por ser animador cultural e trabalhou para o Instituto da Juventude. Depois esteve ligado à Fundação para as Tecnologias de Informação e deu formação na área das tecnologias a muitos jovens de Mação. Ainda trabalhou dois ou três meses na Câmara de Mação como técnico de informática, mas respondeu a um concurso para a Caixa Geral de Depósitos e acabou por ingressar nessa instituição bancária. Primeiro em Lisboa mas, passados três meses, quando surgiu a oportunidade de regressar a Mação não hesitou. “Sempre tive coisas importantes para fazer aqui”, diz. Como bancário esteve também em balcões da CGD em Tomar e Torres Novas.

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