Sam Abercromby trabalha numa sala do Convento de Cristo onde tem exposição com mais de 100 quadros

No dia em que fez 39 anos, a 10 de Junho de 1986, Sam Abercromby chegou a Tomar guiado por uma série de visões. Quase 40 anos depois de uma vida dedicada à pintura, parece estar a viver o seu momento de glória ao inaugurar uma grande exposição no Convento de Cristo, onde vai ter também, nos próximos três meses, um espaço de trabalho. Os turistas podem ver a exposição e interagir com o artista.
O artista australiano Sam Abercromby trabalhou durante os últimos 12 anos sobre a figura de D. Sebastião e acaba de inaugurar no Convento de Cristo uma exposição com 112 quadros, de um total de 150, que dedicou ao tema. A exposição intitula-se “Sebastianismo Revisitado” e é um gigantesco mergulho “numa experiência visual singular, onde pintura, mito, e memória se entrelaçam”. As pinturas não são meras ilustrações do sebastianismo ou da figura de D. Sebastião mas sim “reinterpretações simbólicas de uma realidade paralela, onde se podem observar mitos clássicos, narrativas bíblicas, muitos fragmentos autobiográficos e especulações espirituais”, segundo o próprio artista assume numa apresentação do seu próprio trabalho.
Sam Abercromby vive há meio século em Portugal, em Vila do Paço, concelho de Torres Novas, e sustenta-se desde então da sua arte de pintar e esculpir. Numa entrevista a O MIRANTE, em Julho de 2007, que pode ser lida no site de O MIRANTE, o artista explica o seu percurso de vida e como se fez artista. Nos próximos três meses vai trabalhar numa das salas do Convento de Cristo onde recebe, para além dos visitantes do Convento, os seus amigos e admiradores. As obras expostas não estão à venda e, segundo Sam Abercromby, um dia deverão fazer parte de uma colecção privada ou pública, conforme o destino ditar as suas leis. Para já a grande preocupação é sobreviver do seu trabalho vendendo o seu livro e algumas obras de arte que vai produzindo. A exposição demorou cerca de três meses a montar e muitos dos motivos dos quadros foram inspirados em ideias que retirou dos livros mas também de conversas que foi tendo sobre o tema.
Questionado sobre como vai sobreviver nos próximos tempos a trabalhar sem a intenção de vender os quadros, confessa que não gosta de ficar de mãos a abanar e que sente-se o homem mais feliz do mundo por poder trabalhar no Convento de Cristo onde vai aperfeiçoar alguns quadros e trabalhar outros.
Sam Abercromby nunca teve vida fácil a trabalhar na sua arte, mas com a pandemia tudo piorou. Uma encomenda de um mural feita pela câmara de Torres Novas salvou-o da bancarrota, reconhece. Habituado a viver da sua horta biológica reconhece que já não tem capacidade para continuar a sustentar-se da terra e que basta-lhe ter comida para os seus cães, as suas galinhas e para o seu bode de estimação. Sobre a sua vida, para além da felicidade diária de passar o dia a pintar no Convento de Cristo, diz que tem um pequeno quarto para dormir a sesta e descansar a meio da tarde, e que ao final do dia regressa a casa. “Chego e vou dormir, depois acordo às quatro da manhã e começo a tomar nota das minhas ideias. Tenho uma vida abençoada, e sinto como sou acarinhado pelas pessoas, e isso é uma bênção ainda maior”, confessa.