Entrevista | 18-06-2025 12:00

Barreira Soares quer virar a política do concelho de Vila Franca de Xira do avesso

Barreira Soares quer virar a política do concelho de Vila Franca de Xira do avesso
José Barreira Soares anunciou a recandidatura à presidência da câmara de VFX - foto O MIRANTE

José Barreira Soares, 48 anos, fez história em 2021 quando conquistou, pela primeira vez, um lugar na vereação da Câmara de Vila Franca de Xira para o Chega.

Foi notícia ao longo deste mandato por vários motivos, como quando exigiu que a palavra “notável” voltasse a constar na heráldica de Vila Franca de Xira. Foi o primeiro a apresentar e a conseguir que fosse aprovado um mecanismo de controlo contra a corrupção na câmara, batalhou e continua a defender que o novo aeroporto fique situado em Alverca, tem pedido maior limpeza e higiene urbana no concelho e pugnado pela requalificação do cais dos avieiros da cidade. Também foi o maior opositor da colocação de publicidade pornográfica nas rotundas de Vila Franca de Xira, situação que levou à remoção do material. Agora, o praticante de kickboxing anuncia a recandidatura e acredita que pode ganhar. Nesta entrevista a O MIRANTE, o também deputado na Assembleia da República diz que a saúde, educação e segurança devem ser as prioridades.

É praticante de kickboxing. Veio para quebrar a convenção do politicamente correcto? Venho para resolver os problemas às pessoas. E se for preciso partir a loiça toda, parto. Precisamos de resolver os problemas das pessoas. O nosso presidente não tem poder reivindicativo, empurra os problemas com a barriga. Vila Franca de Xira (VFX) está farta de não ter os seus problemas resolvidos. E se for preciso chamar a atenção desta maneira, para mostrar ao mundo o que é preciso melhorar, então chama-se. E também se dá os parabéns quando o presidente fizer um bom trabalho. Se ele fizer um bom trabalho serei dos primeiros a elogiá-lo, até porque reconheço que é impossível chegar a todo o lado.
Explique a sua defesa da localização do aeroporto em Alverca. Acredito que o aeroporto será sempre em Alverca porque não há dinheiro para mais nada. Ou não vai haver aeroporto ou o que existir terá de ser o HUB de Alverca com a Portela. Fui o único a defender o aeroporto em Alverca, porque nós, como país, não temos dinheiro para outro. Cá estaremos para ver se efectivamente nasce em Benavente. O que dizem os especialistas, que até temos lido em O MIRANTE, provam que não há dinheiro para fazer noutro lado. A acontecer, tem de ser em Alverca. Mas vou lutar para que não seja um transtorno para as nossas gentes. Um aeroporto em Alverca é a única forma de haver um investimento capaz de mobilizar o concelho e deixar que Alverca deixe de estar sempre entupida. Teriam de fazer novos acessos. Só um cego não vê as vantagens de Alverca. O concelho nunca mais seria o mesmo, pela positiva, caso tivéssemos aqui o aeroporto. Não faz sentido atravessar o Tejo para ir apanhar um avião…
Não vive em VFX porque não conseguiu construir num terreno de que é proprietário. É por isso que é tão crítico com o Departamento de Urbanismo? É um departamento extremamente importante para o concelho evoluir. Não vivo em VFX por culpa do sistema implantado. Tenho um terreno para construir mas o Departamento de Urbanismo é de tal forma burocrático que faz com que tenha de viver noutro concelho por enquanto, porque não posso ficar eternamente à espera que me aprovem um projecto. O terreno não está blindado à construção, mas a complicação e a burocracia tem sido imensa.
Um dos seus filhos vai estudar para o estrangeiro. Foi culpa de Passos Coelho, que mandou os jovens emigrar? É culpa de todos nós. Somos todos responsáveis e não podemos deixar que um político tome decisões por nós. É importante o poder político perceber que os problemas que apresentamos não são populismos, são problemas e necessidades reais. A culpa é de todos, que não trabalhamos todos os dias para ter um país melhor, com mais dinamismo. Temos de ser mais produtivos, trabalhar mais e ter maior orgulho no que é nosso.
Como é que se envolveu na política e porquê o Chega? Nunca estive em nenhum partido e não me identificava com os que existem. Comecei a seguir o André Ventura quando ele era vereador na Câmara de Loures e um dia, quando estou com os meus filhos no largo da câmara, caiu-me uma árvore em cima. Isso aconteceu em 2017 ou 2018. Quero esquecer esse dia porque as dores eram muitas, via o osso da perna fora da carne. Lembro-me de olhar para a câmara e dizer que um dia iria correr com o presidente. Vendo em retrospectiva, é claro que o presidente não teve culpa, mas teve culpa de não se fazer manutenção. Queremos ter as coisas, fazemos coisas bonitas mas depois deixamos tudo apodrecer. As árvores, os edifícios, as escolas, os centros de saúde, qualquer obra, até um parque infantil, precisam de manutenção. Uma das minhas propostas é que, sempre que se aprove a construção de um equipamento no concelho, se acrescente logo um caderno de manutenção.
Quando foi eleito vereador foi acusado de não estudar bem os dossiês. Já aprendeu? Na altura eram medalhas que os outros vereadores me metiam ao peito. Hoje imitam-me em muito do que faço, como levar fotografias para as reuniões. Faz-lhes confusão como é que uma pessoa sem experiência política conseguiu identificar problemas quando eles passavam despercebidos. O Xira Sound Fest, por exemplo, foi uma proposta que apresentei mas que foi diminuída e agora imitada, mas muito mal imitada.
Ser militante do Chega é ser racista? Para mim existe a raça humana. Há culturas diferentes e sou defensor da minha. Dizer que há raças é que é racista.
Como se sente quando lhe chamam racista ou xenófobo? É uma ofensa estúpida que só pode vir de pessoas que não me conhecem. Não faz sentido. Sou um cidadão acima de todas essas questões do racismo e da xenofobia. Sei em que mundo vivo e não estou distraído das coisas importantes.
Muita gente identifica-o politicamente com a direita fascista. São as pessoas analfabetas. Não sou pró--ditadura, nem fascista nem salazarista. Um homem não pode tomar o destino de todos. Isso é uma parvoíce.
Como se classifica politicamente e em sociedade? Um humanista? Não sou perfeito, não sou um santo nem um anjo. E não sendo um católico daqueles de ir à igreja, tento fazer o que Jesus faria, amando o próximo e estimando as pessoas. Mas se me derem uma chapada eu não fico quieto, vou reagir. Tento fazer aos outros o que quero que me façam a mim. Não podemos pisar pessoas quando não gostamos de ser pisados.
Tem algum preconceito que o obrigue a evitar passar por certos bairros ou ruas do concelho? Não. Até porque a minha melhor votação é conquistada nos bairros degradados. Nasci no Bairro do Paraíso, um bairro de miúdos.
Uma vez que vai voltar a ser candidato em VFX se eventualmente ganhasse as eleições o que mudaria de um dia para o outro? Começava a falar com os trabalhadores porque não se faz nada sem as pessoas. Temos de chegar ao coração dos nossos trabalhadores, perceber o que precisam e agir. Precisamos de mais habitação, de remodelar as escolas e os centros de saúde, tentar aumentar a segurança nas ruas. E se o estado central não o faz temos de ser nós. Na esquadra de Alhandra chove lá dentro, as coisas estão de forma decrépita e não se deve manter as pessoas a trabalhar nessas condições. VFX tem um orçamento grande que é esbanjado em situações que não têm retorno. As paragens de autocarro, para quem diz que as pessoas devem andar mais de transportes públicos, são paus amarelos. Esperam ao sol e à chuva pelos autocarros, em sítios onde as pessoas podem ser atropeladas e junto a caixotes do lixo. Temos de melhorar a limpeza urbana, o urbanismo, turismo e mais habitação. Gostava de trazer uma universidade para o concelho.
Está por dentro do negócio da compra do Vila Franca Centro? A câmara está a gerir bem aquele imóvel que é um caso sério no centro da cidade? A câmara não pode comprar tudo. Mas que aquele mono está ali mal, está. Alguma coisa tem de ser feita. Não podemos ter o centro naquele estado. Chegámos a um ponto em que nem sabemos o que os lojistas querem. Devia perceber-se o valor que os donos querem pelas lojas, somar tudo e meter aquilo em leilão pelo valor que os donos querem.
Concorda com a venda da antiga Escola da Armada? Desde que não fique devoluto e não dê prejuízo ao concelho concordo. Gastámos oito milhões num espaço que nos devia ter sido oferecido. Esse negócio lesou os nossos interesses. Fizemos um favor ao estado central e ainda estamos a pagar por isso. Foi um péssimo investimento terem comprado aquilo e não terem ali feito nada. Ainda entendia se tivessem comprado para vender pelo triplo ou terem feito algo para a cidade, mas assim não.
Nunca se demarcou do provocante e insólito episódio das cabeças de porco na reunião de câmara. Demarquei sim, condenei, não fez o mínimo sentido. A pessoa que fez aquilo esteve ligado a nós numa certa fase, mas já não. Não gostei desse episódio. Não estava nessa sessão e perturbou-me ver aquilo. Houve falta de sensibilidade da pessoa, que não esteve à altura de quem é. Hoje pertence ao partido Ergue-te.
Concorda com a duplicação da linha de comboio em VFX e Alhandra? Não sou especialista mas teria preferido um túnel. Vejo por todo o mundo passarem comboios debaixo do mar, não percebo porque nuns casos a engenharia é capaz de fazer obras excepcionais e noutras não. Vou fazer pressão para que o impacto seja reduzido e queremos muitas contrapartidas do que for feito. Temos de ser beneficiados pelo transtorno que nos vão causar.

Barreira Soares só renuncia ao cargo de deputado se for presidente de câmara - foto O MIRANTE

Do Bairro dos Índios para a casa da democracia

José Barreira Soares, 48 anos, é de Vila Franca de Xira, casado e tem dois filhos. É licenciado em comunicação aplicada, marketing e relações públicas e publicidade. É gestor de uma empresa de produtos de segurança e remodelações. Para si, a família é o pilar da sua existência e para quem a dedicação deve ser plena. Diz tentar incutir nos filhos a tolerância e a capacidade para se poderem meter nos sapatos do outro.
“A sociedade só pode funcionar quando nos entendermos uns aos outros e nos respeitarmos. Essa educação é fundamental. Os meus filhos sempre andaram na escola pública”, refere. Para o autarca, o segredo do sucesso da comunidade é toda a gente ajudar-se mutuamente. “Nunca fui o menino certinho da turma, era muito falador mas respeitava toda a gente”, confessa.
Elege como valores principais de vida a honestidade e o cumprir da palavra dada. É benfiquista, não gosta de viajar e ao fim do dia gosta de se sentar no sofá a descansar. Não perde tempo com filmes nem tem um livro da sua vida, afirmando que hoje lê sobretudo livros técnicos que o ajudem e lhe ensinem alguma coisa. Diz que o que o motiva todos os dias a levantar-se da cama é fazer melhor do que no dia anterior. O seu primeiro mandato como vereador foi em 2021. Em 2024 foi eleito deputado à Assembleia da República pelo Chega, feito que repetiu nas legislativas deste ano.
Foi coordenador da Comissão de Poder Local e Coesão Territorial e coordenou o grupo de trabalho da criação de freguesias. Também integrou, como suplente, as comissões de educação e ciência e de inquérito à tutela política da gestão do grupo Efacec. Quando questionado sobre o que aprendeu no Parlamento, diz que a única certeza é que há deputados a mais. “Isso causa entropias e demasiada burocracia”, refere. Admite que o trabalho parlamentar “é imenso” e que é urgente reduzir as despesas públicas com políticos. “Com menos pessoas, rapidamente se chegava a mais consensos”, defende. Diz que ainda é prematuro falar do que vai fazer no Parlamento neste mandato e que uma certeza é que só renuncia ao cargo se for presidente de câmara. Se esse objectivo não for alcançado fará como até aqui, acumulando as duas funções.

Hospital VFX precisa de uma PPP

Questionado por O MIRANTE sobre os problemas e queixas dos utentes do Hospital Vila Franca de Xira, Barreira Soares diz defender a criação de uma parceria público-privada para a unidade de saúde. “Aflige-me os problemas que ali se sentem e quero que as coisas funcionem”, defende. É também crítico da Ordem dos Médicos e defende que não deve haver medo da classe política em afrontar a classe. “Temos de aumentar as vagas de medicina. Os médicos não são mais nem menos que os enfermeiros e outros especialistas”, afirma.
Nesta entrevista ao nosso jornal diz também não fazer sentido criar uma polícia municipal e elogia o trabalho de O MIRANTE na região. “Todo o trabalho da comunicação social da região é importante. O jornalismo é importante e vocês têm sido honestos em mostrar as coisas como são e a não mascarar os factos. Mostram os problemas reais das pessoas. Já vos elogiei a nível nacional, dizendo que é preciso pôr os olhos n’O MIRANTE, como jornais regionais da nossa região que são exemplos”, elogia.

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