Entrevista | 16-08-2025 21:00

Beatriz Ramos: “temos uma geração muito capacitada e muito crítica que se está a ir embora”

Beatriz Ramos: “temos uma geração muito capacitada e muito crítica que se está a ir embora”
Beatriz Ramos é uma apaixonada pelas suas raízes e candidata à Assembleia de Freguesia de Valada - foto O MIRANTE

Aos 26 anos, Beatriz Ramos divide a sua vida por uma série de actividades. Define-se como uma miúda com sangue fresco, com muita vontade de fazer. Escreve sobre famosos e vedetas da TV, é embaixadora dos territórios vinhateiros de Portugal depois de ter sido Rainha das Vindimas do Cartaxo, e há uns meses aceitou o convite para ser candidata a presidente de junta. A vida profissional é feita na zona de Lisboa, mas continua a viver na quinta da família em Porto de Muge, onde estão as raízes de que não se desliga.

Beatriz Ramos, 26 anos, diz com um sorriso que é “um bocadinho uma alma velha num corpo jovem” e confessa-nos ter dúvidas de que seja a melhor escolha para uma conversa com O MIRANTE a propósito do Dia Internacional da Juventude, que se assinala a 12 de Agosto. Um exercício de auto-apreciação que peca por defeito, porque a jovem embaixadora dos territórios vinhateiros de Portugal - título conquistado num concurso nacional, após ter sido coroada Rainha das Vindimas do Concelho do Cartaxo em representação da freguesia de Valada -, sente na pele as dificuldades e ambições de quem está no início da vida profissional e partilha objectivos com tantos outros jovens. Como ter casa própria, estabilidade laboral ou constituir família.
Além disso, Beatriz Ramos é uma jovem empenhada na comunidade, agarrada às tradições e afeiçoada às raízes, que no ano passado conseguiu envolver todas as colectividades da freguesia num grande evento solidário em Valada. Não terá sido, por isso, muito estranho o convite que lhe chegou para ser candidata à Junta de Freguesia de Valada, que a surpreendeu.
Nasceu no dia 29 de Setembro de 1998 em Lisboa, mas vive desde sempre na quinta dos pais, em Porto de Muge. Apesar de trabalhar em Paço de Arcos, na SIC, como gestora de conteúdos noticiosos sobre famosos e figuras da TV, não se vê ainda a deixar a terra natal. “Qualidade de vida é estar perto dos meus, desta tranquilidade, estar próxima das nossas gentes”, vinca. O “tumulto” da capital não lhe diz grande coisa. Mas foi lá que se formou em Cultura e Comunicação, onde estão as oportunidades de trabalho e para onde se dirige quase diariamente desde há oito anos.
A escrita é a sua forma predilecta de comunicar. Seja para escrever sobre personalidades cosmopolitas do chamado jet set, que levam uma vida de aparentes luxos e glamour, seja sobre pessoas simples com histórias de vida tocantes e dignas de ser contadas. Como a de um conterrâneo que cumpriu serviço militar na Guiné, durante a guerra colonial, e de lá regressou com stress pós-traumático que ainda perdura e afecta a vida familiar. Uma história que deu uma reportagem.
Jovem, bonita e simpática, Beatriz Ramos diz que nunca pensou dedicar-se à moda e sublinha que apenas aceitou participar no concurso Rainha das Vindimas do Cartaxo por ter uma componente ligada à história e tradições locais, a que se sente muito agarrada e que já vem de família. Oriunda de uma família que esteve ligada à agricultura e pecuária, já participou em vindimas e nos últimos anos aprendeu mais algumas coisas sobre vitivinicultura, como embaixadora dos territórios vinhateiros. Mas a agricultura nunca fez parte dos seus projectos de vida. “Desde criança que a minha brincadeira preferida era agarrar num comando e fingir ser uma pivô de televisão. Toda a minha vida foi a pensar um bocadinho nisso e aconteceu”. E até à data não teve nenhuma má experiência a lidar e escrever sobre rostos conhecidos da televisão e do mundo digital.

Quais devem ser as bandeiras, as causas da juventude hoje? Há muitas questões com que a juventude se deve preocupar. Ter um emprego não precário é uma delas. É difícil, por vezes, chegar ao mercado de trabalho e ser-se devidamente valorizado. Sem um emprego estável é difícil ter-se acesso à habitação, por exemplo.

A baixa de natalidade não devia estar entre as preocupações da juventude actual? Já pensou em ser mãe? Adorava ser mãe nova. Nasci com 15 anos de diferença dos meus irmãos, que já são quarentões. Os meus pais já têm alguma idade e gostava muito de lhes dar netos da minha parte. Isso está nos objectivos, mas não é fácil. Tenho que estabilizar a minha vida primeiro, tenho que organizar tudo para conseguir ter uma casa e ser mãe. É um desejo, é uma ambição, mas neste momento não dá. Também tenho dado prioridade a outros projectos na minha vida que, de alguma forma, se podem incompatibilizar neste momento com essa situação. Mas algum dia há-de ser.
Quais são as suas grandes ambições, para além de ser mãe?
É a carreira profissional, poder ascender. Apaixonei-me pela escrita, pela rádio, pela televisão, tenho muitos gostos nesta área da comunicação.
E em qual se sente mais à vontade?
É na escrita. É a dar voz, a conversar, a entrevistar. É, através das minhas palavras, contar a história do outro. Quero desenvolver-me e não fechar portas a novos desafios. Devemos atrever-nos.
Os seus pais aceitaram bem a sua opção de ser candidata à junta de freguesia? Sim. O meu pai alinha em todas as minhas aventuras. A minha mãe é mais ponderada. Mas está tudo bem. Quando fazemos as coisas com coração cheio e à noite nos deitamos com a consciência tranquila, isso para mim vale tudo. Quanto aos resultados, logo se vê. Na vida nunca perdemos: ou ganhamos ou aprendemos. Vou levando as coisas assim.
Nunca sentiu a tentação de emigrar? Não, nunca. Não é um objectivo, mas não sabemos o dia de amanhã. Para já, não tenho vontade de sair daqui.
Este país trata bem os jovens? Podia tratar melhor. Basta estar um bocadinho atento às notícias. Tenho muitos amigos lá fora. Temos uma geração muito capacitada, muito crítica, que se está a ir embora. É talento a que estamos a dizer adeus. No meu caso, não é algo que me puxe. Até porque há valores mais altos do que o dinheiro na minha vida.
Fala-se muito da saúde mental, nomeadamente entre os jovens. Finalmente começou a ser dada a devida atenção a essa realidade? É mais escutada, mas insuficiente. A questão da saúde mental é extremamente importante. A pressão que existe neste novo mundo digital, das redes sociais, está a começar a ser mais falada, mais trabalhada. Há mais abertura para se falar, para se ajudar. Há mais testemunhos e isso também ajuda a que a sociedade vá compreendendo melhor esta questão.
O Tejo tem tido a atenção que merece por parte do poder político? Talvez não. É um rio com tanto potencial, com tanta riqueza, como é o caso aqui na zona de Valada, e que é um pouco esquecido. Não há divulgação, não há aposta na comunicação. Não quero dizer que se pode fazer algo parecido com o que acontece no Douro, mas penso que podíamos aproveitá-lo muito melhor.
Que impacto tem o telemóvel e as redes sociais no seu quotidiano? É daquelas pessoas que está sempre agarrada? Não. Estou mais ligada porque tenho uma profissão que o exige, mas gosto mais de estar sentada à conversa, olhos nos olhos.
Os políticos são todos iguais ou essa é a justificação mais confortável para as pessoas justificarem o seu desinteresse pela política? É a justificação mais cómoda e mais fácil. É uma postura errada e não participativa, no sentido em que não vai acrescentar valor nenhum à sociedade e à política em Portugal. Nem todos os políticos são magníficos, nem todos são péssimos e nenhum é perfeito. Porque ninguém o é. Mas dão o corpo às balas e acredito que estão a lutar por algo melhor.
Devia haver mais jovens envolvidos na política? Devia. Não digo que devesse haver quotas, como há em relação ao género, porque às vezes é muito difícil despertar a juventude para iniciativas e projectos que dão muito trabalho. Mas também não devemos generalizar. Quando se experiencia, a perspectiva já é outra. Os jovens deviam atrever-se a dar esse passo e perceber que envolverem-se dessa forma também pode ser uma mais-valia para a comunidade. E serem mais críticos com quem está nos vários poderes.
O que é que pensa que pode acrescentar à política com esta sua participação eleitoral? Em primeiro lugar, sou uma apaixonada por esta terra e acho que só por isso já há aqui um ponto positivo.
Já parece uma política a falar… Não. Eu não sou política, sou só uma cidadã. É uma experiência inovadora. Além disso, tenho muita vontade. Sinto que sou uma miúda com sangue fresco, com muita vontade de fazer coisas na freguesia que acho ter mais potencial no concelho do Cartaxo. Não faço isto sozinha, sou só o primeiro rosto a aparecer.
Costuma pedir conselhos aos mais velhos? Sempre. Aliás, não sei se sou a melhor pessoa para entrevistar a propósito do Dia Internacional da Juventude, porque acho que sou um bocadinho uma alma velha num corpo jovem. Tenho uma família grande, o meu pai tem dez irmãos. Cresci com isso. Há um grande peso da família na educação que tive. Fazemos sempre por estar juntos. Tendo crescido nesse ambiente, não consigo ser alheia a tudo isso cá fora.
E que loucuras da juventude é que já cometeu? Não tenho muitas loucuras para contar (risos). Sempre fui certinha.
Nunca bebeu uns copos a mais? Já! Sou a embaixadora dos territórios vinhateiros de Portugal; Sou uma mulher do concelho do Cartaxo, capital do vinho… (risos) Não digo bebedeiras de caixão à cova, mas ficar animada, claro que sim.
E sabe apreciar vinho? Sim, tive também que aprender isso. Já consigo identificar as castas mais básicas. Isso fez tudo parte da preparação para o concurso da Rainha das Vindimas; tive que aprender um bocadinho sobre todos os vinhos do concelho do Cartaxo.

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