Entrevista | 23-05-2025 18:00

Anabela Lopes é a nova presidente dos Bombeiros de Benavente

Anabela Lopes é a nova presidente dos Bombeiros de Benavente
Oficial de registos com paixão pelos casamentos e alma de voluntária, Anabela Lopes lidera agora os destinos dos Bombeiros de Benavente

Anabela Gomes Lopes, 59 anos, assumiu recentemente a presidência da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Benavente. A chegada à liderança surgiu de forma surpreendente, depois de um período de fragilidade pessoal, mas depressa assumiu o desafio como uma missão.

A nova presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Benavente, Anabela Lopes, assumiu funções há cerca de três semanas e garante que o seu mandato será pautado pela continuidade do trabalho desenvolvido pelas anteriores direcções, destacando a saúde financeira da instituição e a importância de reforçar o envolvimento com a comunidade.
Apesar de ainda se encontrar em fase de adaptação ao funcionamento interno da instituição, a responsável diz conhecer bem a associação, tendo integrado a assembleia-geral durante cerca de uma década. “Encontro uma casa muito bem organizada, do ponto de vista financeiro está saudável”, afirma, acrescentando que o objectivo principal passa por continuar “um trabalho muito bem feito pelas últimas três direcções”.
Sobre a gestão dos recursos humanos, Anabela Lopes destaca a necessidade de valorizar os operacionais enquanto pessoas. “Por trás de cada recurso humano está uma pessoa. Essa pessoa tem família, precisa de um rendimento justo, mas também de motivação. O serviço dos bombeiros é muito duro, física e psicologicamente”, alerta.
Questionada sobre as tensões internas que marcaram momentos recentes na associação e no contexto das corporações do concelho, Anabela Lopes defende uma actuação baseada na igualdade com equidade. “Cada associação deve negociar com base num diálogo que acrescente valor, nunca que o retire. É preciso reconhecer as diferenças e trabalhar com justiça”, sublinha.
Sobre a histórica rivalidade entre Benavente e Samora Correia, a dirigente rejeita qualquer espírito de confronto. “Não vejo a associação humanitária de Samora Correia como uma rival. Quero dialogar com eles e eles connosco. Estou bem com a presidente dos Bombeiros de Samora, Irina Batista, e com a Câmara de Benavente. Não sei o que é sentir rivalidades neste concelho. Ouço falar, mas não as consigo sentir”, garante.
Anabela Lopes recorda o seu percurso de vida para justificar o compromisso com o voluntariado. Confessa que o envolvimento na direcção surgiu de forma surpreendente, depois de um momento pessoal mais frágil, mas acabou por sentir um chamamento para garantir a estabilidade da associação. “Primeiro dizia que estava mais disposta a ir fazer croché e ver Netflix, mas depois percebi que tinha uma missão”, conta.
Após a saída do anterior presidente, cuja decisão afirma compreender, e a redução dos órgãos sociais a apenas quatro elementos, Anabela Lopes ajudou a reestruturar a equipa. “Havia ordenados para pagar, compromissos a cumprir. Comecei por me candidatar a vice-presidente, mas os colegas insistiram para que fosse eu a liderar. Sou uma líder discreta, de retaguarda, mas aceitei o desafio com o apoio da equipa”, diz.

“Temos de ser mais abertos ao diálogo e chamar a população até nós”
A responsável admite que há ainda muito por fazer, nomeadamente no reforço da ligação à comunidade. “Temos de ser mais activos, mais abertos ao diálogo. Queremos chamar a população até nós, usar as redes sociais, promover eventos, como já fizemos com coleccionismo ou a sardinha assada”, enumera.
A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Benavente celebra este ano 140 anos de existência, quase o número de sócios (139) que votou nas últimas eleições, um dado que a actual presidente interpreta como simbólico. Anabela Lopes quer reforçar o apoio empresarial à corporação. “Temos um tecido empresarial com alguma expressão e poucas empresas ligadas a nós. Há um terreno próspero para explorar”, afirma, com a convicção de que é possível trazer mais sócios e parceiros à causa dos bombeiros.
A corporação movimenta mensalmente cerca de 80 mil euros em despesas, valor que obriga a uma gestão minuciosa dos recursos: “Estamos sistematicamente a tentar reduzir despesas, a negociar ou renegociar contratos, desde a luz às telecomunicações. Somos como formiguinhas”, descreve. As receitas da associação provêm de subsídios da câmara municipal, da ANEPC, do INEM e de vários serviços prestados. Mas é nas despesas extraordinárias, como a substituição de veículos ou a manutenção do equipamento de segurança, que surgem os maiores desafios. Ainda assim, Anabela Lopes reconhece o apoio constante da autarquia. Neste momento, a associação tem em curso a remodelação do pavilhão, danificado por intempéries, uma obra em que a autarquia surge como parceira.

Modelo tradicional de voluntariado está em transformação
Sobre o voluntariado, a presidente admite que o modelo tradicional de voluntariado está em transformação. “Julgo que é preciso pensar noutras formas para os corpos de bombeiros. Não há tanta disposição para o voluntariado”. E vai mais longe, afirmando que a mudança de paradigma social e político, com o mundo em ebulição com momentos de guerra e paz, provoca alterações na forma de pensar e pode levar os jovens a procurar novas formas de se envolverem civicamente. “Os nossos jovens terão novos modelos de voluntariado. Este modelo de associativismo para os bombeiros certamente irá mudar, possivelmente para um modelo mais profissional”, considera.
Para este mandato, Anabela Lopes traçou três pilares fundamentais: equilíbrio financeiro com contas certas, diálogo interno e externo com todos os parceiros e, ainda, dar a resposta possível e imediata às solicitações do comando. No curto prazo, o foco está nas celebrações dos 140 anos da associação, marcadas para 13 de Julho. Um momento que quer que seja vivido em comunidade. Antes disso, haverá a festa da Sardinha Assada, outro momento de mobilização popular. Questionada sobre uma eventual prenda de aniversário, brinca com a hipótese de uma surpresa da autarquia, mas sublinha que “a maior alegria seria ver as pessoas na rua a ver passar o cortejo dos carros dos bombeiros e a fanfarra”.
Quando assumiu a presidência da associação, Anabela Lopes passou do papel de cidadã para o de dirigente de uma instituição exigente e com grande exposição pública. “Tenho-me questionado: será esta a missão?”, confessa. Mas, no quotidiano, assegura que pouco mudou: “quero continuar a ser a Anabela que trabalha na Conservatória, celebra casamentos, vem diariamente aos bombeiros e tem a sua vidinha”.
Sobre a relação com entidades públicas e privadas, diz que essa será uma responsabilidade partilhada. “Trabalharemos em grupo. Não estou sozinha na direcção. E sete cabeças pensam melhor do que uma. Temos uma equipa heterogénea, com gente que arrisca, que pondera e que trava quando é preciso”, diz.

Oficial de registos que tem nos casamentos a sua paixão

Anabela Lopes é uma profissional com mais de três décadas de experiência no Instituto dos Registos e do Notariado (IRN), tendo desenvolvido um percurso em várias conservatórias do país. O seu trajecto começou em 1993, na Conservatória de Velas, na Ilha de São Jorge (Açores), passando depois por Albufeira, Salvaterra de Magos e Benavente, onde permanece a desempenhar funções nas áreas do registo predial, civil e outras competências associadas. Anabela Lopes substitui também a conservadora em Benavente. Cultiva a paixão pelo registo civil, em especial pelos casamentos, que desempenha com dedicação. Embora o seu sonho fosse estudar Direito, não teve oportunidade de frequentar a universidade, mas encontrou na sua profissão uma forma de se manter próxima do mundo jurídico.
Licenciada em Estudos Europeus pela Universidade Aberta, aprofundou os seus conhecimentos com duas pós-graduações. Em 2022 concluiu o curso em Liderança Positiva e Felicidade 5.0, no ISLA de Santarém, e no ano seguinte terminou uma pós-graduação em Desenvolvimento Organizacional e Capacitação de Equipas e Pessoas, na Universidade Católica Portuguesa.

Benavente é um lugar com qualidade de vida acima da média

Anabela Gomes Lopes nasceu a 9 de Maio de 1966, na vila de Castanheira de Pêra, distrito de Leiria. Oriunda de uma zona de pinhal altamente fustigada por incêndios, os bombeiros estiveram sempre presentes ou não fosse em criança levar água e leite aos soldados da paz.
Em trabalho passou por várias regiões do país, até se fixar em Benavente, onde vive desde 1998 e diz ter encontrado uma qualidade de vida acima da média. Não tenciona mudar-se. Divorciada, tem um filho de 29 anos e vive com a mãe, de quase 82 anos, cuja companhia considera um dos pilares da sua vida. Sendo filha única, é um desafio conciliar todos os papéis, mas não lhe fazia sentido apregoar o voluntariado e não cuidar da progenitora, algo que é também resultado dos valores que lhe foram incutidos.
É nas palavras e nas viagens que encontra parte do seu refúgio pessoal. Gosta de ler - destaca o “Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago, que releu no dia do apagão - e aprecia José Rodrigues dos Santos, pela informação jornalística que coloca nos romances. Sonha visitar os Estados Unidos, o Canadá e Israel, embora este último destino esteja em suspenso devido ao actual contexto de guerra.

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