António José Inácio: “O Forte da Casa e a Póvoa estão a ser destruídos lentamente”

António José Inácio volta a ser cabeça de lista à União de Freguesias da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa desta vez como independente na lista da coligação Nova Geração (PSD/IL. Aos 77 anos, o antigo presidente da extinta Junta do Forte da Casa que já foi do PS, promete lutar pela descentralização da gestão do ensino pré-escolar e dos centros de saúde, pelo regresso das dependências bancárias ao Forte da Casa e pela realização das festas anuais em parceria com o movimento associativo.
A bancada da AIPMF tem acusado o executivo da junta de não facultar informação nem responder a requerimentos. Pode concretizar? Nunca foi respondido, por exemplo, relativamente aos diversos processos que a junta tem em tribunal — e a junta já perdeu vários, ainda no tempo do Jorge Ribeiro. Além disso, não temos acesso às instalações da junta. Não conhecemos as instalações porque não nos deixam ver.
Entre esses processos está aquele relativo a pagamentos em atraso da antiga Junta do Forte da Casa, quando era presidente? O valor que ficou por liquidar não chegou a 200 mil euros e a informação que tenho é que a junta vai sair mal desse processo. O processo já está inflacionado em milhares de euros. A junta herdou um património de 1,8 milhões de euros, um edifício construído de raiz, com viaturas, e recusou-se a liquidar os valores em dívida. Tudo o que foi dito depois disso não é verdade. Tenho o documento com tudo explicado, que foi entregue na altura à antiga presidente Maria da Luz Rosinha. Vamos aguardar, mas é possível que este e outros processos acabem por recair sobre nós, que seremos os vencedores das eleições.
Se não ganhar, é a última vez que se candidata? Sim, mas não coloco isso na equação. As pessoas conhecem bem os nossos compromissos. No Forte da Casa ganhámos em todas as mesas de voto por maioria absoluta. Na Póvoa é diferente, mas estou convicto de que os povoenses vão perceber que a nossa candidatura, com a equipa que me acompanha e o apoio do PSD, é uma alternativa credível. Acredito que vamos ter um grande resultado.
O que o levou a candidatar-se novamente? Somos a segunda força política representada na assembleia de freguesia e todas as nossas propostas e sugestões apresentadas nestes quatro anos não foram consideradas pelo executivo PS da junta. A minha candidatura avança porque o Forte da Casa e a Póvoa de Santa Iria estão a ser abandonados e destruídos lentamente. Quanto mais tempo durar este executivo pior ficará a união de freguesias.
Costuma andar muito pelas ruas da freguesia? Moro a norte da vila do Forte da Casa e é impensável o estado do espaço público. Circulo muito no concelho, ando a pé pelas ruas e falo com muita gente. O que me dizem é que não compreendem como é possível o estado a que a vila e a cidade chegaram. Muitas pessoas enviam e-mails para a junta e não obtêm resposta. Na Póvoa, as traseiras da Rua dos Lusíadas, por exemplo, têm ervas com metro e meio e 14 árvores que tapam a visibilidade porque não foram podadas nem limpas. As pessoas estão num desespero total.
Qual seria, então, a solução para a falta de manutenção dos espaços verdes? Queremos mais descentralização. Quem me conhece e me acompanhou nos anos em que estive na Junta do Forte da Casa sabe as obras que fizemos, que mais nenhuma junta fez no concelho, em colaboração com a administração central: as piscinas, a escola EB 2,3, a junta de freguesia de raiz. Sempre a reivindicar para que as coisas acontecessem. Esperamos ser eleitos e vir a obrigar a câmara a descentralizar as verbas a que a junta tem direito.
Não perdoa o CDS por ter votado contra a desagregação da União de Freguesias na Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira? Claro que não. Uma das condições no entendimento que fizemos com o PSD foi o CDS-PP não estar nesta parceria. Isso aconteceu e chegámos a um acordo que espero que dê resultado, a bem dos 42 mil habitantes da união de freguesias.
O PSD e a Iniciativa Liberal deram-lhe carta branca ou impuseram condições? Não temos nada a ver com a Iniciativa Liberal (IL). O entendimento com o PSD foi exactamente esse. Respeitamos a IL que está na coligação. Que fique bem claro: na União de Freguesias da Póvoa e Forte da Casa o entendimento é com o PSD e com os lugares que acordámos. Pode haver dois ou três nomes da IL na lista, mas isso é da responsabilidade do PSD.
A lista está fechada. Quem o vai acompanhar? O primeiro e o segundo lugar sou eu depois a Rosa Barral. Os nomes do PSD não sabemos. Reunimos várias vezes com eles mas não perguntámos.
“Fui do PS durante cerca de 40 anos mas ninguém me expulsou”
Já integrou o PS, lidera um movimento independente e conta com o apoio do PSD. O que tem a dizer aos eleitores sobre esse percurso político? Fui do PS durante cerca de 40 anos mas ninguém me expulsou. Fui eu que pedi a demissão quando concorri como independente. No meu primeiro mandato fui convidado pelo PS, e no segundo também me lançaram desafios. O único que aceitei e aceito é o da presidência da Escola de Toureio José Falcão, convite feito pela câmara, na pessoa do antigo presidente Alberto Mesquita, por quem tenho respeito e admiração, e também do actual presidente, Fernando Paulo. Convidaram-me para me inscrever novamente no PS e eu disse que não.
Sente necessidade de provar ao PS, ou a si mesmo, que ainda merece a confiança das pessoas? Há quatro anos as sondagens indicavam que o PS estava perto de perder as eleições na união de freguesias. Sou uma pessoa extremamente reivindicativa e tenho uma boa relação com todas as instituições. Sou muito próximo de todas, inclusive do IAC, que fundei. Sou o sócio número um e continuo a participar em todas as assembleias gerais.
É a favor de empreendimentos como a urbanização Vila Rio? A Vila Rio vai trazer milhares de pessoas de um estrato social diferente, o que pode mudar o equilíbrio político tanto no concelho como na união de freguesias. Está prevista uma passagem superior que sairá na rotunda do IAC. O processo tem sido ajustado, mas quando se tornar público vai gerar polémica, porque passará muito próximo de um prédio de esquina, o que desagradará a muitos moradores. Havia alternativas, com custos diferentes, mas com menor impacto visual e urbano.
Quais são os principais compromissos da sua candidatura? Defendemos que deve ser a junta a gerir o ensino pré-escolar e queremos descentralizar a gestão dos centros de saúde da Póvoa e do Forte. A câmara comprometeu-se a realizar obras nos centros de saúde e não o fez, apesar de ter recebido verbas do Estado. Pretendemos também retomar a oficina de apoio aos reformados e pensionistas, e criar um banco de ajudas técnicas gratuito. Outra prioridade é o regresso de uma dependência bancária ao Forte da Casa. Esse processo está bem encaminhado.
Considera que o executivo da União de Freguesias, liderado por Ana Cristina Pereira, se acomodou? É dos piores executivos que encontrei nos últimos anos — pior até do que o do Jorge Ribeiro. Duvido que saibam quantos trabalhadores têm e onde andam. Há zonas onde cortam um bocado de relva e deixam os canteiros ao lado por cuidar.
Se for eleito, pretende mudar o modelo das festas anuais da Póvoa de Santa Iria e do Forte da Casa? O nosso desafio ao movimento associativo será organizar em conjunto as festas. Vamos permitir que as colectividades participem sem custos nos eventos, com tasquinhas, podendo gerar receita. É uma forma justa de valorizar o trabalho voluntário
Como está a sua saúde neste momento? De acordo com os médicos que me acompanham, está tudo a correr bem. Tive um enfarte, mas fiz uma intervenção no Hospital de Santa Marta e, ao fim de quatro dias, saí. Correu tudo muito bem.
Sente-se com energia para mais quatro anos de actividade política?
Claro, mais quatro anos para trabalhar em prol da vila do Forte da Casa e da cidade da Póvoa de Santa Iria.
Um autarca com muita experiência
António José Inácio, 77 anos, esteve duas décadas como presidente da Junta de Freguesia do Forte da Casa, onde conquistou três maiorias absolutas pelo PS até 2013. Rompeu com o partido e fundou o movimento independente António Inácio Póvoa + Forte (AIPMF), que se candidatou pela primeira vez em 2017 à União de Freguesias da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa. Nas eleições autárquicas de 2021 foi a segunda força política mais votada, tendo ficado a 689 votos do PS. Nas autárquicas deste ano volta a recandidatar-se como independente na lista da coligação Nova Geração (PSD/IL).
António José Inácio é um rosto conhecido da comunidade no concelho de Vila Franca de Xira. Foi o fundador do Instituto de Apoio à Comunidade (IAC) do Forte da Casa e é presidente da Escola de Toureio José Falcão e membro da direcção nacional da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade.